‘Quantos pães vocês têm?’ (Mc 8, 1-10)
10 de fevereiro de 2018“ O fermento dos fariseus e de Herodes”
13 de fevereiro de 2018PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Vem, Espírito Santo, e ensina-me a viver tua Palavra.
Vem, Espírito Santo, para que, com tua força, eu seja um cristão coerente.
Vem, Espírito Santo, para que com tua força, eu seja um cristão coerente.
Vem, Espírito Santo, e faze-me novo, para que com outros eu possa seguir Jesus.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: Marcos 1.40-45
Jesus cura um leproso
Mateus 8;1-4; Lc 5.12-16
40Um leproso chegou perto de Jesus, ajoelhou-se e disse:
— Senhor, eu sei que o senhor pode me curar se quiser.
41Jesus ficou com muita pena dele, tocou nele e disse:
— Sim! Eu quero. Você está curado.
42No mesmo instante35 a lepra desapareceu, e ele ficou curado.
43-44E Jesus ordenou duramente:
— Olhe! Não conte isso para ninguém, mas vá pedir ao sacerdote que examine você. Depois, a fim de provar para todos que você está curado, vá oferecer o sacrifício que Moisés ordenou.
Então Jesus o mandou embora. Mas o homem começou a falar muito e espalhou a notícia. Por isso Jesus não podia mais entrar abertamente em 45qualquer cidade, mas ficava fora, em lugares desertos. E gente de toda parte vinha procurá-lo.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
· Quem se aproxima de Jesus, o que faz e o que lhe diz?
· Que consequências sofria um homem por ter lepra?
· Você acha normal que Jesus toque um homem com lepra? O que acontece com o leproso?
· O que Jesus ordena ao homem já purificado? Ele lhe obedece?
· Como Jesus reage diante da desobediência desse homem?
Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini1
Em uma primeira e rápida leitura do texto, parece que estamos diante de um relato de cura milagrosa por parte de Jesus. No entanto, uma leitura mais atenta nos mostra que não é assim. Em primeiro lugar, não é apropriado falar de cura, pois, assim, veríamos a lepra – como a vemos hoje – como uma simples e cruel enfermidade, como um problema de saúde. O evangelho, porém, fala explicitamente de “purificação” (cf. 1.40,41,42), visto que a lepra era considerada antes como uma impureza, algo que nos separa do puro e santo, que nos separa de Deus e de seu povo. Ademais, o leproso era um transmissor de impureza, razão por que devia viver isolado do resto das pessoas, tal como determina o livro do Levítico, nos capítulos 13 e 14. E levemos em conta que, naqueles ambientes, a lepra, tal como as demais enfermidades, era considerada um castigo divino devido aos pecados cometidos. Portanto, seja pelos efeitos físicos (úlceras e deformações na pele), seja pelos sociais (marginalização) desta enfermidade, o leproso era símbolo do homem pecador, castigado por Deus. Daí a grande transcendência do gesto de Jesus de tocar o leproso e purificá-lo, superando todas as barreiras que a lei impunha. De fato, “Jesus, novo Moisés, quis curar o leproso, quis tocar, quis reintegrá-lo na comunidade, sem autolimitar-se pelos preconceitos, sem adequar-se à mentalidade dominante das pessoas, sem preocupar-se absolutamente com o contágio”.
Por conseguinte, está claro que este milagre de Jesus tem um alcance maior do que a mera cura de um enfermo. Ao tornar puro o homem impuro, permite-lhe recuperar, além da saúde, seu vínculo com Deus e com os demais membros do povo de Deus. Por isso mesmo, Jesus envia-o ao sacerdote, a fim de que este verifique a cura e o reincorpore ao povo santo de Deus, tal como mandava a Lei de Moisés.
O relato não se conclui com a purificação do leproso, mas prossegue, desta vez colocando-nos diante de questões novas e surpreendentes. Observemos que Jesus finaliza de modo um pouco brusco sua relação com o leproso, pois o despede com a proibição de contar o sucedido, silêncio que, até agora, era exigido dos espíritos impuros. Temos a impressão de que Jesus não se sentiu muito à vontade com o milagre realizado. A continuação do relato confirma esta suposição, visto que o leproso purificado desobedece à ordem de Jesus de nada dizer, e começa a proclamar e a divulgar o fato, a ponto de Jesus já não poder entrar nas cidades, vendo-se obrigado a permanecer em lugares desertos, aonde vão até ele pessoas oriundas de todos os lugares. Tudo isso nos mostra que Jesus quer, antes de mais nada, anunciar o Reinado de Deus, e não apenas realizar curas. Jesus não busca os enfermos e endemoninhados, mas eles é que vêm até ele para serem curados. Por outro lado, Jesus manifesta claramente sua decisão de percorrer as cidades para pregar, pois para isso ele saiu do seio do Pai: esta é sua missão (1.38). No final, esta cura findou sendo um obstáculo para sua missão específica.
O que o Senhor me diz no texto?
O fiel costuma viver uma tensão entre o que espera de Deus e o que Deus quer dar-lhe por meio de Jesus; tensão entre o que nós queremos que Jesus faça por nós, segundo nossos planos e projetos, e o que Jesus quer fazer em nossa vida. Estas tensões aparecem no evangelho de hoje.
O leproso, com sua enfermidade e sua fé a tiracolo, aproxima-se de Jesus e pede para ser purificado, libertado dessa enfermidade que o separa de Deus e dos demais. Jesus quer purificar o leproso, como quis curar os outros enfermos e libertar os endemoninhados. Contudo, quer também que o escutem falar do Pai, de seu amor e de seu perdão; de como o Reino de Deus se faz presente e age entre eles. Quer que o sigam, renunciando a si mesmos e carregando a cruz. Quer que reconheçam seus dons com gratidão, porque “se a fé não vier acompanhada pela gratidão não é verdadeira fé. Continua ligada ao milagre, e não se eleva até à salvação” (F. Boyon).
Portanto, embora Jesus não se negue a realizar as curas ou milagres que lhe são pedidos, receia que esta busca exagerada pelo bem físico pessoal não se abra à escuta da Palavra que ele precisa anunciar da parte de Deus. Trata-se de uma Palavra que implica um poder maior do que expulsar demônios, curar enfermos ou purificar leprosos. Trata-se da palavra do perdão de Deus, do poder de perdoar os pecados, como se verá claramente na cena seguinte, onde Jesus primeiro perdoa os pecadores e logo depois faz o paralítico caminhar, mostrando que a cura física é sinal visível da obra profunda e maior, que é o perdão dos pecados (cf. Mt 2.1,12). A propósito, dizia o Papa Francisco: “Com os sinais de cura que realiza para os doentes de todos os tipos, o Senhor quer suscitar a fé como resposta. Com efeito, os milagres são ‘sinais’ que convidam à resposta suscitam a fé e a conversão mediante a força divina da graça de Cristo” (Angelus, 4 de fevereiro de 2018).
O evangelho de hoje nos convida a recuperar a verdade da vida cristã como caminho, como processo, com etapas de crescimento progressivo e inclusivo. Não se trata de opor o material-corporal ao espiritual; nem da contraposição entre os cristãos com formação intelectual, que buscam somente o espiritual, e os cristãos sem formação, que só buscam os milagres ou a cura física. Todos, como o leproso do evangelho, aproximamo-nos de Jesus a fim de pedir-lhe que nos livre de algum mal, de uma enfermidade física ou moral; que nos resolva algum problema da vida ou nos tire certa angústia ou mal-estar. Agindo assim, confessamos tanto seu poder divino como nossa humilde condição de criaturas; confessamos que necessitamos do Senhor e de sua graça em nossa vida. Jesus, porém, quer que nos aproximemos dele também para escutá-lo, segui-lo e amá-lo.
É bom não deixar de voltar nosso olhar para Jesus e para sua corajosa compaixão, como medita o Papa Francisco: “A compaixão de Jesus! Aquele ‘padecer com’ leva-o a aproximar-se de cada pessoa atribulada! Jesus não se retrai, antes, pelo contrário, deixa-se comover pelo sofrimento e pelas necessidades do povo, simplesmente porque ele sabe e quer ‘padecer com’, porque possui um coração que não se envergonha de ter ‘compaixão’… A compaixão leva Jesus a agir de forma concreta: a reintegrar o marginalizado. E estes são os três conceitos-chaves que a Igreja nos propõe na liturgia da palavra hodierna: a compaixão de Jesus perante a marginalização e sua vontade de integração”2.
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
· Em minha vida, busco o que Deus quer ou apenas coloco meus interesses no que peço?
· Aproximo-me de Jesus pelo simples fato de receber seus favores?
· Estou disposto a dar uma resposta de fé e segui-lo? De que maneira concreta farei isso?
· Minhas atitudes e palavras favorecem a integração ou a marginalização dos outros?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Jesus, aqui estou, de joelhos.
Se queres, podes purificar-me também a mim.
Purifica-me de buscar minha conveniência a qualquer preço;
quero viver o que tens preparado para mim.
Purifica-me de comodidade, dá-me fé para que eu possa amar-te e seguir-te.
O que quiseres, Jesus, também quero.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, se queres, podes purificar-me; somente assim poderei seguir-te”
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, aproximar-me-ei de um enfermo e com ele partilharei minha fé.
“Naquele contato entre a mão de Jesus e o leproso fica superada toda barreira entre Deus e a impureza humana, (…) para demonstrar que o amor de Deus é mais forte do que todo o mal”.
Bento XVI