“As palavras que disserem não serão de vocês mesmos”
26 de dezembro de 2017Mateus 2,13-18
28 de dezembro de 2017Evangelho: João 20, 2-8
“Então (Maria Madalena) foi correndo até o lugar onde estavam Simão Pedro e outro discípulo, aquele que Jesus amava, e disse:
— Tiraram o Senhor Jesus do túmulo, e não sabemos onde o puseram!
Então Pedro e o outro discípulo foram até o túmulo. Os dois saíram correndo juntos, mas o outro correu mais depressa do que Pedro e chegou primeiro. Ele se abaixou para olhar lá dentro e viu os lençóis de linho; porém não entrou no túmulo. Mas Pedro, que chegou logo depois, entrou. Ele também viu os lençóis colocados ali e a faixa que tinham posto em volta da cabeça de Jesus. A faixa não estava junto com os lençóis, mas estava enrolada ali ao lado. Aí o outro discípulo, que havia chegado primeiro, também entrou no túmulo. Ele viu e creu.”
Reflexão:
Hoje celebramos a festa de São João, apóstolo e evangelista. Peçamos a ele que interceda junto ao Pai para vivermos nós também como discípulos amados de Jesus.
Apesar de estarmos na oitava de Natal, a liturgia nos apresenta, por causa da festa, um Evangelho da ressurreição. A Encarnação e o Mistério Pascal de Cristo são os marcos da fé cristã e como que duas faces de uma mesma moeda. O verbo usado para os relatos da Ressurreição é “ser levantado”. O Filho de Deus, aquele que abaixou-se assumindo a condição humana, fazendo-se um de nós no nascimento simples e humilde em Belém, é levantado pelo Pai, que diz “sim” à sua vida à qual os chefes do povo e as multidões disseram “não”. Esse é o ser humano com que o Pai sonhou, a vida para a qual fomos criados.
O Evangelho de hoje é colocado nessa festa para destacar as atitudes de João. Ele saiu com Pedro do fechamento em que se encontravam com a morte de Jesus; foram ver o que Maria Madalena havia dito. Trata-se ainda de uma busca externa de um olhar físico. Mas que importante sair! Quantas vezes nossas dores não nos permitem essa atitude. Agora, no final do ano, é tempo de rever o vivido e pedir a força a Deus para sair do que nos amarra, colocar-nos a caminho em direção a um novo que o nascimento de Jesus nos anuncia.
No vigor da mocidade, João correu mais depressa que Pedro e já viu algo. Imaginemos o desejo, a curiosidade, a expectativa. Seria compreensível agir pelo impulso, mas ele foi capaz de esperar, de entrar após Pedro, de reconhecer a liderança. Que autoridades estão presentes em minha vida? Qual a minha relação com elas? Há algo bom em dar-lhes o devido reconhecimento, deixar-me conduzir, não passar na frente? Como lidar melhor com o exercício da autoridade daqui pra frente?
Ao descrever o que os discípulos viram, o evangelista mostra apenas sinais. Os panos dobrados, as faixas em um canto, o pano da cabeça em outro, “enrolado à parte”. Não há, no entanto, evidências. Aqui, o “ver” toma outro significado. Começa a se falar de sentidos que vão além, os sentidos da fé. “Ele viu e creu.”
A primeira leitura (1 João 1,1-4) mostra o testemunho de fé de São João, a partir da experiência de encontro com o Senhor nesses sentidos. “O que nós ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o que contemplamos e as nossas mãos tocaram da Palavra da Vida”. Peçamos ao Espírito que nos dê a docilidade para também deixarmo-nos introduzir nesta experiência da Vida plena. Que diante do Menino Jesus no presépio, nosso coração experimente a infinitude de amor e ternura presente em nós e no nosso meio pela Ressurreição do Senhor. E que a passagem da carência para o transbordamento desse amor vivo experimentado seja o nosso maior testemunho.
Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei