Lectionautas na diocese de Palmeira dos Índios (AL)
4 de março de 2014Escolhe, pois, a vida (Dt 30,15-20 e Lc 9,22-25)
6 de março de 2014“Ficai atentos para não praticar a vossa justiça na frente dos homens, só para serdes vistos por eles. Caso contrário, não recebereis a recompensa do vosso Pai que está nos céus. Por isso, quando deres esmola, não toques a trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem elogiados pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Ao contrário, quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua mão direita, de modo que, a tua esmola fique oculta. E o teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa.
Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar em pé, nas sinagogas e nas esquinas das praças, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: eles já receberam a sua recompensa. Ao contrário, quando tu orares, entra no teu quarto, fecha a porta, e reza ao teu Pai que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa.
Quando jejuardes, não fiqueis com o rosto triste como os hipócritas. Eles desfiguram o rosto, para que os homens vejam que estão jejuando. Em verdade vos digo: Eles já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que os homens não vejam que tu estás jejuando, mas somente teu Pai, que está oculto. E o teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa.”
Estamos iniciando a quaresma. Tempo de recolhimento, de revisão de vida e de conversão.
Assim como percebemos as estações na natureza, também nossa vida é marcada por eventos cíclicos. Eles vão marcando nossa vida e dando qualidade ao nosso tempo. Podemos, eventualmente, questionar a razão de novamente sermos chamados a conversão, porém devemos nos lembrar sempre de que somos seres a caminho e que nesta caminhada nos desviamos, muitas vezes, da direção que devemos seguir. É neste contexto que o trecho do evangelho de hoje nos introduz neste tempo litúrgico.
Mesmo quando estamos procurando praticar aquilo que é prescrito nas normas de conduta do cristão, ainda assim podemos estar muito afastados daquilo que é apreciado por Deus, ou seja, não basta fazer o que é certo fazer, pois, além disto, devemos fazê-lo da maneira correta.
Na opinião dos judeus as três principais obras que tornavam um homem justo diante de Deus eram a esmola, a oração e o jejum. Jesus desmascara formas de praticar estas obras que não são adequadas para a construção do Reino de Deus.
Todas estas obras continuam sendo importantes e precisam ser praticadas, contudo é necessário que possamos praticá-las de forma a construir um mundo mais fraterno, com menos desigualdades.
Jesus dá o tom para que possamos viver este tempo da quaresma de uma maneira correta. Não é um tempo para que possamos, simplesmente, mostrar aos outros que somos religiosos e por isto pagamos alguma penitência, fazemos algum jejum, ou coisas assim. Jesus chama atenção para que não façamos nada que seja somente para mostrar que fazemos.
Que Maria, nossa mãezinha, seja nossa guia neste tempo de oração, nos ensinando a ouvir a palavra e a meditá-la no coração. Uma oração que não pode ser percebida pelos outros, a não ser pelas marcas que deixamos com nossas ações, com nosso cuidado e carinho para com todos e para com a natureza.
Que o Espírito Santo nos dê a graça de vivermos de tal forma que nossa caridade, mais que a esmola, não seja para nos vangloriarmos, mas, simplesmente, porque o outro é nosso irmão e necessita dela. Que saibamos praticar a caridade não apenas com bens materiais, que muitas vezes nos sobram, mas que, além disso, possamos dar a palavra que for necessária a quem precisa ouvir, que saibamos dar nosso tempo ouvindo a quem necessita desabafar suas angústias, que saibamos dar o silêncio quando muitos querem ouvir calúnias, que possamos dar um sorriso animador a quem só vê tristezas, enfim, que possamos, a exemplo de Cristo, entregar nossa vida para ser a diferença positiva na vida do outro, fazendo valer a máxima de Jesus: não há prova de amor, de caridade, maior do que dar a vida pelo outro.
Deus nos fala em tudo que nos acontece, em tudo que vivemos e experimentamos. A quaresma é um tempo de muita graça no qual somos convidados ao recolhimento, praticando mais o silêncio, tanto exterior como interior, criando um espaço mais adequado para este diálogo íntimo com o Senhor. Neste contexto devemos praticar nosso jejum. Ele deve servir para nos ajudar a ficarmos mais voltados para Deus. Todas as vezes que sentirmos falta daquilo que escolhermos para ser nosso jejum que possamos nos lembrar que Deus está conosco e, somente Ele, é capaz de preencher todas nossas carências.
Em nossa oração pessoal somos convidados, no contexto deste trecho do evangelho, a fazermos uma revisão de nossas vidas. Como estou vivendo o chamado de me fazer oferta para a vida daqueles que me rodeiam? De deixar que o amor, a caridade, seja expressão constante das minhas ações? Como tenho tratado dos meus relacionamentos, na família, no trabalho, na escola e na comunidade? Estou cuidando para que eles sejam verdadeiros ou procuro “ser bacana” somente para “ficar bem na fita”? Tenho reservado um tempo para manter meu relacionamento profundo com Deus? Tenho procurado abrir meu coração para confidenciar a Ele as minhas dificuldades, meus limites, minhas tristezas? Tenho procurado ouvir, verdadeiramente, o que Ele tem para me dizer? Procuro discernir seus chamados meditando, como Maria, sua palavra em meu coração? Palavra que, principalmente, está escrita na Bíblia, mas que também vem pelas ações de tantas pessoas que se dedicam a contribuir com a construção do Reino de Deus? Como tenho louvado a Deus nas minhas conquistas? Como vai minha vida de consumidor? Tenho procurado discernir entre o que me é necessário e o que consumo somente para satisfazer desejos mesquinhos, para exibição ou satisfação de vícios?
Estas, entre outras, são questões importantes, que podem nos auxiliar em uma revisão de vida em concordância com o trecho do evangelho de hoje e que, também, podem nos ajudar a fazermos um “programa” de vivência e de aprofundamento para esta quaresma.
Que neste tempo possamos nos preparar para vivermos profundamente o Tríduo Pascal, a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor, de tal forma que possamos, participando de sua paixão e morte, nos alegrarmos com a esperança da Ressurreição. Amém!
João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte – MG