A graça de Deus (Jo 6,44-51)
8 de maio de 2014Tu tens palavras de vida eterna (Jo 6,60-69)
10 de maio de 2014Saulo só respirava ameaças e morte contra os discípulos do Senhor. Ele apresentou-se ao Sumo sacerdote e pediu-lhe cartas de recomendação para as sinagogas de Damasco, a fim de levar presos para Jerusalém os homens e mulheres que encontrasse seguindo o Caminho. Durante a viagem, quando já estava perto de Damasco, Saulo, de repente, viu-se cercado por uma luz que vinha do céu. Caindo por terra, ele ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, por que me persegues?”
Saulo perguntou: “Quem és tu, Senhor?” A voz respondeu: “Eu sou Jesus, a quem tu estás perseguindo. Agora, levanta-te, entra na cidade, e ali te será dito o que deves fazer”. Os homens que acompanhavam Saulo ficaram mudos de espanto, porque ouviam a voz, mas não viam ninguém. Saulo levantou-se do chão e abriu os olhos, mas não conseguia ver nada. Então pegaram nele pela mão e levaram-no para Damasco. Saulo ficou três dias sem poder ver. E não comeu nem bebeu.
Em Damasco, havia um discípulo chamado Ananias. O Senhor o chamou numa visão: “Ananias!” E Ananias respondeu: “Aqui estou, Senhor!” O Senhor lhe disse: “Levanta-te, vai à rua que se chama Direita e procura, na casa de Judas, por um homem de Tarso chamado Saulo. Ele está rezando”. E numa visão, Saulo contemplou um homem chamado Ananias, entrando e impondo-lhe as mãos para que recuperasse a vista. Ananias respondeu: “Senhor, já ouvi muitos falarem desse homem e do mal que fez aos teus fiéis que estão em Jerusalém. E aqui em Damasco ele tem plenos poderes, recebidos dos sumos sacerdotes, para prender todos os que invocam o teu nome”.
Mas o Senhor disse a Ananias: “Vai, porque esse homem é um instrumento que escolhi para anunciar o meu nome aos pagãos, aos reis e ao povo de Israel. Eu vou mostrar-lhe quanto ele deve sofrer por minha causa”. Então Ananias saiu, entrou na casa, e impôs as mãos sobre Saulo, dizendo: “Saulo, meu irmão, o Senhor Jesus, que te apareceu quando vinhas no caminho, ele me mandou aqui para que tu recuperes a vista e fiques cheio do Espírito Santo”.
Imediatamente caíram dos olhos de Saulo como que escamas e ele recuperou a vista. Em seguida, Saulo levantou-se e foi batizado. Tendo tomado alimento, sentiu-se reconfortado. Saulo passou alguns dias com os discípulos de Damasco, e logo começou a pregar nas sinagogas, afirmando que Jesus é o Filho de Deus.
Esta semana, em que viemos seguindo o capítulo 6 do evangelho segundo João, no qual Jesus, após multiplicar os pães e peixes, se desdobra para explicar a todos que Ele é o pão vivo que desceu do céu para dar vida ao mundo, também temos acompanhado a história de Saulo, que perseguia, implacavelmente, os primeiros cristãos. Uma experiência que culmina com sua fantástica e radical conversão, de perseguidor implacável se torna um apóstolo incansável.
Na minha oração de hoje, gostaria de fazer um paralelo entre os trechos retirados do evangelho segundo João e os trechos retirados dos Atos dos Apóstolos.
No trecho de Atos, que narra o martírio de Estêvão, impressiona-me a contraposição da crueldade com a grandeza do perdão: “As testemunhas deixaram suas vestes aos pés de um jovem, chamado Saulo. Enquanto o apedrejavam, Estêvão clamou dizendo: ‘Senhor Jesus, acolhe o meu espírito’. Dobrando os joelhos, gritou com voz forte: ‘Senhor, não os condenes por este pecado’. E, ao dizer isso, morreu. Saulo era um dos que aprovavam a execução de Estêvão.” (At 7,58b-8,1a).
Penso que essa cena ficou gravada para sempre na mente de Saulo. Ela foi a semente que serviu aos propósitos de Deus.
Na minha oração, algo me diz que Saulo, a cada prisioneiro que fazia, a cada execução que comandava, revia a cena de Estêvão pedindo a Jesus que perdoasse aos seus assassinos.
Quantas outras cenas parecidas Saulo deve ter presenciado? Não sabemos, não há relatos.
Contudo, parece-me, que esta luz que vem do perdão, expressão maior de quem recebe e vive a paz de Cristo, foi abrindo caminho para o coração de Saulo, até que, na viagem para Damasco, ela concluiu seu percurso.
Além deste testemunho de Estêvão, também percebemos, no trecho de Atos da leitura de hoje, o desprendimento e confiança de Ananias.
Saulo não era flor que se cheirasse, perseguidor implacável dos cristãos, porém Ananias ouve a voz do Espírito e vai até Saulo. Confia que o Senhor vai operar por meio dele. Aceita o chamado, mesmo com todos os riscos que nele havia.
Por outro lado, embora possa nos escandalizar toda a crueldade de Saulo, podemos perceber que, ao se deixar tocar pelos sinais de uma outra realidade, da realidade do amor, do perdão e da paz, ele admite sua queda, sua cegueira e se torna humilde para rezar e aguardar que Deus o auxilie na cura de tudo isto.
Além da própria eucaristia, quando comemos e bebemos o sangue de Jesus sacramentado na hóstia santa, acredito que, em certo aspecto, podemos também entender o “comer a carne de Cristo” como sendo esta experiência que se vivencia na vida das pessoas. A fé em Jesus Cristo não se resume a uma tese intelectual, antes porém, ela é traduzida e verdadeiramente vivida nas experiências humanas.
Assim, minha oração me leva a perceber que nós somos chamados a continuar a entregar a carne de Cristo para dar vida ao mundo, quando, em nossa própria carne, podemos fazer a experiência da vida cristã, formando o corpo místico de Cristo. Este corpo místico continua sendo um sinal visível da presença dele no mundo e pela força do Espírito Santo alimenta a muitos e possibilita conversões como as de Saulo.
Diante de tudo isso, vamos agradecer a Deus a existência de tantas pessoas que se tornaram sementes, fermento na massa, luzes para o mundo, e permitiram, na sua liberdade, ser instrumento de realização do amor e da construção do reino.
Podemos, também, verificar nosso comportamento nas situações mais dramáticas e, em face da serenidade, coragem e força de Estêvão, perceber o que o Espírito Santo tem para nos dizer, nos ensinar. Nessas situações, temos conseguido perseverar no amor, mantendo a paz e oferecendo o perdão?
O que o desprendimento e confiança que moveu Ananias ao encontro de Saulo pode nos dizer? Quando temos conseguido manter esta confiança e quando não conseguimos? O que o Espírito nos diz sobre isso?
E quando percebo que estou no caminho errado, que não consigo entender, mas parece que o outro tem razão? Como temos agido? O que a conversão de Saulo tem para nos ensinar? O que o Espírito sopra no nosso coração?
Que nossa mãezinha Maria, humilde serva, possa nos acompanhar em nossa oração, ajudando-nos a meditar no coração todas essas coisas. Amém!
João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte – MG