A força da palavra (Jo 4,43-54)
16 de março de 2015Amor incansável (Jo 5,17-30)
18 de março de 2015Houve uma festa dos judeus, e Jesus foi a Jerusalém. Existe em Jerusalém, perto da porta das Ovelhas, uma piscina com cinco pórticos, chamada Betesda em hebraico. Muitos doentes ficavam ali deitados — cegos, coxos e paralíticos. De fato, um anjo descia, de vez em quando, e movimentava a água da piscina, e o primeiro doente que aí entrasse, depois do borbulhar da água, ficava curado de qualquer doença que tivesse. Aí se encontrava um homem, que estava doente havia trinta e oito anos.
Jesus viu o homem deitado e sabendo que estava doente há tanto tempo, disse-lhe: “Queres ficar curado?” O doente respondeu: “Senhor, não tenho ninguém que me leve à piscina, quando a água é agitada. Quando estou chegando, outro entra na minha frente”. Jesus disse: “Levanta-te, pega tua cama e anda”. No mesmo instante, o homem ficou curado, pegou sua cama e começou a andar.
Ora, esse dia era um sábado. Por isso, os judeus disseram ao homem que tinha sido curado: “É sábado! Não te é permitido carregar tua cama”. Ele respondeu-lhes: “Aquele que me curou disse: ‘Pega tua cama e anda’”. Então lhe perguntaram: “Quem é que te disse: ‘Pega tua cama e anda’?” O homem que tinha sido curado não sabia quem fora, pois Jesus se tinha afastado da multidão que se encontrava naquele lugar.
Mais tarde, Jesus encontrou o homem no Templo e lhe disse: “Eis que estás curado. Não voltes a pecar, para que não te aconteça coisa pior”. Então o homem saiu e contou aos judeus que tinha sido Jesus quem o havia curado. Por isso, os judeus começaram a perseguir Jesus, porque fazia tais coisas em dia de sábado.
Um homem doente há trinta e oito anos se encontra deitado, acamado, próximo à piscina chamada Betesda, que fica próxima à Porta das Ovelhas.
A cena chama minha atenção pois me lembro da narração de João lá no capítulo 10, quando Jesus se coloca como o Bom Pastor, especialmente pelo versículo 7: “Jesus continuou dizendo: ‘Eu garanto a vocês: eu sou a porta das ovelhas’ “.
Jesus, a verdadeira porta das ovelhas, vai conduzir aquela ovelha doente..
“Em verdes pastagens me faz repousar; para fontes tranquilas me conduz, e restaura minhas forças” (Sl 23,2-3)
Jesus diz ao homem “levanta-te”. A ovelha compreende a voz do pastor. O pastor anima a ovelha, a levanta, cuida dela, dá ânimo, restaura suas forças.
O homem vivia ali, a espera de alguém que pudesse levá-lo até a piscina quando a água borbulhasse. Mas ninguém aparecia e ele tinha que se arrastar, porém nunca conseguia ser o primeiro, sempre um outro passava a sua frente.
Penso que este texto é muito propício para este tempo quaresmal, quando estamos mergulhados nas reflexões de nossas dores, de nossos pecados, de nossas mazelas.
O mundo, normalmente, nos mostra realidades borbulhantes mas, ao mesmo tempo, nos impõe arrastarmos para conseguir alcançá-las. Nos arrastamos em horas intermináveis de trabalho árduo, que nos roubam de nossas famílias, da convivência com nossos amigos, da apreciação da arte, da prática de esportes, do convívio íntimo com o Senhor. A felicidade prometida é sempre adiada, nunca chegamos a tempo, sempre alguém chega primeiro e toma o lugar que devia ser nosso.
A palavra de Jesus é de libertação e, também, de compromisso. O homem foi libertado de sua doença, daquilo que o prendia àquele leito, que o fazia arrastar, contudo ele deveria pegar sua cama e andar.
A liberdade que Jesus nos dá impõe a nós o compromisso de retirarmos do caminho aquilo que nos prendia.
Agora aquela cama não será utilizada por mais ninguém, pelo contrário, ela será carregada para servir de sinal para todos. Se aquele homem se libertou da cama, outros também podem se libertar.
Nada supera ou impede a vontade de Deus de nos ver livres de tudo que nos imobiliza. Nenhuma lei humana está acima desta vontade. A lei do descanso no sábado, daquela época, ou qualquer outra existente hoje, pode impedir que Deus nos liberte daquilo que nos faz rastejar.
O convite para a oração de hoje é ouvir a palavra de Jesus: “levanta-te”, e saber que a única coisa que pode impedir esta palavra de se realizar é se nós não a aceitarmos, pois não há nenhuma lei que possa impedi-la de se tornar verdade.
Uma coisa importa e muito. O alerta de Jesus ao homem curado, também é para nós. Utilizar desta ação libertadora da palavra de Cristo para o pecado pode ser pior que a condição inicial de escravidão. O que isto pode significar? A campanha da fraternidade deste ano me inspira a pensar que uma das possibilidades seria inverter a causa primeira de sermos libertados por Cristo. A liberdade que nos é dada deve nos conduzir a servir. Utilizar nossa liberdade para outros fins pode ser pior do que se continuássemos como antes.
Que o Espírito Santo nos ilumine com a compreensão da palavra e nos dê forças para colocá-la em prática. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte