Solenidade da Santíssima Trindade – Ano C
22 de maio de 2016“Receberá cem vezes mais…”
24 de maio de 2016Leitura: Marcos 10, 17-27
Quando Jesus estava saindo de viagem, um homem veio correndo, ajoelhou-se na frente dele e perguntou:
— Bom Mestre, o que devo fazer para conseguir a vida eterna?
Jesus respondeu:
— Por que você me chama de bom? Só Deus é bom, e mais ninguém. Você conhece os mandamentos: “Não mate, não cometa adultério, não roube, não dê falso testemunho contra ninguém, não tire nada dos outros, respeite o seu pai e a sua mãe.”
— Mestre, desde criança eu tenho obedecido a todos esses mandamentos! — respondeu o homem.
Jesus olhou para ele com amor e disse:
— Falta mais uma coisa para você fazer: vá, venda tudo o que tem e dê o dinheiro aos pobres e assim você terá riquezas no céu. Depois venha e me siga.
Quando o homem ouviu isso, fechou a cara; e, porque era muito rico, foi embora triste. Jesus então olhou para os seus discípulos, que estavam em volta dele, e disse:
— Como é difícil os ricos entrarem no Reino de Deus!
Quando ouviram isso, os discípulos ficaram espantados, mas Jesus continuou:
— Meus filhos, como é difícil entrar no Reino de Deus! É mais difícil um rico entrar no Reino de Deus do que um camelo passar pelo fundo de uma agulha.
Quando ouviram isso, os discípulos ficaram espantadíssimos e perguntavam uns aos outros:
— Então, quem é que pode se salvar?
Jesus olhou para eles e disse:
— Para os seres humanos isso não é possível; mas, para Deus, é. Pois, para Deus, tudo é possível.
Oração:
O encontro narrado por Marcos hoje não passou despercebido por outros evangelistas (Mt 19, 16-30 e Lc 18, 18-30). A busca de um jovem e a resposta de Jesus, desconcertante, mexeram com os que seguiam Jesus de perto. Mexeram com eles porque entenderam que, mesmo caminhando ao lado de Jesus, talvez não o estivessem seguindo de fato. E isso também nós talvez façamos em vários trechos de nossa caminhada de fé: caminhar ao lado, mas não seguir.
Como, então, experimentar a vida eterna, essa vida sem limites que o jovem buscava e que é um jeito de expressar a vida que também nós, ora mais, ora menos conscientes, queremos experimentar?
Pode-se dizer que o evangelista, pela narrativa, expõe os três passos para essa vida.
Jesus começa a conversa pelos mandamentos. “Não matarás, não roubarás, não darás falsos testemunhos…” Quando o jovem diz que já a tudo isso obedecia, Jesus tem o espaço perfeito para contar ao jovem que isso ainda não é suficiente para que ele viva a vida que busca. No fundo, Jesus está dizendo que ao Pai não interessa que seus filhos sigam uma lista de proibições ou ordens. Sim, é importante viver numa sociedade em que não se mate, em que não se roube, em que não se minta – e nem a esse ponto conseguimos chegar tantas vezes! Mas não é isso ainda a vida plena (Jo 10, 10).
Jesus continua a instrução: “vá, venda tudo o que tem e dê o dinheiro aos pobres”. O segundo passo para a Vida é esvaziar-se e fazer o bem. O Pai, pelo que Jesus dá a entender, não se dá a conhecer àqueles que apenas se contentam em cumprir um código negativo – não matarás, não roubarás… O Pai instiga seus filhos a agir de verdade: dar de comer a quem tem fome, vestir o nu, visitar o doente e o preso, saciar o sedento (Mt 25, 35-36).
Abster-se da maldade, da desonestidade e do desrespeito e, além disso, partilhar o que se tem, ajudar o necessitado e tentar imitar a misericórdia do Pai ainda não alcançam a inteireza do que Jesus sugere. Talvez os dois primeiros degraus descrevam uma sociedade onde reina a justiça e a paz, mas Jesus parece não atrelar a Vida abundante a isso somente.
Ele continua: “Depois, venha e me siga”. O terceiro e último degrau parece ser aquele que Jesus deseja que todos pisem, e é um que não se pode pisar sem subir os dois degraus anteriores. Que degrau é esse? É aquele que Jesus sempre pisava ao longo da vida: o degrau da convivência com o Pai, da conversa íntima, silenciosa, no escondido (Lc 6, 12-13; Lc 11, 1-2…). Isso parece ser a real resposta de Jesus à pergunta do jovem: “que faço para conseguir a vida eterna?”. O cumprimento dos mandamentos, as obras de misericórdia, o desapego… tudo é caminho para que o desejo de Jesus, de que sejamos um com Ele e o Pai (Jo 17, 21), se realize, pois isso é a vida eterna.
Nossa oração aumente em nós o desejo dessa comunhão estreita com a Trindade e nos dê a força para subir os degraus que nos levam até essa união!
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte