O nascimento de Jesus é anunciado (LC 1,26-38)
9 de abril de 2018Acolher o presente
11 de abril de 2018Leitura: João 3, 7b-15
Naquela noite, Jesus disse então a Nicodemos:
— Por isso não fique admirado porque eu disse que todos vocês precisam nascer de novo. O vento sopra onde quer, e ouve-se o barulho que ele faz, mas não se sabe de onde ele vem, nem para onde vai. A mesma coisa acontece com todos os que nascem do Espírito.
— Como pode ser isso? — perguntou Nicodemos.
Jesus respondeu:
— O senhor é professor do povo de Israel e não entende isso? Pois eu afirmo ao senhor que isto é verdade: nós falamos daquilo que sabemos e contamos o que temos visto, mas vocês não querem aceitar a nossa mensagem. Se vocês não creem quando falo das coisas deste mundo, como vão crer se eu falar das coisas do céu? Ninguém subiu ao céu, a não ser o Filho do Homem, que desceu do céu.
— Assim como Moisés, no deserto, levantou a cobra de bronze numa estaca, assim também o Filho do Homem tem de ser levantado, para que todos os que crerem nele tenham a vida eterna.
Oração:
O evangelho de João, antes de apresentar esse trecho da conversa, conta-nos que Nicodemos era do grupo dos fariseus (Jo 3, 1), grupo com o qual Jesus teve inúmeros debates. Esse homem, que João nos conta ser um “notável entre os judeus”, procura Jesus à noite… não lhe convinha que os demais percebessem que ele dava crédito ao que Jesus falava às claras. Procurou-o à noite portanto…
Podemos começar a oração de hoje olhando Nicodemos a caminho de onde Jesus estava. Ele sai de casa, não conta aonde vai, vai calado, disfarçado talvez… mas se coloca a caminho e chega, encontra, fala e ouve. Em que ponto estou na caminhada da fé? Eu me pareço com Nicodemos? Ou para mim o encontro com Jesus não é desafiador, não me põe em risco, não me atrai julgamentos? Pode ser que eu viva minha fé sem grandes perseguições, pode ser que eu não coloque em risco meu lugar na sociedade devido à minha fé tal qual ocorreria com Nicodemos se assumisse que lhe interessava o que Jesus dizia, mas o seguimento, se é verdadeiro, traz sempre algum risco. Enquanto este mundo não for como o Reino, o seguimento real será arriscado. Por isso, se eu sigo, sou de alguma forma parecido com Nicodemos. Olhemos para esse homem e perguntemos a ele: o que de você eu tenho? O que você sente? Quais medos eu também tenho? E, com ele, digamos forte, mesmo que só por dentro: “Não importa! Se eu não for à luz do dia, irei sob a sombra da noite, pois preciso ouvir o que Ele tem para dizer. Irei. Com medo, irei. É arriscado… irei mesmo assim. Irei.”
Percorremos com Nicodemos o caminho. Chegamos e estamos de frente com Jesus. Jesus olha e sorri. Não lhe importa a hora, o modo como resolvi procurá-lo. Importa-lhe só isto: eu estou ali. Ele então me diz: “Você tem de nascer de novo”. Eu não entendo o que ele quer dizer. Ele continua: “O vento sopra onde quer, e ouve-se o barulho que ele faz, mas não se sabe de onde ele vem, nem para onde vai. A mesma coisa acontece com todos os que nascem do Espírito”.
Preciso ouvir e rezar a afirmação de Jesus. Você precisa nascer de novo. O que ele quer me dizer? Você precisa nascer de novo. Sim, já nasci, já tenho vida. Nascer de novo? Você fala de partes de mim que talvez tenham perdido a vida? Você precisa nascer de novo. Quando se nasce, perde-se a segurança de um lugar de proteção por todos os lados, mas é um lugar onde eu não poderia caminhar sozinho, onde não poderia falar, onde não se via a plena luz. Você precisa nascer de novo. Que lugares, coisas, sentimentos, pessoas eu preciso deixar, mesmo que sinta insegurança ao fazê-lo, mesmo que sinta medo e dor, para ver a luz? Que ou quem preciso deixar para, como uma criança nascendo, ser dado à luz! Jesus olha de novo. Nascer de novo porque é preciso ser nascente sempre. Estar sempre nascendo, deixando as seguranças e arriscando por caminhos de mais autonomia, mesmo que eu me sinta com medo dos primeiros passos. Ser nascente… estar sempre aberto ao novo, ao que virá, à luz maior. Ser nascente… porque quem se dispõe a isso abastece outras vidas, rega o mundo todo, como a nascente humilde do rio, que, nascente, é só pouca e pura água, cheia de esperança de leitos profundos em direção ao mar…
Na oração, começo a reconhecer que a vida está cheia de novos nascimentos. Nem sempre eu sou quem causa esses (re)nascimentos. Há “acasos”, acontecimentos e horas sem muita explicação. Segundos que mudam tudo. Ali estou. (Re)nascer é a única opção. Todos já passamos por esses momentos, aqueles nos quais o chão firme de antes está mole, onde as muralhas altas e protetoras de outrora são nada. Eu só posso enfrentar, ir adiante. Para nascer de novo, para viver esse momento, Jesus continua instruindo: “O vento sopra onde quer, e ouve-se o barulho que ele faz, mas não se sabe de onde ele vem, nem para onde vai. A mesma coisa acontece com todos os que nascem do Espírito”.
O vento sopra onde quer… Deus é outro, livre… Ouve-se o barulho que ele faz… Às vezes Deus é suave, e seu barulho é como o farfalhar das folhas duma árvore… Às vezes, é vento mais forte… De uma forma ou de outra, ouve-se o barulho… Se houver ouvido atento, ouve-se a Voz. Não se sabe de onde ele vem… Sim, há inúmeras coisas da vida que eu não consigo explicar. Por que foi assim? O que foi a causa? Não sei, não sei de onde vem… Nem para onde vai… E agora? O que será depois? O que virá? A mesma coisa acontece com todos os que nascem do Espírito… Na oração, revejo minha vida e coloco-a nas mãos da Trindade. Peço para ser filho(a) deles, que Eles me ajudem a (re)nascer, essa que é a única forma de ter paz e alegria quando eu não sei dos pretéritos e dos futuros… e sei do valor do presente que tenho para viver.
João Gustavo H. M. Fonseca, Família Missionária Verbum Dei