O fruto do discípulo é o amor (JO 15,9-17)
14 de maio de 2018Guardados no Amor, ser guardiães
16 de maio de 2018Leitura: João 17, 1-11
Depois de dizer essas coisas, Jesus olhou para o céu e disse:
— Pai, chegou a hora. Revela a natureza divina do teu Filho a fim de que ele revele a tua natureza gloriosa. Pois tens dado ao Filho autoridade sobre todos os seres humanos para que ele dê a vida eterna a todos os que lhe deste. E a vida eterna é esta: que eles conheçam a ti, que és o único Deus verdadeiro; e conheçam também Jesus Cristo, que enviaste ao mundo. Eu revelei no mundo a tua natureza gloriosa, terminando assim o trabalho que me deste para fazer. E agora, Pai, dá-me na tua presença a mesma grandeza divina que eu tinha contigo antes de o mundo existir.
— Eu mostrei quem tu és para aqueles que tiraste do mundo e me deste. Eles eram teus, e tu os deste para mim. Eles têm obedecido à tua mensagem e agora sabem que tudo o que me tens dado vem de ti. Pois eu lhes entreguei a mensagem que tu me deste, e eles a receberam, e ficaram sabendo que é verdade que eu vim de ti, e creram que tu me enviaste.
— Eu peço em favor deles. Não peço em favor do mundo, mas por aqueles que me deste, pois são teus. Tudo o que é meu é teu, e tudo o que é teu é meu; e a minha natureza divina se revela por meio daqueles que me deste. Agora estou indo para perto de ti. Eles continuam no mundo, mas eu não estou mais no mundo. Pai santo, pelo poder do teu nome, o nome que me deste, guarda-os para que sejam um, assim como tu e eu somos um.
Oração:
O evangelista João apresenta-nos longa prece de Jesus antes da paixão. Hoje, a Igreja oferta, para a nossa oração, parte dessa conversa entre o Pai e o Filho.
Pois tens dado ao Filho autoridade sobre todos os seres humanos para que ele dê a vida eterna a todos os que lhe deste. Jesus, quando conversa com o Pai, “lembra-Lhe” que o Pai lhe dera autoridade sobre os seres humanos todos, isto é, havia enviado o Filho para que ensinasse o que mais importava, sobre os mandamentos verdadeiros por trás das regras e, sobretudo, sobre como cada um(a) é importante para Ele, de quem somos e sempre seremos filho(a)s, independentemente de quaisquer situações, contextos, estados… Jesus lembra ao Pai que Ele lhe havia dado autoridade para dar a vida eterna a todos que o Pai lhe confiara. E então Jesus explica o que a vida eterna é…
E a vida eterna é esta: que eles conheçam a ti, que és o único Deus verdadeiro; e conheçam também Jesus Cristo, que enviaste ao mundo. Jesus tem definição muito simples sobre o que é a vida eterna: a vida não tem fim quando se conhece o Pai e o Filho. “Conhecer” é para nós verbo descritivo de ação muito simples; significa “compreender, dominar, entender”. Para apreender a profundidade do que Jesus diz, é preciso ter em mente o que “conhecer” significa na Bíblia: “[…] o ‘conhecimento’ não provém de uma operação puramente intelectual, mas da ‘experiência’, de uma presença […] ele desabrocha, necessariamente, em amor […]”*.
Nessa perspectiva, a vida não tem fim quando “experimentamos” Deus, quando percebemos que Ele é presença e não um objeto de investigação sob a lente de nosso microscópio. Assim não se pode conhecer Deus, mas é possível buscar a experiência de sua presença… Na oração, podemos buscar na memória aqueles momentos em que eu percebi essa presença em minha vida, os momentos nos quais eu O experimentei. Qual era o gosto dessa companhia? Qual era a cor desse dia? Qual era o sentimento que essa presença despertava em mim? Espanto? Assombro? Alegria? Esperança? Devoção? Medo? Amor? À oração tragamos essas lembranças e fiquemos um tempo revivendo aqueles momentos. Por fim, perguntemos: como é que eu conheço Deus hoje? Isto é, eu O experimento em quais situações? Como ou quando é que sinto sua presença atualmente?
Eu mostrei quem tu és para aqueles que tiraste do mundo e me deste. Podemos continuar a oração com esse versículo. Jesus afirma ter mostrado quem Deus é àqueles com os quais se encontrara pelo caminho. Neste segundo momento, podemos nos perguntar: quem tem me mostrado Deus? Às vezes, foram nossos pais, quando éramos ainda muito novos, os que nos apresentaram Deus. Talvez tenha sido alguém da escola, um(a) professor(a) ou um(a) colega. Talvez eu tenha ouvido falar d’Ele pelas ruas e tenha buscado eu mesmo encontrá-Lo. Seja qual for meu caminho, que deus me apresentaram? Era mesmo Deus?
O Deus que Jesus apresentou àqueles com quem conversava tinha forma bem definida. Jesus diz que Deus e ele são um (Jo 10, 30) e, por isso, sabemos que Deus tem os sentimentos de Jesus… procede em relação à Trindade o que se diz às vezes para falar das pessoas: “o filho é a cara do pai!”, ouve-se muitas vezes. Comparemos, portanto, a imagem do deus que nos apresentaram como a imagem do Deus que Jesus apresenta, a fim de sabermos se fomos apresentados a Deus realmente… na oração, vejamos, pelo Filho, o Pai.
O Filho afirma-se como o bom pastor, que vai atrás da ovelha perdida mesmo que seja apenas uma (Jo 10, 1-10)… O Filho não condena, perdoa, deixa ir em paz (Jo 8, 1-11)… O Filho cura e afasta o mal (Mt 8, 16)… O Filho fica triste e chora (Jo 11, 32-35). Invertendo um pouco o que popularmente se diz, pode-se afirmar, em relação à Trindade: “Tal Filho, tal Pai”. Mais uma vez: que deus me apresentaram? Foi esse, o Pai do qual falava Jesus e de quem Jesus é rosto?
Peçamos, ao fim da oração, que tenhamos sempre a graça de “experimentá-Los”, sentir a “Presença” e saber quem Eles são e o que definitivamente não podem ser.
* Conforme a “Bíblia de Jerusalém”, Editora Paulus, 2002, p. 1869.
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte