O não de Pedro, a traição de Judas, a entrega do Filho e a glória do Pai
22 de março de 2016Hoje se cumpriu…
24 de março de 2016Evangelho Mt 21, 33-43.45-46
Um dos doze discípulos, chamado Judas Iscariotes, foi ter com os sumos sacerdotes 15e disse: ‘O que me dareis se vos entregar Jesus?’ Combinaram, então, trinta moedas de prata. 16E daí em diante, Judas procurava uma oportunidade para entregar Jesus. 17No primeiro dia da festa dos Ázimos, os discípulos aproximaram-se de Jesus e perguntaram: ‘Onde queres que façamos os preparativos para comer a Páscoa?’ 18Jesus respondeu: ‘Ide à cidade, procurai certo homem e dizei-lhe: ‘O Mestre manda dizer: o meu tempo está próximo, vou celebrar a Páscoa em tua casa, junto com meus discípulos’.’ 19Os discípulos fizeram como Jesus mandou e prepararam a Páscoa. 20Ao cair da tarde, Jesus pôs-se à mesa com os doze discípulos. 21Enquanto comiam, Jesus disse: ‘Em verdade eu vos digo, um de vós vai me trair.’ 22Eles ficaram muito tristes e, um por um, começaram a lhe perguntar: ‘Senhor, será que sou eu?’ 23Jesus respondeu: ‘Quem vai me trair é aquele que comigo põe a mão no prato. 24O Filho do Homem vai morrer, conforme diz a Escritura a respeito dele. Contudo, ai daquele que trair o Filho do Homem! Seria melhor que nunca tivesse nascido!’ 25Então Judas, o traidor, perguntou: ‘Mestre, serei eu?’ Jesus lhe respondeu: ‘Tu o dizes.’
Normalmente, o evangelho de hoje chama a nossa atenção para a atitude traiçoeira de Judas e que causa certa repulsa, sobretudo, ao percebermos a sua motivação. Porém, como não cabe a nós julgar, seria interessante focarmos nossa reflexão\ oração não na fala ou na ação do traidor, mas na resignação de Jesus.
As falas de Jesus dos dias que antecederam a sua morte são cheias de símbolos e de citações de textos bíblicos anteriores, como se o caminho para a morte fosse um rito há muito esperado e profetizado. No texto acima, Ele celebra a Páscoa com os doze, sem que seja citado em momento algum o sacrifício próprio dessa época (a imolação de um cordeiro). Ao invés disso, Jesus, indiretamente, sugere-se como o novo cordeiro a ser entregue, agora para a salvação da humanidade.
Trata-se de um cordeiro a ser entregue por um daqueles que Ele ama intimamente. Por isso, a afirmação de que o traidor seria aquele que “come junto com Ele” (versículo 22). Sabendo que dividir a comida com o outro é um ato de intimidade, Jesus, com esses dizeres, reforça o fato de que seria traído por uma das pessoas que mais amava.
O que chama mais a nossa atenção é que, sabendo das profecias, Jesus poderia ter evitado a traição de Judas, poderia ter se precavido e se protegido dos sumos sacerdotes. Entretanto, Ele vai acompanhando os acontecimentos sem neles interferir, nem mesmo na escolha de Judas.
A pergunta que fica é: por que Jesus agiu com tamanha passividade diante a morte certa? Apenas por que ele precisava cumprir a profecia? Não. Jesus opta por não interferir nas ações de Judas, provavelmente por causa de um traço respeitado imensamente por Deus: o livre-arbítrio.
Judas não entregou Jesus sob pressão. Ele escolheu fazê-lo por mesquinharia, conforme o evangelho de Mateus. Foi uma atitude livre, tendo ele até mesmo a oportunidade de repensar sua escolha após a fala do Mestre.
Nesse sentido, o evangelho de hoje é um dos muitos exemplos em que vemos a ação divina cessar para que a vontade humana, ditada pela liberdade, se faça valer. Vemos no texto um Mestre que se entristece ao lembrar que haveria uma traição, mas que, ainda assim, se silencia e deixa o humano fazer a sua escolha.
A escolha de Judas o afasta diretamente de Jesus, mas foi ele que escolheu romper o afeto e priorizar suas vontades individuais. Foi ele que resolveu colocar os interesses pessoais acima da amizade que devotava. Não é sem motivos que ele se arrepende e entra em desespero depois. Podendo se manter próximo, ele opta pela distância.
E o que isso tem a ver com nossa vida? Hoje Deus continua nos concedendo a liberdade de escolha. Ele prefere a traição ao fato de ter ao seu lado pessoas que apenas estão ali por questões circunstanciais e contra a vontade. Nosso seguimento é uma escolha que só a nós cabe fazer.
Sabemos que, como humanos que somos, não trair Jesus é uma tarefa difícil. O mundo nos oferece muitíssimas escolhas para nos distanciarmos de nosso referencial de fé. Vivemos, muitas vezes, imersos em contradições entre o que queremos e o que seria melhor aos olhos de Deus. Nós, de formas mais brandas que a de Judas, traímos o Mestre todas as vezes que abrimos mão de nossos ideais de fé em nome de futilidades e de aquisições mundanas.
Precisamos fortalecer nossa fé para mantermos nossa escolha por seguir Jesus em meios aos apelos do mundo e da matéria. Precisamos, com nossa fé, desenvolver o discernimento entre o que nos leva à intimidade com Deus e o que nos afasta dEle; Temos de lembrar que, afastados do amor de Deus, nossa experiência aqui na terra redundará em plenitudes ilusórias depois das quais cairemos na tristeza, tal qual Judas após a traição.
Em nossa oração de hoje, peçamos a Jesus que nos dê o dom do discernimento para, que diante as oportunidades que temos de repensar nosso afeto por Deus, optemos sempre e livremente pela melhor parte: permanecer “comendo com Jesus no mesmo prato” numa relação cada vez mais íntima e sincera.
Amém!
Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte