“Nas mãos dos homens”
24 de setembro de 2016Sobre a humildade (Lucas 9,46-50)
26 de setembro de 2016“Ele julga a favor dos que são explorados
e dá comida aos que têm fome.”
Sl 146.7
PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Espírito Santo,
ensina-nos,
orienta nossas comunidades
a viver de acordo com os passos de Jesus.
Mostra-nos
como tornar presentes hoje
os valores e as opções
do Reino de Jesus.
Espírito Santo,
Espírito de Jesus,
mostra-nos o rosto do Pai,
a fim de que,
voltados para Ele,
busquemos servir
a seu projeto
na justiça
e na vida para todos.
TEXTO BÍBLICO: Lucas 16.19-31
A parábola do rico e de Lázaro
19Jesus continuou:
— Havia um homem rico que vestia roupas muito caras e todos os dias dava uma grande festa. 20Havia também um homem pobre, chamado Lázaro, que tinha o corpo coberto de feridas, e que costumavam largar perto da casa do rico. 21Lázaro ficava ali, procurando matar a fome com as migalhas que caíam da mesa do homem rico. E até os cachorros vinham lamber as suas feridas. 22O pobre morreu e foi levado pelos anjos para junto de Abraão, na festa do céu. O rico também morreu e foi sepultado. 23Ele sofria muito no mundo dos mortos. Quando olhou, viu lá longe Abraão e Lázaro ao lado dele. 24Então gritou: “Pai Abraão, tenha pena de mim! Mande que Lázaro molhe o dedo na água e venha refrescar a minha língua porque estou sofrendo muito neste fogo!”
25 — Mas Abraão respondeu: “Meu filho, lembre que você recebeu na sua vida todas as coisas boas, porém Lázaro só recebeu o que era mau. E agora ele está feliz aqui, enquanto você está sofrendo. 26Além disso, há um grande abismo entre nós, de modo que os que querem atravessar daqui até vocês não podem, como também os daí não podem passar para cá.”
27 — O rico disse: “Nesse caso, Pai Abraão, peço que mande Lázaro até a casa do meu pai 28porque eu tenho cinco irmãos. Deixe que ele vá e os avise para que assim não venham para este lugar de sofrimento.”
29 — Mas Abraão respondeu: “Os seus irmãos têm a Lei de Moisés e os livros dos Profetas para os avisar. Que eles os escutem!”
30 — “Só isso não basta, Pai Abraão!”, respondeu o rico. “Porém, se alguém ressuscitar e for falar com eles, aí eles se arrependerão dos seus pecados.”
31 — Mas Abraão respondeu: “Se eles não escutarem Moisés nem os profetas, não crerão, mesmo que alguém ressuscite.”
1. LEITURA
Que diz o texto?
P. José Manuel Delgado
ü Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
O que o homem rico fazia? Quem era Lázaro? Com que Lázaro queria matar a fome? Quem morreu primeiro? O que disse o rico a Abraão? Depois da negativa de Abraão, o que o rico pediu novamente? A quem não querem escutar os familiares do rico?
Algumas pistas para compreender o texto:
O Evangelho deste domingo se apresenta, de certo modo, como um prolongamento do tema da semana passada: o perigo das riquezas. Uma vez mais, Jesus utiliza uma parábola para ensinar-nos que as riquezas deste mundo são passageiras, e que colocar a confiança nelas, implica grave perigo para nossa salvação.
Apresentação das personagens:
Nos vv. 19-21, são-nos apresentados o homem rico e Lázaro, personagens em torno dos quais gira nossa narrativa. Vejamos os traços com que são descritos:
• O homem rico é mostrado em primeiro lugar como alguém que veste roupas caras e elegantes, concretamente, púrpura e linho: indicadores de grande luxo e capacidade aquisitiva. Em segundo lugar, diz-se do rico que celebrava banquetes esplêndidos, ou seja, festas; e não só em grandes ocasiões, mas todos os dias! Poder-se-ia dizer que o programa de vida desse homem assemelha-se ao do homem de outra parábola que ouvimos há alguns domingos: “Agora descanse, coma, beba e alegre-se” (Lc 12.19).
• Do outro lado, encontra-se Lázaro, cuja situação é extremamente dura e dolorosa. Não somente é pobre, mas está doente e, por isso, não pode percorrer seu caminho a mendigar, mas deve sentar-se à porta do homem rico e esperar sua misericórdia. Não devemos deixar escapar que o rico parece um homem importante, mas nem sequer sabemos seu nome; em compensação, o pobre não somente é chamado Lázaro, mas seu nome significa “Deus ajuda”.
• As personagens são apresentadas como incrivelmente distantes, apesar de estarem muito perto uma da outra. Enquanto o rico passa com sua elegância e cheio de suas festas, Lázaro espera, ao pé de sua porta, sem ser notado por ele, pois deseja matar a fome nem que seja com as migalhas que caem de sua mesa, mas não nos é dito que as tenha recebido. Enquanto o rico é notado e celebrado por todos – pois é um dador de grandes festas –, Lázaro recebe somente a “atenção” dos cachorros.
Igualdade radical e verdadeira realidade
Os que pareciam tão diferentes e tão distantes em vida são igualados pela morte, que chega da mesma maneira para ricos e pobres (v. 22). No entanto, embora os dois morram, o “desenlace” de suas vidas não é o mesmo:
• Lázaro é levado pelos anjos “para o seio de Abraão”, entendido como o céu, enquanto do rico se diz que foi sepultado e que sofria muito em meio a tormentos no lugar dos mortos (v. 23). Trata-se de uma clara “inversão” da realidade que ambos viviam na vida da terra. O que parecia pobre, agora é feliz, enquanto aquele que se acreditava rico, encontra-se na miséria mais profunda.
• O homem continua dando ordens: sob uma aparente petição de misericórdia, o homem rico pensa que pode continuar a mesma lógica de sempre e “gerencia” seu problema: como está sofrendo no fogo, a solução é que Lázaro, a quem ele considera inferior, deve “servi-lo”, trazendo-lhe água ao menos com a ponta do dedo (vv. 23-24).
• Abraão responde-lhe que deve lembrar que ele já recebeu muitos bens, e Lázaro, males, e que agora, na situação definitiva, acontece o contrário. Parece uma explicação do princípio que Lucas já anunciava no sermão da planície: “Felizes são vocês, os pobres, pois o Reino de Deus é de vocês. Mas ai de vocês que agora são ricos, pois já tiveram a sua vida boa” (Lc 6.20,24).
• Contudo, o que mais chama a atenção é que Abraão mostra-lhe que entre os que se salvaram e os que estão “nos infernos”, há um abismo enorme, que não pode ser ultrapassado (v. 26). Desse modo, a parábola ensina-nos que a distância que o rico impôs a Lázaro na terra, encontra-a invertida na realidade transcendente. Com outras palavras: a distância que colocamos entre nossos irmãos necessitados é a mesma que nos separará de Deus na vida eterna.
A Palavra é quem nos adverte
Por fim, o rico diz a Abraão (continua a dar ordens disfarçadas de súplicas) que ao menos mande Lázaro avisar seus irmãos do risco que correm, para que não terminem igual a ele (v. 27). A resposta de Abraão é surpreendente: já têm a Moisés e aos Profetas, ou seja, à Palavra de Deus (v. 29). E diante da insistência do rico, explica que quem não põe sua confiança no poder da Palavra, não poderá compreender a realidade da vida eterna, mesmo que um morto se lhe apresentasse (v. 31).
A parábola de hoje poderia, pois, ser entendida como a ampliação da máxima de Jesus, escutada na semana passada: “Por isso eu digo a vocês: usem as riquezas deste mundo para conseguir amigos a fim de que, quando as riquezas faltarem, eles recebam vocês no lar eterno” (Lc 16.9). O Senhor convida-nos a confiar na misericórdia e no amor mais do que nas riquezas, pois os primeiros nos levam à vida, ao passo que as segundas nos conduzem ao suplício eterno.
O que o Senhor me diz no texto?
O orgulho e a arrogância são atitudes que cultivamos como consequência do acúmulo de “riquezas”, como conhecimento, poder, beleza, dinheiro, entre outras coisas, e cometemos muitas injustiças, ou pior, ficamos cegos para a realidade de muitos que estão bem perto de nós. Com outras palavras, a mesma distância que colocamos entre nós e nossos irmãos necessitados é a que nos separará de Deus na vida eterna, e nos esquecemos de que Jesus nos enviou como membros de uma comunidade de vida, justamente para que unamos nossas riquezas comuns e nos ajudemos uns aos outros. A riqueza, em si, não é má; o que devemos avaliar é quanto ela faz deste mundo um lugar melhor para que todos possamos viver com dignidade.
Pegamos um texto no qual São João Paulo II se referiu a este Evangelho: “Nesta parábola, Cristo não condena o rico porque é rico, ou porque veste luxuosamente. Ele condena fortemente o rico que não leva em consideração a situação de penúria do pobre Lázaro, que deseja tão somente alimentar-se das migalhas que caem da mesa do festim. Cristo não condena a simples posse de bens materiais. Mas as suas palavras mais duras dirigem-se para aqueles que usam sua riqueza de maneira egoísta, sem se preocupar com o próximo, a quem falta o necessário.
“Com estas palavras, Cristo coloca-se do lado da dignidade humana, do lado daqueles cuja dignidade não é respeitada, do lado dos pobres. ‘Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus’ (Mt 5.3). Sim, bem-aventurados os pobres, os pobres de bens materiais que conservam, no entanto, sua dignidade de homem. Bem-aventurados os pobres, aqueles que, por causa de Cristo, têm uma especial sensibilidade por seu irmão ou sua irmã que padece necessidade; por seu próximo que é vítima de injustiças; por seu vizinho que sofre tantas privações, inclusive a fome, a falta de emprego ou a impossibilidade de educar dignamente seus filhos.
“Bem-aventurados os pobres, os que sabem se desapegar de suas posses e de seu poder, para colocá-los a serviço dos necessitados, para se comprometer na busca de uma ordem social justa, para promover as mudanças de atitudes necessárias a fim de que os marginalizados possam encontrar lugar à mesa da família humana”
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
Que riqueza considero que estou acumulando? Que poderia dizer sobre minha capacidade de partilhar? Conheço alguma pessoa que tem riquezas econômicas e sabe como partilhá-las? Faço bom uso de meus bens e daqueles que são da paróquia ou da comunidade?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Senhor, ensina-me a ser generoso,
a dar sem calcular,
a pagar o mal com o bem,
a servir sem esperar recompensa,
a aproximar-me de quem menos me agrada,
a fazer o bem ao que não pode retribuir-me,
a amar sempre gratuitamente,
a trabalhar sem preocupar-me com o repouso.
E, quando não tiver algo para dar,
ensina-me a doar-me em tudo e cada vez mais
a quem necessita de mim,
esperando somente de ti
a recompensa.
Ou melhor: esperando que tu mesmo
sejas minha recompensa.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, me minha vida, os ensinamentos do texto?
Senhor, abre minha mente e meu coração
para que tua Palavra ilumine sempre o meu agir.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Busco um jovem que tenha uma necessidade material (comida ou roupa). Com meu esforço e/ou pedindo ajuda a vários amigos, entregar-lhe-ei algo que satisfaça um pouco sua necessidade, e faremos juntos uma oração.
“Um bom cristão, um avaro do céu, faz pouco caso dos bens da terra; somente pensa em embelezar sua alma, em obter o que deve contentá-lo sempre, o que deve durar sempre.”
São João Maria Vianey