Nossas riquezas, nosso tesouro e onde mora o nosso coração (Mateus 6, 19-23)
17 de junho de 2016XII Domingo do Tempo Comum – Ano C
19 de junho de 2016“— Um escravo não pode servir a dois donos ao mesmo tempo, pois vai rejeitar um e preferir o outro; ou será fiel a um e desprezará o outro. Vocês não podem servir a Deus e também servir ao dinheiro.
— Por isso eu digo a vocês: não se preocupem com a comida e com a bebida que precisam para viver nem com a roupa que precisam para se vestir. Afinal, será que a vida não é mais importante do que a comida? E será que o corpo não é mais importante do que as roupas? Vejam os passarinhos que voam pelo céu: eles não semeiam, não colhem, nem guardam comida em depósitos. No entanto, o Pai de vocês, que está no céu, dá de comer a eles. Será que vocês não valem muito mais do que os passarinhos? E nenhum de vocês pode encompridar a sua vida, por mais que se preocupe com isso.
— E por que vocês se preocupam com roupas? Vejam como crescem as flores do campo: elas não trabalham, nem fazem roupas para si mesmas. Mas eu afirmo a vocês que nem mesmo Salomão, sendo tão rico, usava roupas tão bonitas como essas flores. É Deus quem veste a erva do campo, que hoje dá flor e amanhã desaparece, queimada no forno. Então é claro que ele vestirá também vocês, que têm uma fé tão pequena! Portanto, não fiquem preocupados, perguntando: “Onde é que vamos arranjar comida?” ou “Onde é que vamos arranjar bebida?” ou “Onde é que vamos arranjar roupas?” Pois os pagãos é que estão sempre procurando essas coisas. O Pai de vocês, que está no céu, sabe que vocês precisam de tudo isso. Portanto, ponham em primeiro lugar na sua vida o Reino de Deus e aquilo que Deus quer, e ele lhes dará todas essas coisas. Por isso, não fiquem preocupados com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã trará as suas próprias preocupações. Para cada dia bastam as suas próprias dificuldades.”
O Evangelho de hoje é desafiador para a nossa fé. Peçamos ao Espírito Santo que aumente este dom em nós, levando-nos à confiança filial que somos convidados a viver.
No primeiro versículo Jesus já desafia a nossa opção fundamental. “Um escravo (no sentido de servo, quem está a serviço) não pode servir a dois donos ao mesmo tempo”. Por que? Porque “onde está o nosso tesouro, aí estará o nosso coração” (Mt 6,21). E onde está o nosso coração, é para onde dedicamos os nossos pensamentos, sentimentos, empenho, atitudes, escolhas, toda a nossa energia vital. Como estaremos a serviço de Deus, se tudo isso em nós está a serviço do dinheiro?
A busca do dinheiro é insaciável. Vemos isso aí, na Operação Lava Jato e em todos os escândalos do país. Vemos também no tráfico de drogas e de pessoas. Vemos, em menor escala, mas talvez não em menor ganância, em muitas das nossas empresas e talvez até na nossa família. Aliás, quantas famílias rompem relações por causa do dinheiro?
Além disso, a busca do dinheiro leva ao “eu” – para mim, para mim; no máximo para mim e para os meus. A busca de Deus leva ao Reino – para a justiça, para o amor, para os mais necessitados. São buscas contrárias, antagônicas e, assim, impossíveis de serem conciliadas. Jesus não está dizendo de trabalhar para se sustentar. Está questionando o “estar a serviço de”. Em tudo o que faço, no meu dia a dia, estou a serviço de que ou de quem? Quem polariza todas as minhas forças?
Buscar o dinheiro é viver apenas no imediatismo do aqui e agora, e de tudo o que o aqui agora traz: o prazer, o consumo, o culto ao corpo, o entretenimento. Buscar o serviço de Deus é ter um olhar além, numa vida que é mais do que isso, e que aqui expressa o acolá – busca o Reino e o constrói desde já. A isso é que Ele vai chamar nos versículos seguintes.
Jesus traz as necessidades do aqui – a comida, a bebida, a roupa – que geralmente nos geram preocupação e, por causa disso, gastamos todo o nosso tempo e energia em volta delas (caindo em servir ao dinheiro). Ele questiona: “Afinal, será que a vida não é mais importante do que a comida? E será que o corpo não é mais importante do que as roupas?” Será que já não recebemos de graça dons mais importantes e valiosos do que aquilo em que nos preocupamos tanto em buscar? Será que nossas buscas não estão correspondendo ao valor do que já recebemos e somos convidados a viver? “Será que vocês não valem muito mais que os passarinhos?” – aqueles, que recebem do Pai o sustento. Temos sabido receber do Pai o sustento e a beleza?
O mais essencial só se dá na relação com Deus, como dom recebido do Pai. Não temos poder de nos dar. “Nenhum de vós pode encompridar a sua vida, por mais que se preocupe com isso.” Mas, o mais importante de tudo, é que o Pai faz. O Pai dá os dons essenciais, a partir dos quais podemos viver e trabalhar para o demais, para o Reino. O chamado é viver como filhos, confiantes. Como está nossa confiança?
“Ponham em primeiro lugar na sua vida o Reino de Deus e aquilo que Deus quer, e ele lhes dará todas essas coisas.” Esse é o chamado. O que significa para mim colocar o Reino em primeiro lugar e deixar que o resto se configure a partir da busca do Reino? No concreto da minha vida, nas minhas escolhas, divisão do tempo, sentimentos e energia, o que isso significa? Peçamos ao Espírito que nos faça ver o que é uma vida a partir do Reino e nos ajude a optar e orientar a nossa.
“Não fiquem preocupados com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã trará as suas próprias preocupações. Para cada dia bastam as suas próprias dificuldades.” Eu estava com uma preocupação e ansiedade danadas por um problema com um colaborador, que vem recaindo na falta de atenção e pontualidade. Fiquei uns dias pensando nisso, e quando pensava ia longe, começava do que está havendo em que isso vai aumentando, em que vou acabar não conseguindo mais influenciar, tendo que falar com os superiores, em que se vai dar uma chance, em que ele não vai mudar e vai acabar sendo desligado. E estava sofrendo com isso, e às vezes sentindo até raiva. Ou seja, eu ia deste momento até no mínimo o fim do ano em poucos minutos e me desgastava interiormente com isso, sem tomar atitude, ou seja, sem buscar efetivamente o Reino agora. Na oração, o chamado foi exatamente este: Para cada dia, o que lhe corresponde – a parcela de busca do Reino que é própria deste dia. E confia! Me preparei então para o passo do dia, que imaginei ser a conversa com ele. E, numa construção conjunta com a equipe, nasceu um novo desafio para ele, que estava no fundo entediado. E, a partir deste desafio, foi combinada a nossa conversa para pautar as atitudes. Saiu melhor que o esperado! Mas que desafio é confiar!
Peçamos ao Pai que nos ensine a viver o abandono filial que Jesus viveu, a colocar tudo da nossa parte no hoje para buscar o Reino, e a crer que o essencial, o mais importante, o vital para o hoje e para o amanhã vem dele.
Tania Pulier, comunicadora social, membro da Família Missionária Verbum Dei e da pré-CVX Cardoner