Perdão e Fé
7 de novembro de 2016O meu amor pela tua casa (João 2, 13-22)
9 de novembro de 2016Jesus disse:
— Façam de conta que um de vocês tem um empregado que trabalha na lavoura ou cuida das ovelhas. Quando ele volta do campo, será que você vai dizer: “Venha depressa e sente-se à mesa”? Claro que não! Pelo contrário, você dirá: “Prepare o jantar para mim, ponha o avental e me sirva enquanto eu como e bebo. Depois você pode comer e beber.” Por acaso o empregado merece agradecimento porque obedeceu às suas ordens? Assim deve ser com vocês. Depois de fazerem tudo o que foi mandado, digam: “Somos empregados que não valem nada porque fizemos somente o nosso dever.”
Espírito Santo, venha em nosso auxílio e abra nosso entendimento e nosso coração para compreendermos bem o ensinamento de nosso Mestre.
Hoje, Senhor, suas palavras me parecem de muito difícil compreensão. Afinal, em outros trechos do evangelho, podemos ler: “Vejam os passarinhos que voam pelo céu: eles não semeiam, não colhem, nem guardam comida em depósitos. No entanto, o Pai de vocês, que está no céu, dá de comer a eles. Será que vocês não valem muito mais do que os passarinhos?” (Mt 6, 26); “Portanto, não tenham medo, pois vocês valem mais do que muitos passarinhos” (Mt 10, 31); ou ainda “Até os fios dos cabelos de vocês estão todos contados. Não tenham medo, pois vocês valem mais do que muitos passarinhos!” (Lc 12, 7).
Porém, agora, o Senhor diz que devemos dizer que somos empregados que não valem nada. Não há alguma coisa contraditória aí?
Em outras traduções podemos ler “somos servos inúteis…” Essa pequena diferença nas palavras, apesar de sinônimas, fez-me perceber, Senhor, que você quer nos dizer alguma coisa sobre esta relação que nós tanto prezamos, de considerar alguma coisa importante quando ela nos é útil. E é assim que costumamos fazer tanto com a natureza, como com as pessoas também.
O Senhor vem nos ensinar, exatamente, que a relação de Deus com sua criação é outra. Só existimos porque Deus nos sustenta continuamente, embora, de uma forma direta para com Ele, não há nada que possamos fazer. Ora, é evidente que Deus nos amou primeiro e, por um mistério que não podemos alcançar, deseja ardentemente manter essa relação de amor conosco.
Assim eu compreendo, Senhor, que, em resposta a este amor de Deus, tudo que fizermos não é nada mais que nossa obrigação, ou seja, a resposta ao amor jamais pode ser cobrada, senão, além de deixar de ser amor, não será uma resposta e, como Deus nos amou primeiro, nossa resposta só pode ser amor.
Assim posto, Jesus, faz sentido todo seu ensinamento para sermos gratuitos no amor. Afinal o sopro de Deus, que nos faz semelhantes a Ele, não é, exatamente, a possibilidade de amar como Ele nos ama? Não foi o Senhor mesmo que nos ensinou a amar nossos inimigos, pois nosso Pai também é bom para o ingrato e o mau e, por esta razão, nos estimula a ser misericordiosos como Deus é misericordioso para conosco? (Lc 6, 27-36)
Entendo, Senhor, que não devemos ficar com baixa autoestima, uma vez que Deus nos ama e cuida, particularmente, de cada um de nós, mas também, não podemos ficar com nosso ego inflado, pois não fazemos nada que não seja nossa obrigação. Em outras palavras, é necessário aumentar nossa capacidade de fazer sem esperar nada em troca.
Da mesma forma que é mais comum fazermos algo sempre esperando uma recompensa, ou seja, amando principalmente aqueles que nos são úteis, também sofremos, Senhor, com a situação inversa, ou seja, quando deixamos de ser úteis. Frequentemente, pessoas ficam deprimidas, às vezes em grau elevado, quando não se sentem mais úteis. De uma certa forma, deixam de amar a si mesmas.
Quando olhamos por este outro ponto de vista, fica mais fácil perceber como a ideia de que somente aqueles que são úteis merecem amor ainda está arraigada em nós.
Portanto, o texto que no início parecia duro agora se tornou doce, pois ele vem reforçar seu ensinamento de que o amor de Deus é gratuito e não se relaciona com nossa utilidade. Desta forma, também somos chamados a expandir nosso amor para todos, inclusive para aqueles que não têm nenhuma serventia.
Senhor Jesus, nos alegramos em poder passar este tempo em sua presença e receber de seus tesouros. Obrigado por continuar acreditando em nós. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte