Iluminando os demônios (Mc 5,1-20)
1 de fevereiro de 2016Permitir que Jesus faça os milagres (Mc 6,1-6)
3 de fevereiro de 2016Quando se completaram os dias para a purificação da mãe e do filho, conforme a lei de Moisés, Maria e José levaram Jesus a Jerusalém, a fim de apresentá-lo ao Senhor. Conforme está escrito na lei do Senhor: “Todo primogênito do sexo masculino deve ser consagrado ao Senhor”.
Foram também oferecer o sacrifício — um par de rolas ou dois pombinhos — como está ordenado na Lei do Senhor. Em Jerusalém, havia um homem chamado Simeão, o qual era justo e piedoso, e esperava a consolação do povo de Israel. O Espírito Santo estava com ele e lhe havia anunciado que não morreria antes de ver o Messias que vem do Senhor.
Movido pelo Espírito, Simeão veio ao Templo. Quando os pais trouxeram o menino Jesus para cumprir o que a Lei ordenava, Simeão tomou o menino nos braços e bendisse a Deus: “Agora, Senhor, conforme a tua promessa, podes deixar teu servo partir em paz; porque meus olhos viram a tua salvação, que preparaste diante de todos os povos: luz para iluminar as nações e glória do teu povo Israel”.
O pai e a mãe de Jesus estavam admirados com o que diziam a respeito dele. Simeão os abençoou e disse a Maria, a mãe de Jesus: “Este menino vai ser causa tanto de queda como de reerguimento para muitos em Israel. Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações. Quanto a ti, uma espada te traspassará a alma”. Havia também uma profetisa, chamada Ana, filha de Fanuel, da tribo de Aser. Era de idade muito avançada; quando jovem, tinha sido casada e vivera sete anos com o marido. Depois ficara viúva, e agora já estava com oitenta e quatro anos. Não saía do Templo, dia e noite servindo a Deus com jejuns e orações. Ana chegou nesse momento e pôs-se a louvar a Deus e a falar do menino a todos os que esperavam a libertação de Jerusalém. Depois de cumprirem tudo, conforme a Lei do Senhor, voltaram à Galileia, para Nazaré, sua cidade. O menino crescia e tornava-se forte, cheio de sabedoria; e a graça de Deus estava com ele.
O texto de hoje é muito rico e há diversas pérolas a serem retiradas dele. Contudo, o que chamou mais a minha atenção, e peço auxílio ao Espírito Santo para uma melhor compreensão, foi a afirmação de Simeão que diz: “Ele será um sinal de contradição. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações.”
Muitas passagens do evangelho me vêm à mente, porém acredito que a recordação de três serão suficientes para aprofundarmos no que a profecia de Simeão quer nos dizer.
A primeira é retirada de Lucas 12, versículos 51 e 52, e diz assim: “Vocês pensam que eu vim trazer paz ao mundo? Pois eu afirmo a vocês que não vim trazer paz, mas divisão. Porque daqui em diante uma família de cinco pessoas ficará dividida: três contra duas e duas contra três”.
Esses versículos fazem ressoar na boca de Jesus a profecia de Simeão. Jesus logo percebe que a proposta que Ele veio trazer à humanidade, não seria muito facilmente digerida. Mesmo no seio de uma família, onde há uma razoável coesão de pensamentos e ideias, haveria aqueles que aceitariam Jesus e os que o negariam, aqueles que procurariam segui-lo e os que zombariam destes.
Onde há contradição, há necessidade de escolha. Ou nós aceitamos o novo, a novidade que se opõe ao antigo, ou ficamos com o antigo. Alguns até procuram ficar em cima do muro. Não tomar partido. Às vezes parece até adequado, mas é um perigo. O livro do Apocalipse diz: “Mas, porque são apenas mornos, nem frios nem quentes, vou logo vomitá-los da minha boca” (Ap 3, 16).
Jesus suscita a contradição, porque Ele quer revelar o que está em nosso coração. Ele mesmo já sabe, mas é necessário que nós também o saibamos, que conheçamos nosso próprio coração para poder purificá-lo.
A segunda passagem da qual lanço mão é aquela em que Jesus se coloca à mesa na casa do fariseu Simão (Lc 7, 36-50). Uma mulher pecadora se coloca por trás dos pés dele, usa as lágrimas de seu choro para lavá-los e os enxuga com seus cabelos.
Para Simão, há uma contradição enorme: como Jesus, sendo um profeta, deixa que uma pecadora lhe toque? Jesus apresenta, então, uma novidade a Simão: o amor daquela mulher é agraciado com o perdão de todos os seus pecados. Jesus não é a contradição, mas sinaliza uma contradição que precisa ser trabalhada em Simão. Simão precisa escolher ao lado de quem, ou do quê ele quer ficar. Ficará preso à letra fria da lei, ou viverá a liberdade que o amor promove?
Como temos vivido contradições deste tipo? De que lado nos posicionamos? Procuramos enxergar o que há de bom no interior do outro, ou preferimos condenar pelas aparências? Condenamos simplesmente a partir do que alguém fofocou conosco ou publicou em qualquer lugar, sem nenhuma prova, ou procuramos os pontos positivos da pessoa e damos aquela força para ela?
A terceira é a famosíssima passagem da mulher flagrada em adultério, na qual Jesus diz àqueles homens que a queriam apedrejar: “Quem de vocês estiver sem pecado, que seja o primeiro a atirar uma pedra nesta mulher!” (Jo 8, 3-11).
Jesus mostra àqueles homens e a nós que, quando condenamos alguém por seus pecados, é sempre uma contradição, pois nós todos, sem exceção, somos pecadores. Além disso, Ele, que não tinha pecado, ao ficar sozinho com a mulher lhe diz: “Pois eu também não condeno você. Vá e não peque mais!”. Ora, o amor não condena, o amor liberta.
A lógica do amor vivida por Jesus é sempre um sinal de contradição, pois estamos, via de regra, nos fechando em nós mesmos, porém o amor exige constante abertura para o outro.
Portanto, não fiquemos escondendo as contradições, colocando panos quentes. As contradições devem ser vividas. Percebê-las é graça de Deus. Elas são nossas oportunidades de melhorar, de escolhermos o caminho mais adequado, aquele que nos aproxima mais do Senhor.
Deixemos que Jesus nos ilumine e nos auxilie a discernirmos o caminho a seguir. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte