Somos filhos da luz
6 de novembro de 2015O dever do empregado (LC 17, 7-10)
10 de novembro de 2015Leitura: João 2,13-22
Alguns dias antes da Páscoa dos judeus, Jesus foi até a cidade de Jerusalém. No pátio do Templo encontrou pessoas vendendo bois, ovelhas e pombas; e viu também os que, sentados às suas mesas, trocavam dinheiro para o povo. Então ele fez um chicote de cordas e expulsou toda aquela gente dali e também as ovelhas e os bois. Virou as mesas dos que trocavam dinheiro, e as moedas se espalharam pelo chão. E disse aos que vendiam pombas:
— Tirem tudo isto daqui! Parem de fazer da casa do meu Pai um mercado!
Então os discípulos dele lembraram das palavras das Escrituras Sagradas que dizem: “O meu amor pela tua casa, ó Deus, queima dentro de mim como fogo.”
Aí os líderes judeus perguntaram:
— Que milagre você pode fazer para nos provar que tem autoridade para fazer isso?
Jesus respondeu:
— Derrubem este Templo, e eu o construirei de novo em três dias!
Eles disseram:
— A construção deste Templo levou quarenta e seis anos, e você diz que vai construí-lo de novo em três dias?
Porém o templo do qual Jesus estava falando era o seu próprio corpo. Quando Jesus foi ressuscitado, os seus discípulos lembraram que ele tinha dito isso e então creram nas Escrituras Sagradas e nas palavras dele.
Oração: A humanidade de Jesus e Seu amor pela casa do Pai
O texto do evangelho de hoje chama-nos a atenção por dois aspectos. Primeiro, a reação de Jesus nos surpreende, quando se deparou com o comércio que se tinha estabelecido dentro do templo. Segundo, a resposta de Jesus para a provocação dos líderes judeus, os quais pediam um milagre que poderia provar Sua autoridade, nos diz muito sobre a espiritualidade cristã.
Rosto divino do homem, rosto humano de Deus. É assim que o papa João Paulo II se referia a Jesus. Nós temos sempre facilidade de enxergar o divino por trás de Jesus, quando nos lembramos dos inúmeros milagres e sábios discursos que Ele realizou, com grande autoridade. Por outro lado, temos dificuldade de pensar no Jesus que é rosto humano de Deus. Desprezamos Sua humanidade, condição magnífica que nos torna íntimos do Deus que escolheu estar próximo de Sua criação.
Sendo assim, não devíamos nos espantar com a atitude um tanto agressiva de Jesus no templo. É reação natural, humana e nada pecaminosa, o estresse diante de tamanha afronta às coisas de Deus. Ele quis defender o sagrado, que estava dando lugar às negociações e ao dinheiro, capazes de destruírem tudo aquilo que nos vem do alto.
Fico angustiado ao pensar que essa comercialização do templo se expandiu de forma astronômica nos dias atuais. O que faria Jesus diante disso? Imaginemos Sua decepção, ao notar que são os próprios membros da Igreja, participantes e representantes de Cristo nas cerimônias do templo, que vendem a necessidade de uma religião economicamente rica, com estruturas mirabolantes, de custo altíssimo, repleta de caros ornamentos e outras efemeridades. Em síntese, uma religião longe de Cristo, já que Cristo se dedica aos pequenos e pobres. Infelizmente, nossos templos têm se parecido cada dia mais com bancos e mercados. Se a reação de Jesus foi, sobretudo, uma atitude humana, como dito antes, acho que devíamos nos preocupar mais em seguir a humanidade de Jesus.
Jesus disse aos líderes dos judeus que construiria um novo templo em três dias. Ele se referia ao seu próprio corpo, o novo templo, e ao processo de sua paixão e ressurreição. De fato, Jesus modificou a localização do templo. Com Ele, não faz mais sentido um lugar único para o encontro de Deus. O corpo de Cristo, caminhante com a Igreja, faz com que seja possível encontrar Deus em inúmeros locais, e em diversas situações. Dessa forma, a espiritualidade cristã é diferente daquelas outras precedentes, porque permite uma relação bastante próxima com Deus, que não fica restrita a um espaço ou ocasião.
Rezemos hoje pela nossa Igreja, para que se livre do mercado em que se tem transformado. Peçamos a Deus o amor pela casa e as coisas do Pai, que nos deve arder como fogo que nos inflama por dentro.
Marcelo H. Camargos – acadêmico de medicina na UFMG e membro da Família Verbum Dei de BH.