A verdadeira honra (LC 14,1. 7-11)
4 de novembro de 2017Partilha (Lc 14, 12-14)
6 de novembro de 2017PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Vem, Espírito Santo, para que eu aprenda
a viver com liberdade interior.
Ajuda-me a desprender-me de meus planos
quando a vida os modificar.
Toca meu coração para que confie
em tua proteção amorosa.
Serás meu poderoso protetor
em meio a toda dificuldade.
Derrama em mim tua vida, intensa e harmoniosa,
para que não me oponha ao cansaço, ao desgaste, às mudanças,
e para que não busque falsas seguranças.
Que tua Palavra chegue a toda a minha vida
e se faça vida em mim e em minha comunidade.
Amém
TEXTO BÍBLICO: Mt 23.1-12
Jesus, os mestres da Lei e os fariseus
Marcos 12.38-39; Lucas 11.43,46; 20.45-46
1Então Jesus falou à multidão e aos seus discípulos. 2Ele disse:
— Os mestres da Lei e os fariseus têm autoridade para explicar a Lei de Moisés. 3Por isso vocês devem obedecer e seguir tudo o que eles dizem. Porém não imitem as suas ações, pois eles não fazem o que ensinam. 4Amarram fardos pesados e os põem nas costas dos outros, mas eles mesmos não os ajudam, nem ao menos com um dedo, a carregar esses fardos. 5Tudo o que eles fazem é para serem vistos pelos outros. Vejam como são grandes os trechos das Escrituras Sagradas que eles copiam e amarram na testa e nos braços! E olhem os pingentes grandes das suas capas! 6Eles preferem os melhores lugares nos banquetes e os lugares de honra nas sinagogas. 7Gostam de ser cumprimentados com respeito nas praças e de ser chamados de “mestre”. 8Porém vocês não devem ser chamados de “mestre”, pois todos vocês são membros de uma mesma família e têm somente um Mestre. 9E aqui na terra não chamem ninguém de pai porque vocês têm somente um Pai, que está no céu. 10Vocês não devem também ser chamados de “líderes” porque vocês têm um líder, o Messias. 11Entre vocês, o mais importante é aquele que serve os outros. 12Quem se engrandece será humilhado, mas quem se humilha será engrandecido.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
- · A quem se dirigem as palavras de Jesus?
- · Que dizem e o que fazem os fariseus?
- · O que Jesus recomenda a seus discípulos e às pessoas diante desta situação?
- · Você acha que a frase final resume o que Jesus recomenda?
Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini
O texto começa observando que Jesus fala à multidão e aos discípulos. Portanto, é um ensinamento dirigido a todos os presentes.
A primeira coisa que Jesus diz é que “os mestres da Lei e os fariseus têm autoridade para explicar a Lei de Moisés”. Esta autoridade tem como símbolo uma sede ou cátedra de mármore nas antigas sinagogas onde o mestre da Lei se assentava e ensinava ao povo.
Lembremos que os escribas e fariseus estiveram em confronto com Jesus ao longo de todo o seu ministério público, mas agora que se encontra em Jerusalém, Jesus quer demonstrar a contradição própria dos escribas e fariseus, “pois eles não fazem o que ensinam”. Ou seja, eles podem proclamar com exatidão a Lei de Moisés, mas não a cumprem, não a praticam e, portanto, ficam desqualificados como mestres.
Em primeiro lugar, Jesus repreende-os porque não só não praticam a lei, não a movem com um dedo, mas sobrecarregam as pessoas com pesadas obrigações. Literalmente, diz-se “fardos”, o que poderia referir-se a todas as tradições dos antepassados que os fariseus defendiam e queriam que as pessoas as respeitassem escrupulosamente.
O segundo grupo de reprimendas se refere à atitude hipócrita deles, pois agem para serem vistos pelos outros, não por Deus. Aqui, Jesus faz uma caricatura de suas ações a fim de demonstrar que a intenção principal deles é serem vistos e aprovados pelos outros, pois estão buscando principalmente seu completo reconhecimento. Chamam-se “filactérios” os pequenos cartuchos que contêm tiras de pergaminho com textos da Escritura que os judeus piedosos penduram na fronte e nos braços. Aqui, Jesus diz que os fariseus trazem tiras maiores e mais chamativas. Faziam o mesmo com umas franjas azuis ou cordões ornamentais – borlas – que usavam nas extremidades do manto como lembrança dos mandamentos: eles os aumentavam para que fossem mais visíveis e vistosos. Enfim, buscam principalmente a “aparência” religiosa. Os outros exemplos que Jesus apresenta são claros e mostram abertamente esta busca da honra, da primazia e do prestígio social.
Seguem-se imediatamente algumas recomendações dirigidas agora aos discípulos sobre o perigo de cair na mesma atitude dos escribas e fariseus em busca de títulos e do reconhecimento das pessoas.
Este discurso encerra-se com algumas sentenças que resumem a visão evangélica do poder e da honra. A primeira pede ao discípulo que imite o Mestre Jesus, para quem a verdadeira grandeza está no serviço à comunidade; a segunda reforça a motivação para viver com uma referência ao julgamento de Deus sobre os homens: quem souber humilhar-se, será elevado por Deus; aquele que se exaltar, será rebaixado por Deus.
O que o Senhor me diz no texto?
Em que consiste, segundo o evangelho de são Mateus, essa hipocrisia que Jesus critica tão duramente e da qual quer que os cristãos sejamos preservados?
Em primeiro lugar, consiste em uma contradição ou incoerência entre o ser e o dizer, ou entre ser e agir; ou seja, expresso em termos mais estáticos, entre o interior e o exterior. Em relação às obras, isto se mostra na ostentação ou busca de autoglorificação. Este sentido do termo hipócrita proviria da tradição grega, onde designava um ator, alguém que interpreta um papel ou simula, e que no judaísmo passou a indicar quem faz ou diz algo diferente do que é, na verdade.
A hipocrisia seria, em Mateus, o conceito oposto à justiça e, portanto, seria o não fazer a vontade de Deus. Estes dois sentidos da hipocrisia podem relacionar-se, pois descrevem uma mesma atitude, mas em níveis diferentes e a partir de perspectivas diversas. O distanciamento de Deus pressupõe que o interior se encha de corrupção e que o foco ou centro já não seja Deus, mas o próprio hipócrita e, por conseguinte, a interpretação e a prática subsequente da Lei se fazem para o próprio interesse e não para o serviço de Deus e do homem. Isto cria uma dissociação na raiz do ser religioso que se manifesta imediatamente em diversas formas de dualismo e de incoerência de vida.
Esta atitude de hipocrisia denota, no fundo, uma visão mundana da comunidade eclesial que se opõe ao ideal de vida proposto pelo Senhor.
O Papa Francisco falou-nos da hipocrisia com palavras claras, que nos fazem entender “quanto mal” a hipocrisia faz à Igreja hoje. Dizia-nos: “Quanto mal provocam «os cristãos que caem nesta atitude pecaminosa que mata». Porque, afirmou o Pontífice, «o hipócrita é capaz de matar uma comunidade. Enquanto fala “docemente, julga com brutalidade uma pessoa. O hipócrita é um assassino». Na conclusão, o Papa resumiu a sua reflexão recordando que a hipocrisia «começa com a adulação», que a ela só se responde «com a realidade», e que a hipocrisia usa «a mesma linguagem do diabo que semeia a língua bifurcada nas comunidades para as destruir». Portanto, sugeriu, «peçamos ao Senhor que nos guarde para não cairmos neste vício da hipocrisia, de disfarçar o comportamento para esconder as más intenções. Que o Senhor nos conceda esta graça: “Senhor, que eu nunca seja hipócrita, que saiba dizer a verdade e se não puder dizê-la, que me cale, mas nunca, nunca a hipocrisia”».
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
- · Em minha vida pessoal e comunitária, digo uma coisa e faço outra? Quando?
- · Sou muito exigente com os outros e muito ameno comigo mesmo?
- · Digo a verdade na presença das pessoas ou sou falso? Busco ser apreciado pelos títulos que tenho, ou pelo que sou de verdade?
- · Busco ser servo e servir com humildade a meus irmãos?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Que me faça pequeno, sem buscar aplausos.
Que ajude sem buscar afagos nem reconhecimentos.
Que não esmague os outros com meus fardos que não consigo carregar.
Quero ser autêntico, autêntica, deixando para trás as aparências.
Obrigado, Jesus, por seres sempre aquele que me ensina a atitude de serviço.
A partir de baixo, e a teu lado. Sempre. Assim seja.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, concede-me ser um servidor do Reino, sem buscar reconhecimento nem aplausos”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, comprometo-me a conversar sinceramente, sem aparências, com um amigo.
“O humilde contenta-se com o que lhe cabe: se se trata de servir, serve; se lhe cabe trabalhar duro, trabalha, e se lhe dão presentes com admiração e agradecimento, recebe-os, embora pense que não lhe correspondem. Todas as suas ações e pensamentos lhe parecem insignificantes para tão grande Senhor.”
Santa Teresa de Ávila