Tempo de exercitar a tolerância (Mt 18,21-35)
10 de março de 2015Tempo de construir pontes – Lc 11, 14-23
12 de março de 2015Mt 5, 17-19
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: Não penseis que vim abolir a Lei e os Profetas. Não vim para abolir, mas para dar-lhes pleno cumprimento. Em verdade, eu vos digo: antes que o céu e a terra deixem de existir, nem uma só letra ou vírgula serão tiradas da Lei, sem que tudo se cumpra. Portanto, quem desobedecer a um só destes mandamentos, por menor que seja, e ensinar os outros a fazerem o mesmo, será considerado o menor no Reino dos Céus. Porém, quem os praticar e ensinar será considerado grande no Reino dos Céus.
Essa fala de Jesus vem logo depois das bem-aventuranças e do convite de Jesus para que seus discípulos sejam sal da terra e luz do mundo. Essas duas passagens anteriores dão uma sacudida e nos chamam a rever nossa escala de valores. Esse tempo quaresmal tem me impelido a reconsiderar práticas, a rever pensamentos, crenças e posturas. Tem me chamado especial atenção o lema da campanha da fraternidade: “Eu vim para servir”. Tenho experimentado um chamado forte a redescobrir a alegria do serviço, da doação desinteressada.
Essas chamadas por mudanças podem gerar em nós certo conflito. O que fazer com o que já vivemos até hoje? Tudo o que vivi até hoje está repleto de vida e beleza também. O convite é plenificar ainda mais as vivências e não desconsiderá-las, descartá-las. E, nesse sentido, a liturgia de hoje me diz muito: não vim para abolir a lei e os profetas, mas para dar-lhes pleno cumprimento.
Me experimento cheia de desejos e anseios inacabados, e talvez daí venha o conflito. Meu desejo de servir conflita com meu desejo de ser servida. O meu desejo de comunhão com toda a humanidade conflita com meu desejo de isolamento. Como fazer para que Deus possa ir purificando os meus desejos mais genuínos, a fim de que deixem de ser fardos, mas sejam caminho e possibilidade para uma vida plena e de plena comunhão, comigo mesma, com os outros e com Ele?
Ao deixar essa passagem ressoar várias vezes em mim, ao dar espaço ao silêncio, ao não ter pressa e esperar pacientemente a manifestação do Senhor na oração, vou experimentando a tranquilidade que Deus quer me trazer: Não quero anular sua história, não vim abolir tudo o que você já viveu. Não estou me desdizendo. Apenas quero que você viva com alegria tudo aquilo para o que você foi chamada: família, trabalho, filhos, sociedade, comunidade…
Intuir que as leis de Deus são perfeitas, me faz desejá-las. Me faz querer exercitá-las. Me leva a querer abrir olhos e ouvidos para ver e ouvir muito mais! Ver e escutar a vida com muito mais profundidade, para que a minha existência não seja apenas a sucessão de dias, mas um caminho de experiências profundas.
O Senhor não vem para abolir a lei, mas para dar-lhe razão. Que seja o Senhor que dá razões para tudo o que faço. Esse é o segredo para que a vida e o serviço sejam leves, sejam caminho de realização e não de penitência.
E quando paramos para ver e ouvir as manifestações do Senhor em nós e, em seguida, colocamos em prática o que ele nos fez ver e ouvir, desenvolvemos ainda mais nossos olhos e ouvidos internos, porque constatamos que dar olhos e ouvidos ao Senhor é de grande recompensa, trazem frutos doces e saborosos.
Que a oração de hoje possa ser esse aguçar sentidos para deixar que Deus nos fale ao coração a cada instante de nossas vidas e nos dê a direção a seguir a cada momento.
Pollyanna Vieira – Família Missionária Verbum – Dei – BH – MG