“Ele fica perto dos que estão desanimados e salva os que perderam a esperança”.
27 de outubro de 2019“E, na sombra das tuas asas, esconde-me dos ataques dos maus. E, quando acordar, a tua presença me encherá de alegria”.
10 de novembro de 2019
PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Espírito Santo, ensina-me a escutar,
a refletir a Palavra no encontro cotidiano,
a fecundar a vida na oração com a Bíblia.
Espírito Santo, ensina-me a escutar a Palavra
em comunidade, lendo juntos a Bíblia
para olhar a vida segundo teu Projeto.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: Lc 19.1-10
Jesus e Zaqueu
1Jesus entrou em Jericó e estava atravessando a cidade. 2Morava ali um homem rico, chamado Zaqueu, que era chefe dos cobradores de impostos. 3Ele estava tentando ver quem era Jesus, mas não podia, por causa da multidão, pois Zaqueu era muito baixo. 4Então correu adiante da multidão e subiu numa figueira brava para ver Jesus, que devia passar por ali. 5Quando Jesus chegou àquele lugar, olhou para cima e disse a Zaqueu:
— Zaqueu, desça depressa, pois hoje preciso ficar na sua casa.
6Zaqueu desceu depressa e o recebeu na sua casa, com muita alegria. 7Todos os que viram isso começaram a resmungar:
— Este homem foi se hospedar na casa de um pecador!
8Zaqueu se levantou e disse ao Senhor:
— Escute, Senhor, eu vou dar a metade dos meus bens aos pobres. E, se roubei alguém, vou devolver quatro vezes mais.
9Então Jesus disse:
— Hoje a salvação entrou nesta casa, pois este homem também é descendente de Abraão. 10Porque o Filho do Homem veio buscar e salvar quem está perdido.
1. LEITURA
Que diz o texto?
ü Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
1. Onde fica Jericó? A que distância se encontra de Jerusalém?
2. Que profissão exerce Zaqueu? Como era vista naquele tempo?
3. O que Zaqueu deseja e o que faz para consegui-lo?
4. Quando Jesus vê Zaqueu, o que lhe diz? Como Zaqueu reage e que comentário fazem as pessoas?
5. A Jesus, o que Zaqueu promete fazer daquele momento em diante?
6. O que Jesus lhe responde? Qual é a situação de Zaqueu no final do relato?
ü Algumas pistas para compreender o texto:
Mons. Damian Nannini[1]
A cena desenrola-se em Jericó, cidade que Jesus está atravessando a caminho de Jerusalém. Jericó foi a porta de entrada dos israelitas para a terra prometida, saídos do Egito e conduzidos, então, por Josué (cf. Js 6.1-21). É uma espécie de oásis antes de se percorrerem os últimos 25 quilômetros do desértico caminho que sobe a Jerusalém.
Depois de nomear Jesus, a narrativa apresenta-nos a seguir outra personagem central, mencionando-lhe o nome: Zaqueu; sua profissão: chefe dos cobradores de impostos, e seu status social: rico. Já vimos, no domingo passado, a conotação moral negativa desta profissão de publicano, com o agravante, agora, de que se trata do chefe deles. O próprio relato confirma-o com a avaliação das pessoas no v. 7: “…foi se hospedar na casa de um pecador!”.
No entanto, para além de sua condição de pecador-rico, Zaqueu procura ver Jesus. O texto não especifica se se trata de mera curiosidade ou de algo mais profundo. Indica apenas que sua decisão era firme, pois como a multidão o impedia por ser ele de baixa estatura, não hesita em adiantar-se e subir a uma árvore para poder vê-lo. O surpreendente é que quando Jesus para por ali, olha para cima, chama-o por seu nome e pede-lhe que desça depressa. O motivo desta ordem é que Jesus quer alojar-se, ficar “hoje” em sua casa.
Zaqueu responde com prontidão e o recebe com alegria. A reação das pessoas é a murmuração, dirigida a Jesus por ir alojar-se na casa de um pecador. Portanto, a opinião desfavorável das pessoas em relação a Zaqueu – o pecador – agora estende-se, de certo modo, ao próprio Jesus.
Zaqueu manifesta sua intenção de compartilhar seus bens com os pobres e de fazer reparação concreta pelo mal cometido: dará até mesmo a metade de seus bens aos pobres e compensará aos que houver prejudicado. Trata-se de uma declaração solene, feita diante do Senhor e também perante a comunidade presente. Observemos que agora ele se dirige a Jesus chamando-o “Senhor”, título cristológico com sentido forte, que implica já uma confissão de fé. Sem dúvida, algo mudou nele, converteu-se, foi transformado pelo encontro com Jesus, o Senhor. E sua conversão tem uma verdadeira dimensão social, porquanto muda sua relação com os demais.
A frase final de Jesus é a conclusão teológica de todo o relato e, segundo alguns, expressa a essência mesma do evangelho de Lucas. Com Jesus, chega a salvação do homem, neste caso, de um israelita que recupera sua dignidade filho de Abraão que havia perdido. E esta é a missão de Jesus, que manifesta a vontade do Pai: buscar e salvar o perdido.
O que o Senhor me diz no texto?
Com o evangelho deste domingo, chegamos à última etapa do caminho de Jesus para Jerusalém. Se fizermos um balanço deste percurso, fica-nos evidente que Jesus caminha buscando o encontro com as pessoas, especialmente com os considerados distantes de Deus, os publicanos, os enfermos (leprosos), a fim de oferecer-lhes a misericórdia e a salvação de Deus. Justamente o encontro de Jesus com Zaqueu é um claro exemplo do que o Senhor quer e pode fazer em toda pessoa que o “recebe em sua casa”, em sua vida.
O encontro pessoal com Jesus é um encontro salvífico que torna presente, hoje, na vida de quem o recebe, a salvação de Deus. Jesus encarna a salvação de Deus, fá-la presente e operante, é o Salvador prometido e esperado por Israel (cf. Lc 1.68-71). Neste sentido, o relato de Zaqueu nos ensina que no agir de Jesus é Deus mesmo quem está buscando a ovelha extraviada (cf. Ez 34) para oferecer-lhe a salvação, que se alcança reconhecendo em Jesus o Senhor.
O encontro pessoal com Jesus é um encontro que resgata o homem, devolve-lhe a dignidade de filho de Deus perdida. E como bem observava João Paulo II, esse homem, “sentindo-se tratado por ‘filho’, começa a pensar e comportar-se como um filho, e demonstra-o redescobrindo os irmãos. Sob o olhar amoroso de Cristo, o seu coração abre-se ao amor do próximo. Duma posição de insensibilidade, que o levara a enriquecer sem se importar com o sofrimento alheio, Zaqueu passa a uma atitude de partilha, que se traduz numa verdadeira ‘divisão; do seu património: a ‘metade dos bens’ para os pobres” (Carta aos sacerdotes, Quinta-Feira Santa de 2002).
Esta saída do egoísmo, este abrir-se ao amor de Deus e do próximo é o grande fruto do encontro com Cristo que opera esta salvação no coração do homem. É a salvação que Jesus vai semeando por seu caminho entre os homens, também hoje, em minha vida, em nossa vida.
E esta pedagogia de Jesus deve ser também a nossa no momento de sermos testemunhas e missionários. A este respeito, disse o Papa Francisco no Angelus de 30 de outubro de 2016: “Por vezes, procuramos corrigir ou converter um pecador repreendendo-o, criticando os seus erros e o seu comportamento injusto. A atitude de Jesus com Zaqueu indica-nos outro caminho: o de mostrar a quem erra o seu valor, aquele valor que Deus continua a ver não obstante tudo, apesar de todas as nossas faltas. Isto pode provocar uma surpresa positiva, que enternece o coração e impele a pessoa a tirar o bem que tem dentro de si. É dando confiança às pessoas que as fazemos crescer e mudar. É assim que Deus se comporta com todos nós: não está bloqueado pelo nosso pecado, mas supera-o com o amor e faz-nos sentir a nostalgia do bem. Todos sentimos esta nostalgia do bem depois de um erro. E assim faz o nosso Deus Pai, assim faz Jesus. Não existe uma pessoa que não tenha algo de bom. E Deus olha para isto, para o tirar do mal”.
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
1. Já tive algum encontro pessoal com Jesus?
2. De quem foi a iniciativa deste encontro?
3. Que frutos teve este encontro com o Senhor Jesus?
4. Meu coração abriu-se à ternura do Pai e para uma atitude solidária e responsável para com meu próximo?
5. Que atitudes e que palavras tenho para os que estão distantes de Deus?
O que respondo ao Senhor que me fala no texto?
Obrigado, Jesus, por me buscares.
Que sempre tenhas a iniciativa para encontrar-nos
e que eu sabia receber-te.
Que não me empenhe em apontar o erro de meus irmãos,
mas, como tu, que eu saiba renovar a confiança neles
e me anime a dar-lhes novas oportunidades.
Quero hospedar-te outra vez em minha casa.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, quero que te hospedes em minha casa”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, proponho-me ajudar os pobres, e se prejudiquei alguém, aproximar-me-ei de tal pessoa para reconhecer meu erro e devolver-lhe o que lhe pertence.
“Queres a salvação? Faze como Zaqueu: começa agora mesmo e, assim, não será tarde demais”.
São Francisco de Sales
[1] Dom Damián Nannini é bispo da Diocese de San Miguel (Argentina); licenciado em Sagrada Escritura pelo Pontifício Instituto Bíblico de Roma.