Uma regra atual
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28 de fevereiro de 2015Leitura: Mateus 5,20-26
Naquele tempo, disse Jesus aos seus discípulos: “Se a vossa justiça não for maior que a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus, vós não entrareis no Reino dos Céus. Vós ouvistes o que foi dito aos antigos: ‘Não matarás! Quem matar será condenado pelo tribunal’. Eu, porém, vos digo: todo aquele que se encoleriza com seu irmão será réu em juízo; quem disser ao seu irmão: ‘patife!’ será condenado pelo tribunal; quem chamar o irmão de ‘tolo’ será condenado ao fogo do inferno. Portanto, quando tu estiveres levando a tua oferta para o altar, e ali te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa a tua oferta ali diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão. Só então vai apresentar a tua oferta. Procura reconciliar-te com teu adversário, enquanto caminha contigo para o tribunal. Senão o adversário te entregará ao juiz, o juiz te entregará ao oficial de justiça, e tu serás jogado na prisão. Em verdade eu te digo: dali não sairás, enquanto não pagares o último centavo”.
Oração:
A fala inicial de Jesus é das mais instigantes: se a nossa justiça não for maior que “a justiça dos mestres da Lei e dos fariseus”, não entraremos no “Reino dos Céus”.
Na oração, pergunto-me por que Jesus pensa que a mim seria proveitoso ter uma justiça mais apurada que a justiça já praticada pelos tribunais atuais e pelos julgamentos religiosos “mais evoluídos” do meu tempo. A oração vai dizendo a mim que Jesus não está falando de uma exigência sua (ter uma justiça mais elevada) para alcançar um privilégio (entrar no Reino dos Céus). A oração vai revelando que se trata de uma afirmação causalista: não há a entrada no Reino se eu não elevo minha justiça.
Afinal, que é o Reino dos Céus? Por que nele não se entra com as regras já postas? Por que é necessário um refinamento da minha justiça, isto é, da minha forma de ser fiel a Deus?
O Papa Emérito afirma que o Reino dos Céus pode ser entendido de forma cristológica, idealista ou eclesiológica*. Isto é, podemos entender o Reino como o próprio Cristo; podemos entendê-Lo como os frutos de Deus em minha vida à medida que me abro à sua ação; podemos entendê-lo como a Igreja de Cristo, que se propõe a comunicar o reinado do Pai sobre o mundo.
Na oração, tento enxergar o Reino como todas essas ideias.
Quando vejo o Reino como o próprio Jesus, entendo que realmente não é possível entrar no Reino sem elevar minha justiça. Ele disse à mulher que não foi apedrejada: “Ninguém a condenou?… Eu também não a condeno” (Jo 8, 10-11). Como ter amizade com Ele, se eu não elevo minha justiça para não julgar ou julgar com medidas mais largas e critérios mais altos?
Quando vejo o Reino como o terreno do meu coração, onde deve brotar a semente lançada por Deus (Mt 13, 24-30), vejo que não é possível deixar que o fruto apareça se eu não elevar minha justiça. O semeador da parábola do joio disse: “Não, para não acontecer que, ao arrancar o joio, com ele arranqueis também o trigo”. Como deixar que o Reino cresça dentro de mim se eu elimino minhas virtudes na perseguição dos meus vícios, se eu descarto as pessoas pelos incômodos que causam, se eu desisto dos projetos pelos transtornos que acarretam?
Quando vejo o Reino como a Igreja, por cujos membros Jesus pediu em sua oração derradeira, rogando que “fossem um como” Ele e o Pai são um (Jo 17, 21-22), entendo a necessidade de ser fiel também a esse pedido d’Ele, elevando a minha justiça para acolher em minha vida e na vida de minha comunidade de fé, além daqueles que me são muito semelhantes, os que creem diversamente no mesmo, os que creem em outros deuses e também os não crentes. Como construir o Reino se eu vivo como se ele fosse um “camarote” de presença “vip”, como se fosse um “lugar” para determinadas pessoas, um país de acesso restrito?
A oração de hoje nos ajude na análise de nossas atitudes. Que enxerguemos nossas diversas contribuições à não entrada no Reino. Que abramos suas portas vivendo a amizade com Jesus, que faz com que acolhamos a todos em nossa fé e permite que nossas vidas deem fruto.
*BENTO XVI, Papa. Jesus de Nazaré: primeira parte: do batismo no Jordão à transfiguração. São Paulo: Ed. Planeta do Brasil, 2007, p. 59-60.
João Gustavo H. M. Fonseca – estudante de Direito da UFMG, membro de Família Missionária Verbum Dei de Belo Horizonte