No essencial de Deus (Marcos 7,1-13)
9 de fevereiro de 2016Tempo de jejum
12 de fevereiro de 2016“E Jesus continuou:
— O Filho do Homem terá de sofrer muito. Ele será rejeitado pelos líderes judeus, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da Lei. Será morto e, no terceiro dia, será ressuscitado.
Depois disse a todos:
— Se alguém quer ser meu seguidor, que esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto cada dia para morrer como eu vou morrer e me acompanhe. Pois quem põe os seus próprios interesses em primeiro lugar nunca terá a vida verdadeira; mas quem esquece a si mesmo por minha causa terá a vida verdadeira. O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida verdadeira e ser destruído?”
Na primeira leitura de hoje, tirada do livro do Deuteronômio (Dt 30, 15-20), Moisés nos situa em nossa liberdade e escancara a escolha que o próprio Deus nos convida a fazer: “Hoje estou deixando que vocês escolham entre o bem e o mal, entre a vida e a morte.” Não é apenas em grandes momentos e situações que Ele nos dirige essa provocação. Em cada passo da nossa vida, por trás de cada pequena escolha está esta grande escolha. O caminho para a vida vamos tecendo, como uma trama, em cada “agulhada” em que damos um ponto ou um nó.
Como escolher a vida? Ele resume assim: “Amem o Senhor, nosso Deus, obedeçam ao que Ele manda e fiquem ligados com Ele.”
O Filho, obediente ao Pai, é que nos ensina, numa vida humana como a nossa, o que significa concretamente amar o Senhor e obedecê-lo. É o que nos revela no Evangelho, no qual nos fala exatamente da “vida verdadeira” e nos convida a seguir seus passos para ela. “Quem põe seus próprios interesses em primeiro lugar nunca terá a vida verdadeira; mas quem esquece a si mesmo por minha causa terá a vida verdadeira.”
Jesus revira toda a lógica egoísta e egocêntrica do nosso mundo, que ensina: “Primeiro eu, segundo eu, e terceiro eu.” Essa lógica não está fora, mas a encontramos dentro de nós. Que difícil esquecer a si mesmo e aos próprios interesses! Coloquemos situações cotidianas diante de nós e do Senhor na oração – situações no local de estudo, de trabalho, na vizinhança, na própria comunidade – e percebamos os vários interesses aí envolvidos, inclusive os nossos. Para qual lado cada um puxou? O que defendia por trás da sua fala e ações? E como fica o coletivo diante dos individuais?
Tem uma expressão na fala de Jesus que faz absolutamente toda a diferença: “Por minha causa”. Sem uma causa, sem A causa que é Ele, nada nos moverá a esquecer o próprio interesse e a não o colocar em primeiro lugar. Para nós, é a experiência pessoal com Jesus que poder reverter a lógica egoísta tão aplastante que está dentro. Como evangelizadores, somos convidados a oferecer essa experiência para que também se torne o mais forte no outro: “Seu amor vale mais que a vida.”
A Encíclica do Papa e a Campanha da Fraternidade nos chamam a assumir a responsabilidade pela casa comum. Nela, nos unimos a todas as pessoas de boa vontade, cristãos ou não. O “por minha causa” se torna: pela Justiça, pelo Amor, pelo Direito, pela Vida (todos, para nós, Sementes do Verbo).
Vamos contemplar: como seria o estudo se cada um esquecesse de si pelo Aprendizado comum? Como seria o trabalho se cada um esquecesse de si pela Excelência na entrega? Como seria a vizinhança se cada um esquecesse de si pela Beleza e pela Paz? Como seria a comunidade se cada um esquecesse de si pelo Senhor, pelo Amor? Como seria nosso país e nosso mundo se cada um esquecesse de si pela Responsabilidade e pelo Cuidado da casa comum?
Contemplar até que isso se torne tão forte dentro de nós que nos faça compreender e acolher o chamado (duro a princípio) de Jesus: “Se alguém quer ser meu seguidor, que esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto cada dia para morrer como eu vou morrer e me acompanhe.” Jesus vai à entrega da vida pela Vida de todos. Segui-lo, num mundo em que a Vida nele já venceu, mas os sinais de morte ainda são fortes, supõe morrer a si mesmo a cada dia. Morrer ao egoísmo que está dentro e colocar o “nós” na frente do “eu” e morrer porque o egoísmo está fora e coloca resistência a toda ação de solidariedade e justiça.
Por causa do Senhor e tudo o que significa a Sua causa, de toda a Vida que ela promove, desejo segui-lo e acolho seu caminho?
Que o Espírito nos ajude a dar nosso “sim” e nos fortaleça a concretizá-lo em cada pequena escolha diária.
Tania Pulier, comunicadora social, membro da Família Missionária Verbum Dei e da pré-CVX Cardoner.