“Aparição a Maria Madalena”
3 de abril de 2018Ele abre nossos olhos e nossa inteligência
5 de abril de 2018Lc 24,13-35
Naquele mesmo dia, dois dos seguidores de Jesus estavam indo para um povoado chamado Emaús, que fica a mais ou menos dez quilômetros de Jerusalém. Eles estavam conversando a respeito de tudo o que havia acontecido. Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus chegou perto e começou a caminhar com eles, mas alguma coisa não deixou que eles o reconhecessem. Então Jesus perguntou:
— O que é que vocês estão conversando pelo caminho?
Eles pararam, com um jeito triste, e um deles, chamado Cleopas, disse:
— Será que você é o único morador de Jerusalém que não sabe o que aconteceu lá, nestes últimos dias?
— O que foi? — perguntou ele.
Eles responderam:
— O que aconteceu com Jesus de Nazaré. Esse homem era profeta e, para Deus e para todo o povo, ele era poderoso em atos e palavras. Os chefes dos sacerdotes e os nossos líderes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. E a nossa esperança era que fosse ele quem iria libertar o povo de Israel. Porém já faz três dias que tudo isso aconteceu. Algumas mulheres do nosso grupo nos deixaram espantados, pois foram de madrugada ao túmulo e não encontraram o corpo dele. Voltaram dizendo que viram anjos e que estes afirmaram que ele está vivo. Alguns do nosso grupo foram ao túmulo e viram que realmente aconteceu o que as mulheres disseram, mas não viram Jesus.
Então Jesus lhes disse:
— Como vocês demoram a entender e a crer em tudo o que os profetas disseram! Pois era preciso que o Messias sofresse e assim recebesse de Deus toda a glória.
E começou a explicar todas as passagens das Escrituras Sagradas que falavam dele, iniciando com os livros de Moisés e os escritos de todos os Profetas.
Quando chegaram perto do povoado para onde iam, Jesus fez como quem ia para mais longe. Mas eles insistiram com ele para que ficasse, dizendo:
— Fique conosco porque já é tarde, e a noite vem chegando.
Então Jesus entrou para ficar com os dois. Sentou-se à mesa com eles, pegou o pão e deu graças a Deus. Depois partiu o pão e deu a eles. Aí os olhos deles foram abertos, e eles reconheceram Jesus. Mas ele desapareceu. Então eles disseram um para o outro:
— Não parecia que o nosso coração queimava dentro do peito quando ele nos falava na estrada e nos explicava as Escrituras Sagradas?
Eles se levantaram logo e voltaram para Jerusalém, onde encontraram os onze apóstolos reunidos com outros seguidores de Jesus. E os apóstolos diziam:
— De fato, o Senhor foi ressuscitado e foi visto por Simão!
Então os dois contaram o que havia acontecido na estrada e como tinham reconhecido o Senhor quando ele havia partido o pão.
Oração
Vem, Senhor, infundir em nós teu Espírito que a tudo ilumina e renova.
Essa passagem é das mais belas do evangelho para mim. Cheia de significados amplos que nos permitem uma oração de comprometimento com o seguimento.
O momento apresentado é, precisamente, o pós-morte de Jesus. Os que iam pelo caminho de Emaús eram seus seguidores. No caminho conversavam, exatamente, sobre os recentes acontecimentos de Jerusalém, cidade da qual haviam partido.
No entanto, enquanto caminham, não percebem que é o próprio Jesus que se aproxima e com eles segue.
Neste ponto do texto, algo chamou muito a minha atenção. Observo que Jesus se aproxima com disposição para ouvi-los. Não é um mestre que se põe de forma autoritária e arrogante, ansioso por falar, indisposto a escutar. Vai até eles e quer escutá-los.
Os discípulos, que não imaginavam quem os acompanhava, estranham a alienação daquele estranho que não sabe o que se passara naqueles dias ali mesmo, tão perto de onde estavam.
E lhe contam uma série de fatos sobre Jesus. Dizem que ele “era profeta e, para Deus e todo o povo, ele era poderoso em atos e palavras”. Apesar de frisarem que Jesus era um profeta e que, para Deus e todo o povo, ele era poderoso em atos e palavras, não creem que ele seja o Messias, libertador do povo de Israel, pois já fazia três dias de seu sepultamento e nada de extraordinário havia acontecido.
