Passemos para outra margem (Mc 4, 35-41)
27 de janeiro de 2018Jesus: a cura certa
29 de janeiro de 2018PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Vem, Espírito Santo, e batiza-me com teu fogo.
Quero ser criatura nova.
Vem, Espírito Santo, para que com teu impulso,
passe da escuta à vivência do evangelho.
Vem, Espírito Santo, e dá-me a força para seguir Jesus.
Sê tu mesmo meu companheiro.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: Marcos 1.21-28
Um homem dominado por um espírito mau
Lucas 4.31-37
21Jesus e os discípulos chegaram à cidade de Cafarnaum, e, no sábado, ele foi ensinar na sinagoga. 22As pessoas que o escutavam ficaram muito admiradas com a sua maneira de ensinar. É que Jesus ensinava com a autoridade dele mesmo e não como os mestres da Lei. 23Então chegou ali um homem que estava dominado por um espírito mau. O homem gritou:
21— O que quer de nós, Jesus de Nazaré? Você veio para nos destruir? Sei muito bem quem é você: é o Santo que Deus enviou!
25Então Jesus ordenou ao espírito mau:
— Cale a boca e saia desse homem!
26Aí o espírito sacudiu o homem com violência e, dando um grito, saiu dele. 27Todos ficaram espantados e diziam uns para os outros:
— Que quer dizer isso? É um novo ensinamento dado com autoridade. Ele manda até nos espíritos maus, e eles obedecem.
28E a fama de Jesus se espalhou depressa por toda a região da Galileia.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
- · Onde entra Jesus e em que dia da semana? Por que isso é importante?
- · Como as pessoas reagem diante do ensinamento de Jesus? Em que consiste a autoridade de Jesus?
- · É verdade o que diz o espírito impuro a respeito de Jesus? O que Jesus diz e faz?
- · Como as pessoas reagem diante da ação de Jesus?
Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini
Depois do chamado dos primeiros discípulos (1.16-20), Marcos apresenta-nos Jesus em ação; ao mesmo tempo, porém, coloca em relevo a impressão que ele causava nas pessoas, o efeito que suas palavras e ações produziam. O relato de hoje descreve duas ações de Jesus e as respectivas reações das pessoas, mas conserva a unidade, porquanto tudo acontece na sinagoga na qual Jesus entra (1.21) e da qual sai (1.29).
Concretamente, situa-nos em um dia de sábado, quando, ao chegar a Cafarnaum, Jesus entra na sinagoga e ali ensina.
A reação das pessoas é uma mistura de assombro e admiração porque Jesus ensinava com autoridade, o que significa que falava de Deus com conhecimento próprio, em contraposição aos escribas, que eram os mestres “oficiais”. Através das fontes rabínicas, sabemos que “seu modo de ensinar se baseava na citação e interpretação de textos de rabinos ilustres que constituíam uma espécie de jurisprudência. Não expunham uma experiência pessoal: limitavam-se a repetir uma e outra vez o que os mestres consagrados haviam proposto” (J. Mateo – F. Camacho). Ou seja, não ensinavam a partir de sua própria experiência de Deus, mas eram repetidores de tradições humanas. Por outro lado, as pessoas admiram Jesus não tanto pelo conteúdo de seu ensinamento, mas pela qualidade pessoal manifestada no modo de ensinar, pois Jesus o fazia com autoridade, com “conhecimento próprio”, com experiência pessoal, cheio do Espírito Santo e manifestando sua condição de Filho de Deus. Por isso, as pessoas reconhecem que, por meio dele, fala-lhes o próprio Deus: é um verdadeiro profeta.
Ali mesmo, na sinagoga, havia um homem possuído por um “espírito mau” que se põe a gritar de modo desafiador. O “espírito” é um princípio ativo, ou seja, o que move o homem a pensar e a agir de determinada maneira. “Mau” ou “impuro” é o contrário de “bom”, “puro” ou “santo”, ou seja, todo aquele que não pode oferecer-se a Deus e onde Deus não pode estar presente. Portanto, ao contrário do “bom”, ao possuir um “espírito mau”, este homem estava distanciado de Deus: seu pensar e agir eram contrários a Deus. A primeira exclamação deixa claro que este espírito mau nada tem em comum com Jesus. Além do mais, interpreta a ação de Jesus como um perigo destrutivo para ele.
Na segunda exclamação, Jesus é reconhecido como “o Santo que Deus enviou”. Como vimos, o santo é o oposto do impuro, é aquele que pode oferecer-se a Deus e onde Deus pode fazer-se presente, e porque Deus está presente, é santo. Por conseguinte, o espírito mau reconhece e até confessa que Deus, o Santo, está presente em Jesus; com outras palavras: Jesus é o santo de Deus, pois nele Deus se faz presente, manifesta-se e age no mundo.
A reação imediata de Jesus é ordenar que o espírito mau se cale e saia do homem. E sua palavra revela-se soberana e eficaz, visto que, em seguida, o espírito obedece e sai do homem. Pois bem, “silenciando os demônios, Jesus demonstra que é chegada a soberania de Deus sobre o mundo. De fato, o mundo está sob o domínio de Satanás, do mal, e Jesus vem libertá-lo, resgatá-lo de seu poder. Justamente quem aceita o Reino de Deus, a soberania de Deus, fica livre do domínio dos espíritos maus.
Segue-se nova descrição da reação de admiração das pessoas diante do ensinamento de Jesus, à qual agora se acrescenta aquela provocada pelo exorcismo. Aqui aparece claro que a autoridade divina de Jesus ao ensinar é confirmada por sua ação, por seu senhorio sobre os espíritos maus.
O relato conclui-se assinalado a difusão da notícia ou da fama de Jesus por toda a região da Galileia.
O que o Senhor me diz no texto?
No domingo passado, vimos que Jesus anunciava e também tornava presente o Reino de Deus entre os homens. Em Jesus o reinado, a soberania de Deus se avizinham. Hoje se nos diz como Jesus torna presente o reinado de Deus: através de suas ações que libertam os homens do mal.
Portanto, somos convidados a pôr os olhos em Jesus, escutá-lo e vê-lo agir. Escutar Jesus, porque ele é a Palavra pessoal de Deus. Jesus não apenas nos transmite a palavra de Deus, mas ele mesmo é a Palavra de Deus. Esta é a verdade sobre Jesus que deve “atingir-nos”, “chocar-nos”, encher-nos de admiração e assombro.
Ao mesmo tempo, o evangelho que se proclama neste domingo nos coloca diante da autoridade que a Palavra de Jesus tem. A Palavra de Deus tem autoridade porque realiza o que diz… é criadora… Deus fala-nos e o que ele diz se realiza em nós (L. Rivas). Conseguintemente, nossa reação diante desta Palavra de Deus que é Jesus Cristo deve ir além do assombro e da escuta, até chegar à fé como encontro pessoal e vital com ele.
Agora contemplemos Jesus Cristo, Palavra de Deus, em ação: manda calar o espírito impuro e o expulsa do homem. Ele é o Santo de Deus que nos purifica, que nos torna agradáveis ao Pai, que nos aproxima de Deus. De fato, a Palavra de Deus purifica-nos e silencia muitos ruídos do mundo que nos atormentam, a fim de convidar-nos a entrar no silêncio de Deus.
Precisamos que o Senhor silencie as inúmeras vozes que nos ensurdecem, que nos confundem, que nos impedem de escutar somente a ele. A Palavra exige o silêncio.
Jesus é a palavra de Deus, o Santo de Deus e, por isso, sua Palavra purifica-nos. O evangelho de João (17.17) no-lo diz expressamente: “Que eles sejam teus por meio da verdade; a tua mensagem é a verdade”. Assim, “os discípulos são, de certo modo, ‘submergidos no íntimo de Deus mediante sua imersão na Palavra de Deus. A Palavra de Deus é, por assim dizer, o banho que os purifica, o poder criador que os transforma no ser de Deus”.
Em um segundo momento, devemos aprender de Jesus, de seu modo de ensinar e de agir, pois, vivendo unidos a ele, fomos chamados a prolongar sua própria missão. Por isso é que se espera dos cristãos que falemos de Deus com autoridade, como quem o conhece por experiência, pois nos encontramos com ele e damos testemunho do que vimos e ouvimos.
O Papa Francisco insiste nestes temas na Evangelii Gaudium: “Renovemos a nossa confiança na pregação, que se funda na convicção de que é Deus que deseja alcançar os outros através do pregador e de que Ele mostra o seu poder através da palavra humana. São Paulo fala vigorosamente sobre a necessidade de pregar, porque o Senhor quis chegar aos outros por meio também da nossa palavra. Com a palavra, Nosso Senhor conquistou o coração da gente (nº 136).
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
- · Aceito os ensinamentos de Jesus para minha vida? Recebo-os a fim de colocá-los em prática, ou recorto o evangelho à minha medida?
- · Tenho um encontro diário com Jesus em sua Palavra? Que vozes do mundo tenho de silenciar para escutá-lo?
- · Estou consciente de que sou um prolongamento da obra de Jesus? Em que ações concretas colaboro com ele para expandir o Reino?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Obrigado, Jesus, porque com tua Palavra me transformas.
Às vezes outras vozes querem abafar tua voz.
Renova-me na escuta, Senhor.
Silencia todo grito de violência, de superioridade.
Liberta-me de toda busca de fama; faze-me humilde e simples.
És tu mesmo que me educas
com a autoridade da coerência e da ternura.
Quero apenas que, com tua graça, minhas obras falem de ti.
Ajuda-me. Hoje também digo: és o Santo de Deus!
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, que ao escutar-te em tua Palavra, eu possa realizar os mesmos gestos teus”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, escolho entre meus amigos alguém para partilhar algum texto da Palavra de Deus.
“O homem contemporâneo escuta com mais prazer os que dão testemunho do que os que ensinam, e quando escutam os que ensinam é porque estes dão testemunho.”
Beato Paulo VI