O senhor do sábado – Lucas 14,1-6
31 de outubro de 2014“Ó Deus, ouve o meu grito de angústia! Escuta a minha oração”
2 de novembro de 2014“Jesus viu as multidões, subiu à montanha e sentou-se. Os discípulos se aproximaram, e Jesus começou a ensiná-los:
“Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu.
Felizes os aflitos, porque serão consolados.
Felizes os mansos, porque possuirão a terra.
Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Felizes os que são misericordiosos, porque encontrarão misericórdia.
Felizes os puros de coração, porque verão a Deus.
Felizes os que promovem a paz, porque serão chamados filhos de Deus.
Felizes os que são perseguidos por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu.
Felizes vocês, se forem insultados e perseguidos, e se disserem todo tipo de calúnia contra vocês, por causa de mim. Fiquem alegres e contentes, porque será grande para vocês a recompensa no céu.””
Hoje a Igreja celebra o Dia de Todos os Santos. Dia daqueles que viveram as bem-aventuranças propostas por Jesus, acolheram em suas vidas o Reino e o promoveram, e hoje são para nós exemplo e intercessão.
Havia um mestre que caminhava com seu discípulo transmitindo-lhe seus ensinamentos. O discípulo, porém, não conseguia captar o que o mestre lhe estava a ensinar. Percebendo isso, o mestre parou e disse que gostaria de tomar um chá, pedindo ao discípulo que o colocasse na xícara. Quando a xícara estava quase cheia, o discípulo parou. O mestre, porém, pediu que continuasse. O discípulo encheu a xícara até a borda e novamente parou, ao que o mestre repreendeu, pedindo-lhe que continuasse a colocar chá. O discípulo argumentou, em vão, que não cabia mais chá. “Continue a encher”, disse o mestre. E o discípulo continuou colocando chá até que transbordasse. Assim o mestre ensinou-lhe: “Como você quer que entre o novo que lhe estou oferecendo se está cheio das suas velhas crenças e saberes? Esvazie primeiro a xícara, para que o novo possa entrar”.
“Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino do Céu.” Felizes porque sabem dar a Deus o que é de Deus: a vida, o coração. Quem está cheio de si, das próprias verdades, da imagem, atados a um ponto de vista, não recebe o novo que o Senhor traz. Na sua época e hoje também, o que Jesus traz é fora do quadrado. Não se encaixa! É novo! Rompe as estruturas! Até que ponto deixo romper as minhas estruturas para acolher o Reino em primeiro lugar, e aí ajudar a gerá-lo, rompendo estruturas sociais também? Se não rompo em mim, se na hora de escolher pelo bem comum não escolho, olho só para o meu lado, como vou ajudar a criar uma sociedade que zele pelo bem comum mais que pelos interesses individuais? Felizes os que se esvaziam para que Deus seja o Senhor de suas vidas!
“Felizes os mansos, porque possuirão a terra.” De que mansidão Jesus está falando? Em outra passagem, Jesus nos convida: “Aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e encontrareis descanso, porque meu jugo é suave e meu fardo é leve”. Mas, Senhor, seu jugo e seu fardo não são a cruz? Como podem ser leves? “Porque é a entrega por amor.” Esta mansidão, então, não tem nada a ver com resignação. Há uma força danada em quem por amor se entrega. Como Jesus. Como os santos. Oferecer a vida pra gerar vida em abundância não é deixar fazerem o que quiserem comigo; mas também é o oposto de defender com unhas e dentes o meu. Quem vive esta mansidão possui a terra, porque já está abraçando um mundo muito maior que o seu mundinho.
“Felizes os puros de coração”, os que não têm um mistura de interesses, “porque verão a Deus.” Porque desembaçaram suas lentes com o amor. Agir assim é viver a misericórdia e agir em prol da paz. A estes Jesus também chama de felizes, “porque encontrarão misericórdia” e “porque serão chamados filhos de Deus.” Eles “têm fome e sede de justiça” e são felizes por isso, “porque serão saciados.”
Tudo isso aparece no dia a dia, na busca diária do meu ou do nosso. É o que vemos na vida dos santos e santas de Deus e por isso lhes dizemos: “Rogai a Deus por nós!”, para que Ele nos dê a mesma força que movia vocês a optar pelo Reino. A entrega da vida tem consequências? Claro que sim! Mas Jesus também chama de felizes quem as assume: os afltitos, os perseguidos por causa da justiça, os insultados e caluniados. “Fiquem alegres e contentes, porque será grande para vocês a recompensa no céu.” É grande a recompensa nesta outra dimensão que já se faz presente aqui e será plena depois – a vida com Deus, como seus filhos e como irmãos de todos.
É para poucos? De forma alguma. A santidade é o chamado que recebemos no Batismo. E a primeira leitura de hoje (Ap 7,2-4;9-14) diz: “uma grande multidão, que ninguém podia contar”. Mas é a participação a cada dia no Mistério pascal de Cristo, em sua morte e ressurreição, por Sua graça, que vai nos conduzindo por este caminho para o qual fomos criados.
Peçamos ao Espírito que nos conduza e à Igreja celeste que interceda por nós, Igreja militante, em nossa peregrinação.
Tania Pulier, comunicadora social, membro da Família Missionária Verbum Dei e do pré-CVX Cardoner.