“São aqueles que ouvem a Palavra de Deus e a praticam”
26 de setembro de 2017Queremos ver Jesus
28 de setembro de 2017“Jesus chamou os doze discípulos e lhes deu poder e autoridade para expulsar todos os demônios e curar doenças. Então os enviou para anunciarem o Reino de Deus e curarem os doentes. Ele disse:
— Nesta viagem não levem nada: nem bengala para se apoiar, nem sacola, nem comida, nem dinheiro, nem mesmo uma túnica a mais. Quando vocês entrarem numa cidade, fiquem na casa em que forem recebidos até irem embora daquele lugar. Mas, se forem mal recebidos, saiam logo daquela cidade. E na saída sacudam o pó das suas sandálias, como sinal de protesto contra aquela gente.
Os discípulos então saíram de viagem e andaram por todos os povoados, anunciando o evangelho e curando doentes por toda parte.”
Na oração de hoje, vamos pedir ao Pai a graça da liberdade do evangelizador, aquela vivida e ensinada a nós por Jesus.
A primeira leitura, do livro de Esdras, começa com um versículo muito bonito que pode nos ajudar: “Quando chegou a hora (…), eu saí daquele abatimento e me ajoelhei para orar.” (Esd 9,5) Tanto a euforia como o abatimento costumam afastar-nos da oração. Ou melhor, nós costumamos “escapar” dela nesses momentos. Seguir o exemplo de Esdras, então. Não nos deixar vencer, mas colocar-nos na presença do Senhor com postura de desejo e de necessidade.
É o Senhor quem nos chama para estar com Ele e para nos enviar. Na relação consigo nos dá aquilo de que necessitamos para viver e exercer nossa missão no dia a dia. “Jesus chamou os doze discípulos e lhes deu poder e autoridade para expulsar todos os demônios e curar doenças. Então os enviou para anunciarem o Reino de Deus e curarem os doentes.”
Será que acredito que o Senhor já me dá os dons exigidos pela missão que me confia? Em meio a quantas situações de divisão nos deparamos nos diversos ambientes em que vivemos? Recebemos o poder, pela experiência do Reino, de tirar do meio o que divide pelo testemunho do Reino e dos seus valores – em primeiro lugar vivido; em muitos casos e com as palavras que forem possíveis de se entender naquele ambiente, anunciado. Estamos em uma sociedade doentia e todos nós carregamos sintomas, seja no medo, na ansiedade, na competição, no estresse, na depressão ou em várias dores que se manifestam daqui e dali (nas costas, nos ombros, no estômago, etc.), pelo peso da falta de amor que carregamos. Tenho consciência de que a experiência de amor que a cada dia o Senhor me chama a fazer na oração é curativa para mim e para os ambientes onde Ele me coloca? Como me abro a essa experiência? Como a peço? Como me preparo para ela e vivo a esperança desse amor? Ou minha oração é apenas um cumprimento, para dizer que “fiz a minha parte”, uma burocracia com Deus?
Outra palavra importante que o Evangelho de hoje nos apresenta é “viagem”. O Senhor quer que saiamos de viagem, que percebamos que estamos a caminho, que não nos acomodemos nem nos estabilizemos em nenhuma situação, sequer em uma pastoral na qual eu esteja. Mas, deixando a vida fluir, permitindo que Ele chame e até mude o chamado, não me apegar; tampouco sair carregando tudo pelo caminho.
Cultivar uma atitude livre com relação às coisas ou aos “cargos” e ministérios é o que pode nos ajudar a cultivar uma atitude livre com relação às pessoas, às relações e ao aparente sucesso ou fracasso da missão. Podemos não ser bem recebidos de forma alguma por uma pessoa ou um grupo de pessoas; ou isso pode acontecer esporadicamente, ou seja, no geral, sou acolhido ali, porém no dia em que eu tive que falar uma palavra mais dura, colocar o dedo na ferida, naquele dia a minha posição foi rejeitada. Isso nos custa ao ponto de às vezes evitar essas situações e não fazermos o que devemos – não denunciar algo injusto no trabalho, na sociedade ou na paróquia; evitar dizer ao outro o que o desagrada. Porém, quando fazemos isso, fugimos da missão que nos é confiada.
Há situações em que, mesmo sem falar, a nossa vida incomoda, pelos valores que seguimos. Isso também é anúncio do Reino. Porém, às vezes nem experimentamos o que significa isso, porque vivemos igual a todo mundo para não parecer um bicho estranho e não sofrer a rejeição.
O que o Senhor nos ensina? “Sacudam o pó das suas sandálias.” Não saia carregando o peso do que “não deu certo” ou das rejeições. Sequer saia carregando o que deu, que também pesa! (tanto é que ficamos mais escravos, dependentes e apegados ao sucesso do que ao fracasso, o que nos impede de fazer a experiência da gratuidade do amor, que plenifica muito mais que aplausos). Chama-nos a sacudir tudo isso e continuar a viagem, na certeza de quem faz é Ele, faz muito além do que possamos ver no imediato. Deixar em suas mãos e ter a esperança de que muitos viverão melhor a partir do que eu espalho vindo de Deus – a começar por mim.
Que o Senhor nos ensine a orar, para a cada dia abastecer-nos do que realmente importa, deixar-nos transformar e oferecer esse melhor que nos é dado aonde formos enviados.
Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei