Delas é o Reino do Céu (Mt 19,13-15)
13 de agosto de 2016Um convite ao despojamento
15 de agosto de 2016“Feliz aquele que confia em Deus, o Senhor,
que não vai atrás dos ídolos,
nem se junta com os que adoram falsos deuses”
Sl 40.4
PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Espírito de amor, concede-me:
uma inteligência que te conheça;
uma angústia que te procure;
uma sabedoria que te encontre;
uma vida que te agrade;
uma perseverança que, enfim, te possua.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: Lucas 12.49-53
Divisão por causa de Jesus
Mateus 10.34-36
49Jesus continuou:
— Eu vim para pôr fogo na terra e como eu gostaria que ele já estivesse aceso! 50Tenho de receber um batismo e como estou aflito até que isso aconteça! 51Vocês pensam que eu vim trazer paz ao mundo? Pois eu afirmo a vocês que não vim trazer paz, mas divisão. 52Porque daqui em diante uma família de cinco pessoas ficará dividida: três contra duas e duas contra três. 53Os pais vão ficar contra os filhos, e os filhos, contra os pais. As mães vão ficar contra as filhas, e as filhas, contra as mães. As sogras vão ficar contra as noras, e as noras, contra as sogras.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Pe. Daniel Kerber
Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
O que Jesus gostaria que já estivesse aceso? Quem está sofrendo? De acordo com este texto: o que Jesus veio trazer?
Algumas pistas para compreender o texto:
O texto deste domingo é a continuação do evangelho do domingo passado. Distinguimos duas partes na passagem. Na primeira, mostra-se Jesus perante sua páscoa (vv. 49-50), e na segunda, Jesus como sinal de contradição (vv. 51-53).
Jesus apresenta-se como alguém que veio para trazer fogo, um fogo que é sinal de purificação, mas também de encontro com Deus. No fogo, Deus encontra-se com Moisés (Êx 3.2-3); João Batista já havia anunciado que aquele que viria depois dele batizaria com Espírito Santo e com fogo (Lc 3.16). De fato, em Pentecostes, diz-se que “coisas parecidas com chamas, que se espalharam como línguas de fogo” (At 2.3s), tocaram cada pessoa e todos ficaram cheios do Espírito Santo. Jesus, porém, mostra também que sua missão ainda não está cumprida: “…como eu gostaria que ele já estivesse aceso!” (v. 49). Esse desejo de Jesus envolve diretamente o leitor. Não podemos permanecer simplesmente como espectadores do desejo de Jesus. Escutar tais palavras leva a uma tomada de decisão. Estamos dispostos a deixar-nos incendiar pelo fogo de Jesus, e transformar-nos também nós em portadores desse fogo?
Em seguida, Jesus fala mais diretamente de “uma prova terrível” (literalmente, um “batismo”) que será realizada por sua paixão, culminando na ressurreição. Ele sabe que tem uma missão, que tal missão passa pela prova da dor e está radicalmente decidido a cumpri-la.
Os dizeres dos vv. 51-53 parecem surpreendentes. Tínhamos escutado que viria aquele que guiaria nossos passos pelo caminho da paz (Lc 1.79), inclusive os anjos tinham cantado “Glória a Deus nas maiores alturas do céu! E paz na terra para as pessoas a quem ele quer bem!” (Lc 2.14). Como é que agora se anuncia a divisão por causa de Jesus? Certamente Jesus veio trazer a paz, mas esse oferecimento de paz também exige tomar uma decisão. É uma paz que não se impõe, mas que se oferece, e para recebê-la, é necessário decidir-se por ela, e essa decisão supõe seguir Jesus e preferi-lo a tudo: “Quem quiser me acompanhar não pode ser meu seguidor se não me amar mais do que ama o seu pai, a sua mãe, a sua esposa, os seus filhos, os seus irmãos, as suas irmãs e até a si mesmo” (14.26s).
Jesus, que precisa enfrentar uma prova terrível, decide passar por ela e, com isso, conquista para nós a paz; por isso, depois de sua ressurreição, dará a paz a seus discípulos quando estiverem reunidos em Jerusalém, no momento da volta dos discípulos de Emaús (24.36); com efeito, a comunidade primitiva não será uma comunidade dividida, mas terá uma só alma e um só coração (At 4.32).
O que o Senhor me diz no texto?
Jesus surpreende com suas palavras, pois nos pede sermos motivo de divisão, o que não significa ser motivo de conflito. Este é um convite para que nossa vida de fé seja uma constante reflexão de toda a informação que o mundo nos fornece, discernindo-a à luz do Evangelho. Somente centrando nossos princípios na fé, estaremos firmes para ser sinais de contradição como, em seu tempo, o Senhor foi.
O Papa Bento XVI anima-nos a meditação com o texto seguinte: “Quem conhece um pouco o Evangelho de Cristo, sabe que é mensagem de paz por excelência; o próprio Jesus, como escreve São Paulo, ‘é a nossa paz’ (Ef 2.14), morto e ressuscitado para derrubar o muro da inimizade e inaugurar o Reino de Deus que é amor, alegria e paz. Como se explicam então estas suas palavras?
“A que se refere o Senhor quando diz que veio trazer segundo a redação de São Lucas a “divisão”, ou segundo a de São Mateus a “espada” (Mt 10.34)?
Esta expressão de Cristo significa que a paz que Ele veio trazer não é sinónimo de simples ausência de conflitos. Ao contrário, a paz de Jesus é fruto de uma luta constante contra o mal. O confronto que Jesus está decidido a enfrentar não é contra homens ou poderes humanos, mas contra o inimigo de Deus e do homem, satanás. Quem quer resistir a este inimigo permanecendo fiel a Deus e ao bem deve necessariamente enfrentar incompreensões e às vezes verdadeiras perseguições.
“Por isso, quem deseja seguir Jesus e comprometer-se sem hesitações pela verdade deve saber que encontrará oposições e se tornará, infelizmente, sinal de divisão entre as pessoas, até no interior das suas próprias famílias. O amor aos pais é um mandamento sagrado, mas para ser vivido de modo autêntico nunca pode ser anteposto ao amor de Deus e de Cristo. Deste modo, seguindo as pegadas do Senhor Jesus, os cristãos tornam-se ‘instrumentos da sua paz’, segundo a célebre expressão de São Francisco de Assis. Não de uma paz inconsistente e aparente, mas real, perseguida com coragem e tenacidade no compromisso quotidiano por vencer o mal com o bem (cf. Rm 12.21) e pagando pessoalmente o preço que ela exige.
“A Virgem Maria, Rainha da Paz, partilhou até ao martírio da alma a luta do seu Filho Jesus contra o maligno, e continua a partilhá-la até ao fim dos tempos. Invoquemos a sua proteção materna, para que nos ajude a ser sempre testemunhas da paz de Cristo, sem nunca descer a compromissos com o mal”.
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
Para mim, seguir Jesus tem tido como consequência ser sinal de contradição em meu ambiente? Que momentos de confronto interior tenho vivido? O que faço quando tenho uma conversa com alguém que não crê ou pretende questionar meu agir?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Pai,
ensina-nos a viver uma fé adulta e comprometida,
que não fuja diante dos conflitos e das provas;
que descubra, nas tensões de ser fiel à tua Palavra,
uma alegria serena, profunda,
que encha a vida e a torne forte diante das adversidades.
Caminhar em tua presença, seguir os passos de teu Filho, caminhar no Espírito
não são tarefas simples se alguém quiser fazer isso com fidelidade histórica,
respondendo aos desafios e às injustiças desses tempos.
Anunciar e viver os valores do Reino
trazem conflito interior, processos de discernimento,
muitas vezes, incompreensão e solidão.
Dá-nos teu Espírito, Jesus,
para aprendemos a viver com alegria
nosso testemunho cotidiano de discípulos.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, me minha vida, os ensinamentos do texto?
Jesus, que eu seja fogo de vida como tu!
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Farei uma lista das pessoas e dos lugares onde me é mais difícil anunciar o Evangelho e pensarei no que posso fazer para superar as dificuldades. Colocarei estas preocupações na oração.
“Não existe coisa que me dê mais contentamento do que a discrição que Jesus conservou tão exatamente durante a narrativa da paixão. À sua imitação, não abramos a boca senão para rezar pelos que nos afligem e maltratam.”
Santa Margarida Maria Alacoque