“O temor do Senhor é bom e dura para sempre”
27 de janeiro de 2019“Ó Senhor Deus, eu te agradeço de todo o coração; diante de todos os deuses eu canto.”
10 de fevereiro de 2019PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Espírito Santo, acompanha-me neste encontro com Jesus
que me fala em sua Palavra.
Espírito Santo, unge-me para que a alegria da Boa Notícia toque meu coração.
Espírito Santo, ajuda-me para que possa traduzir o evangelho em vida.
Espírito Santo, reúne-me com meus irmãos
para que, juntos, possamos sair a proclamar que Jesus está vivo.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: Lc 4.21-30
Jesus em Nazaré
Mateus 13.53-58; Marcos 6.1-6
21Então ele começou a falar. Ele disse:
— Hoje se cumpriu o trecho das Escrituras Sagradas que vocês acabam de ouvir.
22Todos começaram a elogiar Jesus, admirados com a sua maneira agradável e simpática de falar, e diziam:
— Ele não é o filho de José?
23Então Jesus disse:
— Sem dúvida vocês vão repetir para mim o ditado: “Médico, cure-se a você mesmo.” E também vão dizer: “Nós sabemos de tudo o que você fez em Cafarnaum; faça as mesmas coisas aqui, na sua própria cidade.”
24E continuou:
— Eu afirmo a vocês que isto é verdade: nenhum profeta é bem-recebido na sua própria terra. 25Eu digo a vocês que, de fato, havia muitas viúvas em Israel no tempo do profeta Elias, quando não choveu durante três anos e meio, e houve uma grande fome em toda aquela terra. 26Porém Deus não enviou Elias a nenhuma das viúvas que viviam em Israel, mas somente a uma viúva que morava em Sarepta, perto de Sidom. 27Havia também muitos leprosos em Israel no tempo do profeta Eliseu, mas nenhum deles foi curado. Só Naamã, o sírio, foi curado.
28Quando ouviram isso, todos os que estavam na sinagoga ficaram com muita raiva. 29Então se levantaram, arrastaram Jesus para fora da cidade e o levaram até o alto do monte onde a cidade estava construída, para o jogar dali abaixo. 30Mas ele passou pelo meio da multidão e foi embora.
1. LEITURA
Que diz o texto?
* Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
1. Como os ouvintes reagem quando Jesus lhes diz que a profecia se cumpriu hoje? Que dizem sobre Jesus?
2. Que provérbio Jesus cita e por quê?
3. O que acontece com os profetas em sua própria terra?
4. Por que Jesus apresenta os exemplos de Elias e Eliseu?
5. Como reagem os ouvintes diante destas palavras de Jesus? Que querem fazer com ele?
6. O que faz Jesus?
* Algumas pistas para compreender o texto:
Mons. Damian Nannini1
Para compreender este evangelho, é útil que recordemos que se trata da continuação do texto lido no domingo passado (4.14-21), com o qual forma uma unidade literária.
A primeira coisa que o texto nos descreve é a reação positiva inicial dos ouvintes na sinagoga de Nazaré quando Jesus lhes diz que a profecia se cumpriu hoje nele, a ponto de se admirarem de sua sabedoria. Contudo, a autoapresentação de Jesus como um mestre ou um profeta não combina com o Jesus que conhecem desde menino, o filho de José. Então à admiração se segue a incredulidade. De fato, Jesus interpreta esta reação das pessoas como uma rejeição de sua pessoa e missão, pois estariam exigindo que confirme a sabedoria de suas palavras com milagres. Nesta linha, compreende-se o dito que Jesus cita: “Médico, cure-se a você mesmo”, ou seja: “Dê provas do que você sabe, faça algo para que acreditemos em você”. E Jesus reforça esta interpretação citando solenemente (“Eu afirmo a vocês que isto é verdade”) um provérbio popular, fruto da experiência histórica de Israel: “Nenhum profeta é bem-recebido na sua própria terra” (4.24). Deste modo,
fica claro o contraste: Jesus anuncia que Deus está disposto a receber ou a aceitar todos, ao passo que o povo não o recebe nem o aceita, a ele e a seu anúncio profético. Demais, com este provérbio, Jesus está dizendo que esta rejeição que sofre em sua própria terra é uma constante na história de Israel, que não soube escutar a voz de seus próprios profetas.
Em seguida (Lc 4.25-27), Jesus defende sua missão mediante o recurso à atividade de outros dois profetas do Antigo Testamento: Elias e Eliseu. A respeito destes homens de Deus, Jesus menciona particularmente que a missão deles foi orientada pelo próprio Deus para pessoas não pertencentes ao povo de Israel, como eram a viúva de Sarepta, no país de Sídom, e Naamã, o sírio. Com seu modo de narrar os fatos, Jesus demonstra que Deus “preferiu” ao não judeus, pois ressalta que, embora houvesse muitas viúvas e leprosos em Israel, Deus não enviou Elias a nenhuma delas, “mas somente a uma viúva que morava em Sarepta, perto de Sidom” (4.26) e “nenhum deles foi curado. Só Naamã, o sírio, foi curado” (4.27).
Em continuidade com a abertura ecumênica que Isaías dava ao anúncio da redenção prometida por Deus, Jesus orienta os benefícios do ano de graça do Senhor aos pagãos. Além disso, com esta alusão à atividade dos profetas Elias e Eliseu, Jesus especifica quem são os pobres aos quais deve levar a Boa Notícia, o anúncio do jubileu que Deus decretava: são os pagãos, os pecadores, os excluídos da comunidade de salvação. Em resumo, Jesus deixa bem clara a orientação preferencial de sua missão aos mais distanciados, aos pecadores, porque este é o desígnio do Pai, atestado na Escritura.
O inaudito e chocante desta abertura da salvação de Deus a todos os homens para o ferrenho nacionalismo religioso da mentalidade dos judeus da época fica comprovado pela rejeição violenta por parte deles a estas palavras de Jesus. Com efeito, “todos” os que o escutavam na sinagoga “ficaram com muita raiva”, arrastaram-no para fora da cidade e tentaram matá-lo precipitando-o da colina sobre a qual está construída Nazaré. Entretanto, sem dar detalhes de como aconteceu, Lucas diz-nos que Jesus passou no meio deles e foi-se embora, seguiu seu “caminho”. O tema do caminho é muito importante em Lucas e se refere ao percurso até Jerusalém, onde cumprirá, de modo pleno sua missão recém-proclamada: comprovará a misericórdia de Deus perdoando, mediante sua morte e ressurreição, o pecado de todos os homens.
O que o Senhor me diz no texto?
Considerando todo o relato evangélico, incluindo-se seu final, sobrevêm-nos meditar sobre a possibilidade real – e também atual – da rejeição de Jesus e de sua missão, da não aceitação de seus caminhos e de seus instrumentos de salvação. A este respeito, diz a Verbum Domini: “A Palavra de Deus revela inevitavelmente também a dramática possibilidade que tem a liberdade do homem de subtrair-se a este diálogo de aliança com Deus, para o qual fomos criados. De fato, a Palavra divina desvenda também o pecado que
habita no coração do homem. Muitas vezes encontramos, tanto no Antigo como no Novo Testamento, a descrição do pecado como não escuta da Palavra, como ruptura da Aliança e, consequentemente, como fechar-se a Deus que chama à comunhão com Ele” (nº 26).
Somos, portanto, advertidos sobre a possibilidade de querer encerrar o Senhor e sua obra em nossas categorias mentais e não permitir sua ação em nós, resistindo à sua Graça. E o Senhor sempre nos transcende e nos surpreende, como Elias e Eliseu transcenderam as fronteiras de Israel, e como Jesus transcendeu a fronteira religioso-cultural do judaísmo.
Em segundo lugar, podemos meditar sobre a vida como missão. Como bem diz o Papa Francisco: “A missão no coração do povo não é uma parte da minha vida, ou um ornamento que posso pôr de lado; não é um apêndice ou um momento entre tantos outros da minha vida. É algo que não posso arrancar do meu ser, se não me quero destruir. Eu sou uma missão nesta terra, e para isso estou neste mundo. É preciso considerarmo-nos como que marcados a fogo por esta missão de iluminar, abençoar, vivificar, levantar, curar, libertar. Nisto uma pessoa se revela enfermeira no espírito, professor no espírito, político no espírito…, ou seja, pessoas que decidiram, no mais íntimo de si mesmas, estar com os outros e ser para os outros. Mas, se uma pessoa coloca a tarefa dum lado e a vida privada do outro, tudo se torna cinzento e viverá continuamente à procura de reconhecimentos ou defendendo as suas próprias exigências. Deixará de ser povo” (EG nº 273).
Em terceiro lugar, o evangelho convida-nos a tomar consciência do coração misericordioso do Pai que se plasma na missão de Jesus, orientada preferencialmente aos mais pobres, às “periferias existenciais”. Por fim, “Se você quiser amar Cristo, estenda sua caridade a toda a terra, porque os membros de Cristo se encontram em todo o mundo”, recorda-nos santo Agostinho (Comentário à Primeira Carta de são João, X, 5)
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
1. Já rejeitei alguma vez o Senhor e sua Palavra porque esta me parecia muito dura ou difícil de aceitar?
2. Já experimentei a rejeição e a oposição por parte de meus entes queridos mais próximos por causa de minha opção por seguir o Senhor?
3. Já tive a tentação de fechar-me em meu grupo ou movimento, sem abrir-me aos mais distantes?
4. Estou consciente de que minha vida é uma missão com a qual tenho de identificar-me para vivê-la com paixão?
5. Procuro chegar, de algum modo, aos mais distantes, aos mais isolados, aos mais necessitados?
O que respondo ao Senhor que me fala no texto?
Obrigado, Jesus, por teu ensinamento.
Livra-me de querer confinar-te e adaptar-te às minhas necessidades.
Que eu possa descobrir e sentir como nos transcendes e superas.
Que não restrinja a missão a um tempo ou a um momento.
Faze-me viver com paixão, entregando-me por inteiro.
Que escolha sempre os esquecidos, os mais tristes, os que estão sozinhos.
Somente assim meu coração se conforma ao teu, pulsando juntos, unindo-nos ao Pai.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, faze-me descobrir qual é minha qual é minha missão e estimula-me a vivê-la apaixonadamente”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, proponho-me voltar a rezar com este evangelho, ao lado de alguém que esteja sozinho.
“Se você quiser amar Cristo, estenda sua caridade a toda a terra, porque os membros de Cristo se encontram em todo o mundo”.
Santo Agostinho