Quem como a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele
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3 de maio de 202002 de maio – Sábado da 3ª Semana da Páscoa
Texto Bíblico: Jo 6,60-69: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna”.
- Leitura: o que o texto diz?
Leia com atenção o texto de Jo 6,60-69. Estamos chegando ao fim de toda a discussão acerca do Alimento verdadeiro descido do céu. O clímax da questão sobre a identidade mistérica de Jesus como Pão do céu que dá a vida para o mundo, cujo corpo é verdadeiramente comida, e o sangue é verdadeiramente bebida. Portanto, é o momento de tomar uma decisão, a favor ou contra tudo o que foi anunciado pelo Mestre. Diante disso, os interlocutores reconhecem a dureza das palavras de Jesus, cujo conteúdo desfaz a lógica interpretativa dos judeus, parecendo inalcançável, incompreensível e insensata. Por isso, ficam escandalizados. Jesus, mesmo percebendo o mal estar, não volta atrás, quer dizer, não ameniza seu discurso, mas explicita ao máximo o que deseja dizer: “O Filho do homem subirá para onde estava antes”, ou seja, coisas maiores e mais significativas ainda acontecerão. Os interlocutores devem estar preparados para isso. Jesus revela então a natureza de suas palavras, são espírito e vida, contudo a dureza de seus corações os impede de perceberem a riqueza daquele que está diante deles. Mais uma vez, ele fala de um mistério essencial, é Deus quem os atrai. Em resposta ao discurso, muitos preferem voltar atrás, deixam de seguir o Mestre. Então, Jesus coloca em xeque também o seguimento dos apóstolos “vós também quereis ir embora?”. O Mestre não muda o discurso, nem ameniza seu pensamento. Pedro, em nome dos demais, apresenta sua profunda compreensão daquilo que Jesus anuncia: “Só tu tens palavras de vida eterna”.
- Meditação: o que o texto me diz?
Leia mais uma vez o evangelho de hoje. Agora de modo pausado e deixando o evangelho ecoar em seu interior. Observe as nuanças e questionamentos levantados pelo texto e as reações causadas pelas palavras de Jesus. De fato, são desconcertantes para seus ouvintes, pois estavam totalmente fora do horizonte interpretativo e da experiência religiosa dos judeus. Jamais imaginariam que Jesus lhes ofereceria seu corpo e seu sangue. É preciso reconhecer: não se trata apenas de um discurso intenso, mas todo o projeto messiânico de Jesus se revela exigente. A razão é fazer seus interlocutores tomarem uma decisão, saírem de cima do muro. Ele não busca pessoas favoráveis às suas palavras, mas que assumam o seu projeto de vida, realizem a obra do Pai! O quarto evangelho não tem meios termos. A mesma palavra que escandaliza a uns, dá a vida eterna, na concepção de outros. E em você? Como tudo isso chega ao seu coração? Que perspectivas são abertas?
- Oração: o que o texto me faz dizer?
Interpelados pelo profundo discurso de Jesus, seus interlocutores precisaram tomar uma decisão, permanecer ou abandonar. Muitos não conseguiram transpor suas convicções, abrir-se ao novo de Deus e preferiram deixar de seguir a Jesus. A questão é simples, é preciso tomar uma decisão. Em face ao mistério de Cristo que vem até nós, não podemos permanecer indiferentes. Essa mesma dinâmica se impõe hoje. É momento de reagir àquilo que foi gerado no encontro de hoje. Quais sentimentos se levantam? Em que direção o seu interior aponta? Siga os direcionamentos sugeridos pela leitura orante e mergulhe nas propostas do Espírito em você.
- Contemplação
Aprofundando um pouco mais a experiência de oração a partir da Sagrada Escritura, imagine-se na cena do evangelho de hoje. Várias pessoas, muitas dúvidas e uma decisão a tomar: permanecer ou ir embora? Segundo o texto, o fator determinante para a permanência dos apóstolos são as palavras de vida eterna que saem da boca de Jesus, outrora acusadas de serem duras. Na verdade, tudo se trata de uma questão de ponto de vista, para quem quer seguir essas palavras se revelam essenciais, direcionam à vida verdadeira. Porém, aos que não querem, soa como impossíveis e insensatas. Perceba de que modo a proposta de Jesus chega até você.
- Ação
Ao se deparar com um texto tão cheio de tensões e ressonâncias como o de Jo 6, o leitor precisa deixar-se afetar pelos vários elementos que se impõem. Durante toda esta semana fomos meditando nesse capítulo de João, seus impactos e as reações dos ouvintes, porém isso não deve ficar em um passado remoto. A Escritura nos questiona hoje! Diante dessa constatação, é necessário você também fazer suas escolhas. Observe em que momento essa Palavra é dura demais para você. É bem provável que isso revele atitudes que precisam ser mudadas em você.
Pe. Márcio Santos, INJ
*Membro do Instituto Religioso Nova Jerusalém. Vigário da Paróquia São Paulo Apóstolo em Mossoró-RN, Brasil. Mestre em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE). Leciona na Faculdade Católica do Rio Grande do Norte.