A casa inteira encheu-se de perfume…
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8 de abril de 202007 de abril – Terça-feira da Semana Santa
Texto Bíblico: Jo 13,21-33.36-38
- Leitura: O que o texto diz?
O trecho do Evangelho de João que lemos hoje é a continuidade do relato do lava-pés (Jo 13,1-15), no qual Jesus ensina aos seus discípulos o sentido do serviço, da entrega de si ao outro. Logo depois de suas palavras, Jesus, perturbado em espírito, anuncia a traição: “um de vós me trairá”.
Leia atentamente essa passagem, atendo-se aos gestos e palavras das personagens. O ambiente é de proximidade, de intimidade que Jesus partilha com os seus discípulos. Jesus, no momento de profunda intimidade, de celebração com os discípulos, ciente daquilo que o espera, partilha com eles aquilo que irá acontecer em breve. Observe a reação dos discípulos, que olham uns para os outros, querendo saber quem deles trairá o Senhor. E Pedro acena para o discípulo amado, recostado ao seio de Jesus, para que pergunte de quem se trata. Ante a pergunta do discípulo amado, Jesus responde de forma indireta: “é aquele a quem eu der o pedaço de pão passado no molho”. Em toda a narrativa evangélica de João as palavras e gestos de Jesus são carregadas de simbolismo, que apontam para um sentido mais profundo. Por que Jesus não disse simplesmente quem o haveria de trair? E por que no momento em que Judas recebeu o pão, Satanás entrou nele? Será que o texto não quer dizer que nesse momento Judas tomou a sua decisão? Será que foi por isso que Jesus disse para ele: “o que tens a fazer faze-o depressa.”?
Nenhum dos discípulos entendeu o gesto de Jesus, nem suas palavras. Eles permanecem na suspeita. Somente Jesus e Judas e o discípulo amado sabem. Com a saída de Judas vem a certeza do que irá acontecer em breve: sua glorificação. Essa glorificação significa que chegou a hora de sua exaltação, de seu retorno ao Pai. Por isso, nenhum dos discípulos o poderá seguir agora; só mais tarde. Pedro, como sempre, é o que toma a iniciativa. Não entende o que Jesus fala, declara estar pronto para dar a vida por Jesus. Mas este, porém, desmascara essa fidelidade inabalável mostrando a Pedro que ele ainda não está pronto. Jesus conhece bem os seus discípulos.
2. Meditação: o que o texto me diz?
No final de sua jornada, Jesus celebra com os seus discípulos a Ceia pascal. E nesse contexto de proximidade fraterna, afirma: “um de vós me trairá”. Como as palavras te afetam? O que significam para você? Que sentimentos brotam no seu coração, observando esse momento de profunda intimidade, estando os discípulos ao redor da mesa, e o discípulo amado reclinado no seio de Jesus? Coloque-se no lugar desses discípulos, como você receberia essa revelação? Que impacto causaria em você? Você desejaria saber de imediato quem iria trair o Senhor? O que você perguntaria ao Senhor? O que o gesto de Jesus te diz? Será que Judas poderia ter mudado de ideia naquele momento? E quando Jesus começa a falar da sua partida, por que os discípulos não entendem? O que a atitude de Pedro fala a você? Pedro ainda não está pronto para seguir Jesus até o fim? E você está? E a resposta de Jesus a Pedro, o que revela a você?
3. Oração: o que o texto me faz dizer?
Senhor, tu que conheces o íntimo do meu coração, que caminhas comigo, ensinando-me o verdadeiro sentido da vida; tu que na cruz entregaste tua vida por mim, faz-me compreender quão difícil é olhar nos olhos de quem você ama e ver seus erros, seus pecados, suas fragilidades. Como olhaste para os seus discípulos e mesmo sabendo de suas fraquezas, traições e vacilos, não deixaste de amá-los. Então, senhor, olhe para mim, para meu coração vacilante, minha fé não tão inabalável, mas desejosa de caminhar contigo até o fim. Tantas vezes, Senhor, me propus a ir avante, assumir minha missão de evangelizar o mundo, e vacilei. Em momentos cruciais da minha caminhada cristã, por diversas vezes falhei, por que confiei apenas em mim mesma, e não em ti. Não permitas jamais que eu te traia! Que eu tenha a coragem de Pedro, mesmo sem o saber, de afirmar minha adesão a ti, ao teu projeto de vida. Mesmo ainda não estando preparado para dar a vida, como tu fizeste de forma incondicional, que eu persiga esse ideal até o fim.
4. Contemplação: o que o texto faz em mim?
Quero senhor, neste momento, deixar-me envolver por teu olhar terno, tua presença amorosa, como naquele dia, na última ceia. Reclinar sobre teu peito e me perder no silencio fecundo desse amor que me envolve, me aquece. Estou aqui, Senhor, sem presunção alguma, para experimentar a docilidade de tua presença, deixando-me conduzir para o lugar onde as palavras já não importam, apenas a tua presença. Em teu seio aconchegante, protetor, experimento toda a tua ternura, todo o teu amor. Em ti, Senhor, encontro força, coragem e constância.
5. Ação: o que o texto me faz agir?
Sob teu olhar amoroso, Senhor, desejo assumir, de fato, minha missão como discípula e missionária. E, para isso, não posso mascarar as minhas fraquezas, os meus erros e inconstâncias. Não quero traí-lo! Porque o traio quando não sou fiel ao teu Evangelho, quando não sou fiel ao propósito da minha vida de discípula. Consciente da minha fragilidade e inconstância, desejo ser mais forte, mais convicto, fiel. Quero reconhecer diante de ti as minhas fraquezas, não para justificar os meus erros, mas para que, diante delas, eu tenha um olhar misericordioso e compassivo sobre meus irmãos e irmãs, para não os julgar quando erram. Para que eu possa mostrar a eles que a nossa fraqueza não deve ser motivo de distanciamento de Jesus, mas de proximidade. Por que ele nos conhece e nos ama. Vamos nos deixar conduzir por seu Espírito!
Ir. Márcia Eloi, NJ*
Membro do Instituto Religioso Nova Jerusalém. Doutora em Teologia pela Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), BH. Mora em Vespasiano-MG, Brasil.