Não tenhais medo (Lc 12,1-7)
20 de outubro de 2017A alegria em compartilhar
23 de outubro de 2017PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Escuta-nos, Espírito Santo,
Tu que és nosso amigo.
Tu que está sempre perto de nós,
enche nossos corações com teu amor.
Agradecemos-te, ó Pai, porque
quando Jesus voltou para ti,
enviaste-nos o Espírito Santo
para que ocupasse seu lugar.
Mesmo que o não possamos ver,
sabemos que está agindo no mundo,
em tudo o que é bom e santo,
e em nossas vidas para que cumpramos tua vontade.
Envia-nos o Espírito Santo, te pedimos,
para que modele nossas vidas
e nos guie sempre.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: Mt 22.15-22
A pergunta sobre os impostos
Marcos 12.13-17; Lucas 20.20-26
15Os fariseus saíram e fizeram um plano para conseguir alguma prova contra Jesus.16Então mandaram que alguns dos seus seguidores e alguns membros do partido de Herodes fossem dizer a Jesus:
— Mestre, sabemos que o senhor é honesto, ensina a verdade sobre a maneira de viver que Deus exige e não se importa com a opinião dos outros, nem julga pela aparência. 17Então o que o senhor acha: é ou não é contra a nossa Lei pagar impostos ao Imperador romano?
18Mas Jesus percebeu a malícia deles e respondeu:
— Hipócritas! Por que é que vocês estão procurando uma prova contra mim? 19Tragam a moeda com que se paga o imposto!
Trouxeram a moeda, 20e ele perguntou:
— De quem são o nome e a cara que estão gravados nesta moeda?
21Eles responderam:
— São do Imperador.
Então Jesus disse:
— Deem ao Imperador o que é do Imperador e deem a Deus o que é de Deus.
22Eles ficaram admirados quando ouviram isso. Então deixaram Jesus e foram embora.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
Quem fez um plano para conseguir alguma prova contra Jesus? De que forma lisonjeiam Jesus? O que Jesus percebe neles e como os chama? De que maneira lhes responde? Que lição lhes dá, deixando-os admirados?
Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini
O evangelho adverte-nos da intenção dos fariseus quando propõem a Jesus uma questão: “Os fariseus saíram e fizeram um plano para conseguir alguma prova contra Jesus” (Mt 22.15). Em seguida, a acrescenta que para concretizar isso, “mandaram [que] alguns dos seus seguidores e alguns membros do partido de Herodes”. Este último dado é importante porque os partidários da dinastia de Herodes Antipas, portanto, defendiam a cobrança de impostos para eles. Primeiro têm a palavra os fariseus, que começam com uma longa introdução, louvando as atitudes de Jesus como mestre, o que bem poderia obedecer às normas da retórica daquele tempo, mas que, conhecendo-lhes a verdadeira intenção, soa a falsidade ou a adulação interessada. Em seguida, imediatamente vão ao cerne da questão: “É ou não é contra a nossa Lei pagar impostos ao Imperador romano?” Esta pergunta era enganosa porque se Jesus, de um lado, respondesse afirmativamente, estaria dando seu apoio ou seu reconhecimento à dominação romana e, com isso, colocar-se-ia contra a maioria do povo judeu que a rejeitava. De fato, o pagamento de impostos era um claro sinal de sujeição ao poder dominante. De outro lado, se respondesse negativamente, poderia ser acusado de adversário do governo e ser condenado como indisciplinado ou revolucionário. Com efeito, no processo diante de Pilatos, acusam-no exatamente disto: “Pegamos este homem tentando fazer o nosso povo se revoltar, dizendo a eles que não pagassem impostos ao Imperador” (Lc 23.2).
Jesus responde revelando primeiramente a intenção maliciosa dos que perguntam, indicando que se trata de uma tentação (utiliza-se o mesmo verbo que designa as tentações diabólicas em Mt 4.1,3). A seguir, pede que lhe mostrem uma moeda de imposto, um denário romano, que trazia gravada a imagem do imperador Tibério com a inscrição “Ti(berius) Caesar Divi Aug(usti) F(ilius) Augustus” (Tibério César Augusto, filho do Divino Augusto) e, no verso, “Pontif(ex) Maxim(us) (Pontífice máximo). Então diz sua conhecida exata resposta: “Deem ao Imperador o que é do Imperador e deem a Deus o que é de Deus” (Mt 22.21).
A primeira parte da resposta – “Deem ao Imperador o que é do Imperador” – aparece antes de mais nada como uma constatação de fato: vocês têm uma moeda que traz a imagem do Imperador: devolvam-na a ele, paguem o imposto, visto que vocês possuem uma moeda do imposto. Portanto, ao Imperador pertence seu “denário”, pois era a moeda fiscal e o símbolo do poder político e administrativo. Não podemos dizer que Jesus, com esta frase, esteja afiançando a dominação romana sobre Israel. Tampouco parece que se deva interpretar esta afirmação como uma fundamentação teológica do dever cidadão de pagar impostos.
O clímax da narrativa está no segundo membro da resposta: “Deem a Deus o que é de Deus”. Apesar de Jesus não especificar “o que é de Deus”, a tradição bíblica é clara ao reconhecer a Deus como Senhor de todo o mundo: das pessoas, dos reis e dos reinos. Inclusive poderíamos vincular este texto a Gn 1.26, onde se afirma que o homem e a mulher são “imagem” de Deus (a versão grega serve-se do mesmo termo – eikon, imagem –, como aqui). Portanto, se o homem e a mulher são e têm a imagem de Deus, a Deus pertencem e a Deus se devem. Ademais, um pouco mais adiante, no contexto dessas disputas com saduceus e fariseus, Jesus recordará qual é o mandamento principal: “Ame o Senhor, seu Deus, com todo o coração, com toda a alma e com toda a mente” (Mt 22.37). Deste modo, Jesus coloca o amor/obediência a Deus como o dever fundamental de todo homem e do homem todo. Em síntese, a resposta final completa de Jesus não justifica uma separação total entre duas ordens ou poderes: o material ou civil e o espiritual ou religioso. Ao contrário, trata-se antes da afirmação do senhorio universal e absoluto de Deus, diante do qual o pagamento do imposto aparece como algo relativo ou acidental.
Diante desta resposta de Jesus, tão profunda e tão inteligente, seus adversários retiram-se admirados, até à próxima discussão.
O que o Senhor me diz no texto?
O evangelho de hoje convida-nos a refletir sobre o senhorio de Deus e seu primado em nossas vidas. O profeta Isaías afirma, sem dissimulações, que Deus é o Senhor da história, para além das vicissitudes políticas do momento. Sem dúvida, seu agir é misterioso, mas a fé sabe reconhecer e esperar sua passagem pela história e por nossa vida.
De modo semelhante, Jesus lembra aos fariseus e herodianos a primazia de Deus na vida do homem. A licitude do pagamento do imposto a um poder dominante ilegítimo é um tema delicado e intrincado. Jesus não resolve em profundidade o dilema, visto que lhe foi proposto com uma intenção capciosa, maliciosa. Embora reconheça o direito do imperador de cunhar suas próprias moedas, afirma antes de mais nada o direito de Deus sobre todas as coisas, seu senhorio universal. É o que lhe corresponde como Deus, Criador e Senhor de tudo.
Não parece artificial insistir sobre isto em tempos de secularismo e relativismo. Contudo, antes de lançar nossas críticas à cultura e ao mundo atuais, talvez seja oportuno começar por casa. Porque há sinais que revelam um dissimulado esquecimento da primazia de Deus na vida dos cristãos. Bastem como amostra a perda do sentido do domingo como dia do Senhor; a perda do sentido transcendente da liturgia; a desvalorização da contemplação; a supervalorização dos meios em detrimento do fim último do homem. Não estamos isentos da tentação da autorreferência ou do narcisismo que colocam nosso eu no centro de nosso agir, inclusive ministerial. É bastante real a tentação de cair na “mundanidade espiritual” de que falava o Cardeal de Lubac em suas meditações sobre a Igreja. Segundo ele, a mundanidade espiritual “constitui o maior perigo, a tentação mais pérfida, a que sempre renasce – insidiosamente – quando todas as demais foram vencidas e recobra novo vigor com estas mesmas vitórias”. E a define assim: “Aquilo que praticamente se apresenta como um desprendimento de outra mundanidade, mas cujo ideal moral, e mesmo espiritual, seria, em lugar da glória do Senhor, o homem e seu aperfeiçoamento. A mundanidade espiritual outra coisa não é senão uma atitude radicalmente antropocêntrica…”.
Penso que a algo parecido se referia o Papa Bento XVI em seu audaz discurso aos católicos alemães comprometidos: “E por isso [a Igreja] deve abrir-se incessantemente às inquietações do mundo, do qual ela mesma faz parte, e dedicar-se a elas sem reservas, para continuar a fazer presente a permuta sagrada que teve início com a Encarnação. Entretanto, no desenvolvimento histórico da Igreja manifesta-se também uma tendência contrária, ou seja, a de uma Igreja satisfeita consigo mesma, que se acomoda neste mundo, que é autossuficiente e se adapta aos critérios do mundo. Assim não é raro dar à organização e à institucionalização uma importância maior do que dá ao seu chamamento a permanecer aberta a Deus e a abrir o mundo ao próximo. Para corresponder à sua verdadeira tarefa, a Igreja deve esforçar-se sem cessar por distanciar-se desta sua secularização e tornar-se novamente aberta para Deus. Assim fazendo, segue as palavras de Jesus: ‘Eles não são do mundo, como também Eu não sou do mundo’ (Jo 17.16)
“Em certo sentido, a história vem em ajuda da Igreja com as diversas épocas de secularização, que contribuíram de modo essencial para a sua purificação e reforma interior. De fato, as secularizações – sejam elas a expropriação de bens da Igreja, o cancelamento de privilégios, ou coisas semelhantes – sempre significaram uma profunda libertação da Igreja de formas de mundanidade: despoja-se, por assim dizer, da sua riqueza terrena e volta a abraçar plenamente a sua pobreza terrena. […]
“Liberta dos fardos e dos privilégios materiais e políticos, a Igreja pode dedicar-se melhor e de modo verdadeiramente cristão ao mundo inteiro, pode estar verdadeiramente aberta ao mundo. Pode de novo viver, com mais agilidade, a sua vocação ao ministério da adoração de Deus e ao serviço do próximo. A tarefa missionária, que está ligada à adoração cristã e deveria determinar a estrutura da Igreja, torna-se visível mais claramente.”
Concluindo, e para além do tema das relações entre a Igreja e o Estado, as leituras convidam-nos a uma confissão de fé no senhorio de Deus na história e em nossas vidas. Cremos que Deus continua agindo na história em favor de seu povo. Este ato de fé – às vezes difícil diante da realidade que se apresenta a nossos olhos – é necessário e libertador. Sim, a adoração de Jesus com nosso Deus e Senhor é o que nos liberta, como Igreja e como mundo, das idolatrias do poder, do ter e do prazer. E nos permite continuar a esperar…
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
O que faço para que, diariamente, Deus seja o primeiro e o mais importante em minha vida? Como vivo a vida dando a Deus o que é de Deus e ao mundo o que lhe corresponde? Participo como cidadão das iniciativas estatais, sociais, desportivas ou culturais? O que penso a esse respeito?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Toma, Senhor, e recebe
toda a minha liberdade,
minha memória,
meu entendimento
e toda a minha vontade;
todo o meu ter e possuir.
Tu o deste a mim,
a ti, Senhor, o devolvo.
Tudo é teu:
dispõe de acordo com tua vontade.
Dá-me teu amor e tua graça,
pois elas me bastam. Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Ó Deus, quero viver dando-te o que deves receber”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Cada noite, ao planejar o dia seguinte, faço uma lista das coisas que farei para agradar a Deus, à parte aquelas que devo fazer como minhas responsabilidades sociais e temporais.
“… contudo, o homem, todo ser vivo, traz em si mesmo outra imagem, a de Deus e, portanto, a ele cada um deve sua existência.”
Bento XVI