“Entre vocês, o mais importante é aquele que serve”
23 de fevereiro de 2016A herança com o Herdeiro (Mateus 21, 33-46)
26 de fevereiro de 2016Leitura: Mateus 20, 17-28
Quando Jesus estava subindo para Jerusalém, chamou os discípulos para um lado e falou com eles em particular, enquanto caminhavam. Ele disse:
— Escutem! Nós estamos indo para Jerusalém, onde o Filho do Homem será entregue aos chefes dos sacerdotes e aos mestres da Lei. Eles o condenarão à morte e o entregarão aos não judeus. Estes vão zombar dele, bater nele e crucificá-lo; mas no terceiro dia ele será ressuscitado.
Então a mãe dos filhos de Zebedeu chegou com os seus filhos perto de Jesus, curvou-se e pediu a ele um favor.
— O que é que você quer? — perguntou Jesus.
Ela respondeu:
— Prometa que, quando o senhor se tornar Rei, estes meus dois filhos sentarão à sua direita e à sua esquerda.
Jesus disse aos dois filhos dela:
— Vocês não sabem o que estão pedindo. Por acaso vocês podem beber o cálice que eu vou beber?
— Podemos! — responderam eles.
Então Jesus disse:
— De fato, vocês beberão o cálice que eu vou beber, mas eu não tenho o direito de escolher quem vai sentar à minha direita e à minha esquerda. Pois foi o meu Pai quem preparou esses lugares e ele os dará a quem quiser.
Quando os outros dez discípulos ouviram isso, ficaram zangados com os dois irmãos. Então Jesus chamou todos para perto de si e disse:
— Como vocês sabem, os governadores dos povos pagãos têm autoridade sobre eles, e os poderosos mandam neles. Mas entre vocês não pode ser assim. Pelo contrário, quem quiser ser importante, que sirva os outros, e quem quiser ser o primeiro, que seja o escravo de vocês. Porque até o Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida para salvar muita gente.
Oração:
Há um tipo de descompasso na conversa do evangelho de hoje. Jesus está prevendo sua morte, dizendo que será pego, maltratado e crucificado pelos romanos a mando dos judeus. Ressucitará, é verdade, mas, pela forma como será tratado, vê-se que seu reino realmente não é nos moldes desse mundo (Jo 18, 36). Mesmo assim, de tanto ouvir Jesus falando de um reino, a mãe de dois discípulos se aproxima e pede que seus filhos tenham lugar de destaque em seu reino. Ela quer o melhor para seus filhos, intui que o melhor é que estejam ao lado do mestre, mas ainda não compreende que aquele reino não é de tronos.
Hoje somos convidados a ver nosso caminho espiritual e perceber também os nossos descompassos. Muitas de nossas conversas com Deus são como o diálogo de Jesus com a mãe dos discípulos. Assim como ela, ouvimos a voz de Deus, mas não lhe apreendemos o sentido completo. Pedimos o que não queremos, deixamos de pedir o que deveríamos, entendemos conforme gostaríamos e fechamos os ouvidos para o que nos afronta… O Pai, assim como o Filho, leva a conversa adiante. Ao longo da vida, vai nos perguntando, na oração e por meio dos acontecimentos: você sabe o que está pedindo? Sabe o que quer? Tem consciência do que lhe traz felicidade? Conhece-me? Quer conhecer-me? Está disposto a um reino que é semente de mostarda (13, 31), fermento na massa (Mt 13, 33), tesouro escondido (Mt 13, 44)? Um reino sem tronos, cheio de trabalho e com poucos trabalhadores (Lc 10, 2)… Quer?
O evangelho de hoje é um convite à contemplação das conversas engraçadas que temos com Deus. Um convite a olhar com esperança para tantos papos desencontrados, pois, no fundo, está sempre a certeza de que sua Palavra frutifica em nossa vida (Is 55, 11). Um convite a olhar com gratidão para a paciência do Pai, que lança a semente a qualquer solo que lhe ofertamos (Mt 13, 3-9) e dá tempo ao tempo (Mt 13, 24-30). Um convite a contemplar, com alegria, o empenho d’Ele na relação de amizade. Um convite a admirar sua coerência, pois o Filho sempre vai à frente para dar o exemplo de como servir (Jo 13, 12-15).
O Espírito, ao qual nos abrimos pela oração, permita-nos ter com o Pai e o Filho conversas cada vez mais profundas, encontradas, cheias de amor e compreensão. Que a Trindade possa falar ao nosso coração assim como Jesus, longe das multidões, podia falar claramente aos seus discípulos (Mc 4, 34).
João Gustavo H. M. Fonseca – Família Verbum Dei de Belo Horizonte