Fico pensando como isso deve ter perturbado aqueles discípulos. Eles achavam poder nas palavras e atos de Jesus, consideravam-no um profeta, mas não criam que fosse o Messias. De fato, Jesus não era o Messias que eles esperavam, libertador do povo subjugado por Roma. Eles lhe falam de esperança, desencanto, temor e dúvida. Jesus caminha junto, escuta e acolhe tudo isso.
Outro elemento que me chama a atenção é quando eles contam sobre o relato das mulheres que foram ao túmulo de Jesus e o encontraram vazio. Algo que lhes causou espanto, mas não os fez acreditar. Também falam de outros que foram ao túmulo de Jesus, mas não o viram.
Não me espanta que não acreditassem na palavra das mulheres. Mais valia a palavra dos que foram ao túmulo, mas não viram Jesus, que a palavra das que também foram, não o viram e, no entanto, creram.
Isso me faz pensar. O que será, verdadeiramente, ter fé? Numa outra passagem, é o próprio Jesus quem diz a Tomé: “Você creu porque me viu? Felizes são os que não viram, mas assim mesmo creram!” (Jo 20, 29).
Fé é ausência de qualquer certeza, uma atitude bem diferente da daqueles homens no ponto do caminho em que se encontravam. Diferentemente do que muitos supõem, a fé não nos garante nada. Ver para acreditar é buscar garantias. Jesus revela que é preciso, ao contrário, crer para ver.
Seria preciso àqueles discípulos avançar mais um pouco, dar mais passos na direção de Emaús. Escutar mais aquele que lhes falava, adentrar a tarde e alcançar a noite, pois, por causa de seus hábitos, cultura e crenças arraigados haviam deixado de perceber os sinais da presença de Jesus no meio deles. Fez-se necessário, então, tomar distância, sair de Jerusalém para a ela retornar. Mas antes do retorno, era preciso desacostumar o olhar e as atitudes, reeducar o ouvido, fazer memória, acolher o assombro, encarar o estranhamento, o paradoxo, avançar no caminho, ressignificar, experimentar outra forma de fé.
O caminho dos discípulos em direção a Emaús é um percurso necessário a todo aquele que deseja seguir Jesus. A prática do seguimento se dá, metaforicamente falando, em Jerusalém, lugar de missão. Mas é neste caminho anterior, em direção a Emaús, que podemos encontrar o Mestre na intimidade, nossa e dele. Ouvir, com ouvido, olhos e coração novos, as mesmas lições já conhecidas e esquecidas. Neste caminho, que só se percorre intencionalmente, embora não sozinho, longe do barulho, das luzes e mazelas da grande Jerusalém, ele nos dirá, rememorando tudo o que se disse sobre ele, recordando-nos o que ele viveu, será sempre novidade.
No processo desse escutar, sentiremos nosso coração arder como jamais sentimos e poderemos pedir ao fim do dia: “Fique conosco, Senhor, porque já é tarde, e a noite vem chegando”. E ele aceitará nosso convite, entrará e nos sentaremos juntos à mesa.
O momento da partilha do alimento tornará evidente para nós sua presença real e permanente. Nossos olhos se abrirão e veremos que, o tempo todo, ele esteve junto e assim permanece. Nessa hora, tudo se iluminará. Ele, mesmo desaparecendo de nossos olhos, afinal não o vemos em carne e osso ao nosso lado, estará presente e vivo na comunidade, em cada irmão, em cada encontro onde dois ou mais estiverem reunidos em seu nome. Levantaremo-nos depressa, dispostos a retornar a Jerusalém, lugar de nossa missão.
Senhor, que não tardemos em fazer o caminho de Emaús, quantas vezes forem necessárias, sabendo que ele deve ser percorrido em comunidade. Permita-nos, nesse caminho, perceber sua aproximação e partilhar, cheios de confiança, nossas angústias, desencantos e dúvidas. E, quando você nos falar, deixar suas palavras serem forjadas no fogo do coração. Cheios de alegria e coragem, depois da refeição fraterna, possamos, então, retornar revigorados ao lugar onde você nos chama a estar e atuar. Amém!
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Regina Maria – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte