Crer e levar o evangelho (Marcos 16,15-18)
25 de janeiro de 2017O Reino de Deus é como uma semente de mostarda.
27 de janeiro de 2017“Depois disso o Senhor escolheu mais setenta e dois dos seus seguidores e os enviou de dois em dois a fim de que fossem adiante dele para cada cidade e lugar aonde ele tinha de ir. Antes de os enviar, ele disse:
— A colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos. Por isso, peçam ao dono da plantação que mande trabalhadores para fazerem a colheita. Vão! Eu estou mandando vocês como ovelhas para o meio de lobos. Não levem bolsa, nem sacola, nem sandálias. E não parem no caminho para cumprimentar ninguém. Quando entrarem numa casa, façam primeiro esta saudação: “Que a paz esteja nesta casa!” Se um homem de paz morar ali, deixem a saudação com ele; mas, se o homem não for de paz, retirem a saudação. Fiquem na mesma casa e comam e bebam o que lhes oferecerem, pois o trabalhador merece o seu salário. Não fiquem mudando de uma casa para outra.
— Quando entrarem numa cidade e forem bem-recebidos, comam a comida que derem a vocês. Curem os doentes daquela cidade e digam ao povo dali: “O Reino de Deus chegou até vocês.””
Hoje a Igreja celebra a memória de São Timóteo e São Tito, bispos. Discípulos de Paulo e seguidores de Jesus, eles pastorearam comunidades cristãs num momento de grande perseguição. Peçamos ao Pai, por intercessão de São Timóteo e São Tito, que nos ilumine em nossa oração de hoje, para deixá-lo reavivar em nós o chamado de seguir Seu Filho e pastorear a outros, mesmo em meio das dificuldades do caminho.
Na primeira leitura, da segunda carta de São Paulo a Timóteo 1,1-8, Paulo diz a Timóteo e a nós: “Exorto-te a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos. Pois Deus não nos deu um espírito de timidez, mas de fortaleza, de amor e sobriedade.” A palavra “chamado” vem de “chama”. O desejo do Pai não é que cumpramos mandamentos ou listas de tarefas, seja na Igreja ou na sociedade. Ele nos deu um dom principal para estar vivo em nós como chama, e assim aquecer e contagiar a muitos. A chama da vocação; a chama da sede de justiça; a chama do desejo de um mundo melhor; a chama do progresso da ciência; a chama das causas sociais; a chama do amor fraterno… Batismo e Crisma são momentos especiais nos quais, pela imposição das mãos, recebemos o Espírito Santo, O Dom de Deus, para quem mantenha os nossos dons acesos, queimando em nós para serem oferecidos.
– Como está a chama do dom de Deus em mim?
E Paulo termina: “Não te envergonhes do testemunho de Nosso Senhor nem de mim, seu prisioneiro, mas sofre comigo pelo Evangelho, fortificado pelo poder de Deus.” O Evangelho causa dor: dor de ver os irmãos na rua, dor pela corrupção e desigualdade social, dor pelas injustiças…. e o testemunho, ainda mais dor. Não é fácil definir-se diante das rodas de fofoca, dizer a verdade, defender o social, posicionar-se diante da desvalorização da mulher, do negro, do deficiente. E às vezes nos dá inclusive vergonha.
– Como o Evangelho afeta o meu dia a dia e qual é o testemunho que sou convidada(o) a dar?
Jesus quer nos enviar, e nos envia, como fez com os 72 discípulos no Evangelho de hoje. Somos convidados a ir como discípulos onde ele nos manda (pelos fatos de vida). “Os enviou na sua frente a toda cidade e lugar aonde ele próprio devia ir.” Aí onde estamos o Senhor quer chegar, e nos envia à sua frente, para abrir caminhos a Ele.
Somos poucos? De fato. Por isso pedir ao Pai “mais trabalhadores para a colheita”. Mas não estamos sozinhos. Podemos até perguntar: Cadê minha dupla, Senhor? Onde estou sou só eu! Mas pedir-lhe olhos pra ver.
Ao mesmo tempo, ter a consciência de que de fato não é fácil. “Eis que vos envio como cordeiros no meio de lobos”. Por isso o Senhor nos prepara. Todas as dicas que Ele dá no Evangelho podem ser resumidas em: ir com intencionalidade, com a intenção e o propósito do Reino bem claros. “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais vos será dado em acréscimo” (Mt 6,33). Não nos enredar na busca de garantias materiais ou de agradar as pessoas.
“Em qualquer casa em que entrardes, dizei primeiro: ‘A paz esteja nesta casa!’” É com a consciência de agentes de paz, promotores da paz que o Senhor quer que atuemos. A Sua paz, o shalom, a harmonia em todas as relações (com Ele, com os demais – todos os demais –, com a natureza). Num mundo acostumado à desarmonia, nem sempre o que supõe a paz será bem aceito. No entanto, o convite é a nós não perdermos a paz, sendo acolhidos ou não. É uma graça que precisamos pedir.
Não somos enviados à superficialidade, a dar uma pincelada de coisa boa em cada pessoa, mas a estabelecer relações profundas, permanecer nas casas (nos corações), e com elas curar e trazer o Reino para próximo. Também nos nossos trabalhos e nas causas sociais: não somos chamados a viver nada no “mais ou menos”, mas a ir mais fundo, mais na raiz, e com isso ser parábolas do Reino.
Peçamos ao Espírito a graça de reavivar seu dom em nós, e a fortaleza, o amor e a sobriedade para viver onde o Senhor nos envia, como Suas testemunhas.
Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei