“Se hoje mesmo você soubesse…”
18 de novembro de 2015Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos?
21 de novembro de 2015Leitura: Lucas 19, 45-48
Jesus entrou no pátio do Templo e começou a expulsar dali os vendedores. Ele lhes disse: — Nas Escrituras Sagradas está escrito que Deus disse o seguinte: “A minha casa será uma ‘Casa de oração’.” Mas vocês a transformaram num esconderijo de ladrões. Jesus ensinava no pátio do Templo todos os dias. Os chefes dos sacerdotes, os mestres da Lei e os líderes do povo queriam matá-lo. Mas não achavam jeito de fazer isso, pois todos o escutavam com muita atenção.
Oração:
Jesus parece ter sido um homem sereno. Vemos que a paz que lhe vem do contato íntimo com o Pai não era tirada nem pelas situações mais extremas de sofrimento. Ele ensinava aos seus amigos que nenhum mérito havia em amar os mais próximos; motivava-os a amar os inimigos e a rezar por eles. Na vida, deu o exemplo. Pregado na cruz, pediu ao Pai que perdoasse quem o matava. Quando ia ser entregue, ordenou a Pedro que guardasse sua espada e não lutasse. Entre as autoridades, levando um tapa, perguntou a quem lhe bateu a razão daquilo, uma vez que Ele tinha apenas falado a verdade.
Há, porém, um momento – o único em todo o Evangelho – em que Jesus sai dessa linha e, ao contrário do que se esperaria, age com certa violência. Marcos (11, 15-17) e Mateus (21, 12-13) são mais generosos na narrativa da leitura de hoje, pois contam que Jesus “começou a expulsar os vendedores e os compradores que lá estavam: virou as mesas dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas, e não permitia que ninguém carregasse objetos através do Templo”.
É uma cena bonita e chocante, e como tem a falar para nós, os frequentadores do Templo do século XXI.
Que importância deve ter o Templo, para Jesus, para que Ele, que ceava com os pecadores, respondia aos fariseus com tranquilidade e pedia misericórdia em relação aos inimigos, tenha se irritado de tal forma – e não se contido em seu ímpeto – ao ver o Templo sendo utilizado para outros propósitos que não a oração!
Hoje somos nós os vendedores ou os compradores…
Quando desejo que as pessoas, por meio do meu discurso religioso, adotem essa ou aquela conduta sem que encontrem, antes, o Pai, estou sendo o vendedor. Quando motivo ou exijo doações à Igreja, a congregações, a comunidades, seja em forma de dinheiro, de bens, de serviços ou de tempo, sem me preocupar com o encontro dessa pessoa com Deus, sou vendedor do templo.
Quando dou o dízimo para me desincumbir das demais responsabilidades sociais e comunitárias, sou comprador. Quando administro, financio, ajudo ou me dedico a movimento, comunidade, paróquia, sem me lembrar do Dono da casa e ter com Ele diálogo, sou comprador.
Jesus derrubou até as cadeiras dos vendedores de pombas, que eram das menores ofertas que se podiam fazer. A nós, tal gesto diz que não há tolerância para o mínimo gesto de barganha, acordo ou ação de mercado com o Pai. Deus é graça e é de graça. Não há fila, pedágio, entrada, camarote… “A minha casa será ‘Casa de Oração’”, lembra Jesus. A Igreja, as igrejas todas, todas as comunidades e movimentos que não são ambiente de encontro com o Pai não têm d’Ele apenas a indiferença; têm d’Ele plena reprovação, pois enganam as pessoas e as privam, dessa forma, do que de mais precioso o Pai quer oferecer: sua própria presença.
A nossa vida de oração nos ilumine no caminho e aumente nossa percepção, nosso discernimento e nossa sensibilidade à vontade do Pai, a fim de que não sejamos compradores nem vendedores, nem oferta nas mãos de tantos falsos profetas ou pastores maus. O Templo atual, que é, além da Igreja e suas comunidades de vivência da fé, a nossa própria vida, não seja lugar de negócios com Deus, que só se dá por inteiro e prescinde de nossos favores.
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Verbum Dei de Belo Horizonte