Quem come deste pão viverá (João 6, 52-59)
15 de abril de 2016IV Domingo de Páscoa– Ano C
17 de abril de 2016“Muitos seguidores de Jesus ouviram isso e reclamaram:
— O que ele ensina é muito difícil! Quem pode aceitar esses ensinamentos?
Não disseram nada a Jesus, mas ele sabia que eles estavam resmungando contra ele. Por isso perguntou:
— Vocês querem me abandonar por causa disso? E o que aconteceria se vocês vissem o Filho do Homem subir para onde estava antes? O Espírito de Deus é quem dá a vida, mas o ser humano não pode fazer isso. As palavras que eu lhes disse são espírito e vida, mas mesmo assim alguns de vocês não creem.
Jesus disse isso porque já sabia desde o começo quem eram os que não iam crer nele e sabia também quem ia traí-lo.
Jesus continuou:
— Foi por esse motivo que eu disse a vocês que só pode vir a mim a pessoa que for trazida pelo Pai.
Por causa disso muitos seguidores de Jesus o abandonaram e não o acompanhavam mais. Então ele perguntou aos doze discípulos:
— Será que vocês também querem ir embora?
Simão Pedro respondeu:
— Quem é que nós vamos seguir? O senhor tem as palavras que dão vida eterna! E nós cremos e sabemos que o senhor é o Santo que Deus enviou.”
A graça que vamos pedir na oração de hoje é a da fidelidade e da perseverança no seguimento de Jesus Cristo.
O que era tão difícil nos ensinamentos de Jesus que alguns não o puderam suportar? Jesus estava dizendo de dar a sua carne como comida, fazer da sua existência humana concreta alimento para nós. Tendo sido o Evangelho de João escrito por volta dos anos 90 d.C., quando a perseguição aos chamados seguidores do Caminho se acirrava mais e mais, a comunidade já experimentava as consequências concretas de seguir Jesus. Ele deu a vida. Ofereceu toda a sua existência ao Pai e por Ele a nós. E a ofereceu sendo um “sim” até o final, até quando o ser humano lhe disse um “não” pregando-o num madeiro.
Nós nos unimos ao Mistério Pascal de Cristo, à sua vida, morte e ressurreição. Somos unidos a Ele no Batismo e a cada Eucaristia renovamos este caminho. No entanto, se houve consequências para Ele, há para os que O seguem também. Muitos cristãos estavam sendo mortos por professar a sua fé. E eram descobertos porque a sua vida afirmava a sua fé. Se podia dizer deles “Olha como amam!” e assim os descobriam. Porque chamavam a atenção pelo amor, e chamavam a atenção porque se contrapunham ao que negava sua fé e este amor. Eram capazes de negar a adoração aos deuses do Império Romano em nome da sua fé no Deus Vivo e Verdadeiro, Pai, Filho e Espírito Santo.

Nós a professamos diante de uma mentalidade relativista, onde cada um pensa e faz o que quer e tudo é válido. Será mesmo? Será que o defende e o que não defende a vida é igualmente válido? Será que o que valoriza cada ser humano e cada criatura e o que coloca distinção de valor entre as pessoas é igualmente válido? Como nos posicionamos nos debates atuais? Defendemos os interesses de quem? Ficamos em cima do muro? E quando nos definimos, que consequências sofremos? Estamos dispostos a elas?
Nós testemunhamos a fé numa realidade marcada pelo consumismo, que massacra o Planeta Terra e atinge sobretudo os mais pobres. Nós a testemunhamos numa realidade hedonista, que busca o prazer acima de tudo, na qual as próprias pessoas se transformaram em objetos de consumo, e o sacrifício pelo outro não existe, o sofrimento é rejeitado seja ele por que motivo for. A testemunhamos numa realidade marcada pelo individualismo, onde o “eu” está acima de tudo, do outro e até de Deus, e não se sabe defender um coletivo abrindo mão ou relativizando por ele o individual. Como a testemunhamos nessa realidade? Em que a nossa vivência marca uma diferença e fazemos opções por causa de nossa fé? O que nos custa este testemunho?
Os seguidores de Jesus perceberam as consequências concretas do seguimento a Ele e afirmaram: “O que ele ensina é muito difícil!” E em função disso tomaram a sua opção. “Por causa disso muitos seguidores de Jesus o abandonaram e não o acompanhavam mais.” Quando o seguimento não nos trouxer nenhuma consequência, podemos questioná-lo. Será que estamos no rito pelo rito, sem repercussão na nossa vida? Pois não é possível verdadeiro seguimento numa realidade que ainda apresenta a marca do pecado e da morte sem cruz. Da mesma forma que podemos questioná-lo se estivermos apenas na cruz, nos lamentos, nas lamúrias, nos conflitos, nas dificuldades, sem a alegria próprio de quem experimenta o Amor de Deus. Do destino do Mestre participam os seus seguidores, da sua morte e ressurreição, do sacrifício e da Vida plena.
Há uma experiência mais forte que a morte, isso o Ressuscitado nos ensina e é a chave da perseverança no seguimento. Isso Pedro, representando a Igreja, experienciou. Jesus questionou os Doze se eles também queriam ir embora. E Pedro respondeu: “Quem é que nós vamos seguir? O senhor tem as palavras que dão vida eterna! ” O Papa Francisco, sucessor de Pedro, continua nos ensinando a fazer na nossa vida opções contrárias às que hoje geram morte no mundo (muitas delas citadas acima) e a viver e testemunhar a alegria do Evangelho.
Peçamos ao Espírito que nos dê a coragem do autêntico seguidor de Cristo, discípulo missionário convencido e apaixonado por Ele.
Tania Pulier, comunicadora social, membro da Família Missionária Verbum Dei e da pré-CVX Cardoner