O que Deus uniu (Marcos 10,1-12)
28 de fevereiro de 2014Receber como criança o Reino (Mc 10,13-16)
1 de março de 2014LEITURA
“Traziam-lhe crianças para que as tocasse, mas os discípulos as repreendiam. Vendo isso, Jesus ficou indignado e disse: ‘Deixai as crianças virem a mim. Não as impeçais, pois delas é o Reino de Deus. Em verdade vos digo: aquele que não receber o Reino de Deus como uma criança, não entrará nele’. Então, abraçando-as, abençoou-as, impondo as mãos sobre elas”.
REFLEXÃO
Quando contemplo esse texto de Marcus, recebo um conjunto de impressões que me deixam, ao mesmo tempo, instigado e bastante feliz. O texto traz uma delicadeza e doçura singulares, de modo que é uma passagem que vem para apaziguar por tantas vezes os meus conflitos interiores.
Figo instigado porque recebo desafiadoramente a afirmativa de Jesus: o Reino de Deus é das crianças. Por quê? Tento responder. Vivo uma fase no curso de medicina que me faz ter bastante contato com crianças, das mais variadas idades e configurações sociais. Percebo que as crianças me ensinam diariamente alguns dos valores mais importantes para o seguimento do evangelho. As crianças, sobretudo, sabem manifestar o amor. Desse modo, há sempre doçura no olhar da criança, mesmo no choro; há a entrega da própria vida enquanto repousa no colo materno; há a autoconsciência da fragilidade, ao mesmo tempo em que toma para si a figura materna como depósito e fonte de carinho. As crianças têm necessidade de conhecer e explorar os ambientes, mas há sobretudo a satisfação de adquirir conhecimento pelas palavras e exemplos maternos.
Sempre quando observo nas crianças cenas de um amor tão autêntico, uma vez que é acompanhado por esperança, confiança, renúncia e zelo, lembro de que Jesus nos chama a imitá-las. Desse modo, meu coração se alegra, visto que é um convite universal e bastante acessível, ainda que desafiador, pois não exige características individuais dependentes de poder, inteligência ou dinheiro. Jesus nos convida, sobretudo, à sua simplicidade e à vivência autêntica do amor. O convite à simplicidade, especialmente nesses dias da valorização das ostentações, deve ser relembrado diariamente, em cada manhã. No final das contas, a resposta para todos os nossos conflitos reside na simplicidade (não no simplismo) e não há ninguém mais simples que Jesus, disposto a nos abraçar, abençoar e a nos impor as mãos.
Marcelo Camargos, acadêmico de medicina na UFMG. Verbum Dei.