João 20,11-18
18 de abril de 2017Escutar no coração (Jo 21,1-14)
21 de abril de 2017“Naquele mesmo dia, dois dos seguidores de Jesus estavam indo para um povoado chamado Emaús, que fica a mais ou menos dez quilômetros de Jerusalém. Eles estavam conversando a respeito de tudo o que havia acontecido. Enquanto conversavam e discutiam, o próprio Jesus chegou perto e começou a caminhar com eles, mas alguma coisa não deixou que eles o reconhecessem. Então Jesus perguntou:
— O que é que vocês estão conversando pelo caminho?
Eles pararam, com um jeito triste, e um deles, chamado Cleopas, disse:
— Será que você é o único morador de Jerusalém que não sabe o que aconteceu lá, nestes últimos dias?
— O que foi? — perguntou ele.
Eles responderam:
— O que aconteceu com Jesus de Nazaré. Esse homem era profeta e, para Deus e para todo o povo, ele era poderoso em atos e palavras. Os chefes dos sacerdotes e os nossos líderes o entregaram para ser condenado à morte e o crucificaram. E a nossa esperança era que fosse ele quem iria libertar o povo de Israel. Porém já faz três dias que tudo isso aconteceu. Algumas mulheres do nosso grupo nos deixaram espantados, pois foram de madrugada ao túmulo e não encontraram o corpo dele. Voltaram dizendo que viram anjos e que estes afirmaram que ele está vivo. Alguns do nosso grupo foram ao túmulo e viram que realmente aconteceu o que as mulheres disseram, mas não viram Jesus.
Então Jesus lhes disse:
— Como vocês demoram a entender e a crer em tudo o que os profetas disseram! Pois era preciso que o Messias sofresse e assim recebesse de Deus toda a glória.
E começou a explicar todas as passagens das Escrituras Sagradas que falavam dele, iniciando com os livros de Moisés e os escritos de todos os Profetas.
Quando chegaram perto do povoado para onde iam, Jesus fez como quem ia para mais longe. Mas eles insistiram com ele para que ficasse, dizendo:
— Fique conosco porque já é tarde, e a noite vem chegando.
Então Jesus entrou para ficar com os dois. Sentou-se à mesa com eles, pegou o pão e deu graças a Deus. Depois partiu o pão e deu a eles. Aí os olhos deles foram abertos, e eles reconheceram Jesus. Mas ele desapareceu. Então eles disseram um para o outro:
— Não parecia que o nosso coração queimava dentro do peito quando ele nos falava na estrada e nos explicava as Escrituras Sagradas?
Eles se levantaram logo e voltaram para Jerusalém, onde encontraram os onze apóstolos reunidos com outros seguidores de Jesus. E os apóstolos diziam:
— De fato, o Senhor foi ressuscitado e foi visto por Simão!
Então os dois contaram o que havia acontecido na estrada e como tinham reconhecido o Senhor quando ele havia partido o pão.”
A ressurreição é obra de Deus. Nas Escrituras que se referem a ela, a tradução literal é que Jesus “foi ressuscitado” ou “foi levantado”, mostrando a pura ação do Pai sobre Ele. O reconhecimento, ou melhor, a experiência com o Ressuscitado também é obra de Deus, que abre nossos olhos da fé pelo Espírito. Talvez até por isso a Igreja sabiamente coloca uma “oitava de Páscoa”, estendendo o Domingo Pascal por 1 semana, e também um Tempo Pascal, que estende essa grande festa por 50 dias. Nos dá tempo para mergulhar e vivenciar essa experiência, para abrir-nos ao novo que o Pai quer fazer em nós. Peçamos-lhe, então, no início da nossa oração, a graça da acolhida, da abertura de olhos, de ouvidos, de coração e de vida.
O Evangelho de hoje é o famoso texto dos discípulos de Emaús. Jesus caminha com aqueles que iam embora de Jerusalém tristes, trocando palavras decepcionadas. O texto dá o nome de apenas um deles, “Cleopas” ou “Cléofas”, que significa “Escutar”. É um chamado, então, a entrarmos na Palavra pela nossa vida, ou na nossa vida pela Palavra, com uma atitude de escuta profunda, aquela do coração.
“Naquele mesmo dia, dois dos seguidores de Jesus estavam indo para um povoado chamado Emaús, que fica a mais ou menos dez quilômetros de Jerusalém.”
– Para onde estou indo?
– Que tristezas ou frustrações (pessoais, comunitárias ou sociais) me levam a afastar-me? De que ou de quem me afasto? Por que?
“O que foi? — perguntou Jesus”. Jesus puxa conversa. Aliás, entra na conversa dos dois. Dá-lhes a oportunidade de falar do que aconteceu, de como viram e como se sentiram; da esperança que tinham e por que se frustraram e se afastavam; de não aguentar mais fagulhas que acendiam essa esperança sem no fundo vê-la concretizada (com seus próprios olhos). No fundo, sem a experiência. “Mas não viram Jesus.” Ele também pergunta a você: “O que foi?” O que você lhe responde? Onde é difícil para você ver a vida vencendo a morte na sua realidade? O que é mais difícil para você entender e deixa seu semblante triste? Contar para Jesus.
Jesus explica longamente as Escrituras aos discípulos de Emaús, mostrando tudo o que dizia respeito a Ele. A vida do Cristo, que ama, ama, e ama até o extremo, até o fim, sem fugir do seu “sim” ao amor diante da cruz, é confirmada pelo Pai de Amor. O Pai ressuscita seu Filho, nos dizendo que essa é, sim, a vida plena, ser humano de verdade, e que isso vale a pena! Essa experiência do Mistério Pascal de Cristo dá o sentido pleno a tudo o que vem antes e depois, por isso é a partir dela que a Igreja lê todas as Escrituras. E a partir dela que somos convidados a ler a nossa vida e as circunstâncias ao nosso redor. Deixar que o Espírito do Ressuscitado que nos foi dado faça essa leitura em nossa oração, a partir daquilo que apresentamos em diálogo.
Ele quer nos dar a experiência de fazer queimar nosso coração nesse diálogo vivo com Ele, na Palavra que vai sendo tecida em nossa vida, em nossa vida relida e escrita à luz dessa Palavra; e no partir do pão, na Eucaristia, e na máxima intimidade junto com o outro, quando Ele se faz presente. “Entrou para ficar com eles.” Entra para ficar conosco.
Deixá-lo entrar, para que nossos encontros em comunidade sejam também plenos e verdadeiros, partilha da experiência com o Crucificado-Resssucitado.
Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei