PREPARAÇÃO ESPIRITUAL

Vem, Espírito Santo!

Abre-me o ouvido do coração para que perceba tuas mais íntimassugestões,

aquelas que me ditas no oculto do meu interior,

 e faze com que as acolha com obediência amorosa,

para que seja meu gozo e minha alegria seguir em tudo tua vontade.

Que não eu não invente o caminho pelo qual hei de seguir,

mas que me acompanhe a certeza de que obedeço ao que procede de ti.

Tu sempre me deixas conhecê-lo pela paz interior, unida a essa obediência.

Ángel Moreno, Buenafuente del Sistal[1]

A mulher estrangeira

Marcos 7.24-30

­²¹Jesus saiu dali e foi para a região que fica perto das cidades de Tiro e de Sidom.²²Certa mulher cananeia, que morava naquela terra, chegou perto dele e gritou:

— Senhor, Filho de Davi, tenha pena de mim! A minha filha está horrivelmente dominada por um demônio!

²³Mas Jesus não respondeu nada. Então os discípulos chegaram perto dele e disseram:

— Mande essa mulher embora, pois ela está vindo atrás de nós, fazendo muito barulho!

²⁴Jesus respondeu:

— Eu fui mandado somente para as ovelhas perdidas do povo de Israel.

²⁵Então ela veio, ajoelhou-se aos pés dele e disse:

— Senhor, me ajude!

²⁶Jesus disse:

— Não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo para os cachorros.

²⁷— Sim, senhor, — respondeu a mulher — mas até mesmo os cachorrinhos comem as migalhas que caem debaixo da mesa dos seus donos.

²⁸— Mulher, você tem muita fé! — disse Jesus. — Que seja feito o que você quer!

E naquele momento a filha dela ficou curada.

Padre Daniel Kerber

ü  Algumas perguntas para ajudar-te em uma leitura atenta…

De onde era a mulher que, gritando, se aproximou de Jesus? O que tinha a filha da mulher? O que disse Jesus a esta mulher? Em que insistiu a mulher ao ver que Jesus não lhe prestava a atenção que ela esperava? Com que frase Jesus conclui este evangelho?

Algumas considerações para uma leitura proveitosa…

Jesus continua seu caminho e vai para fora da Palestina, para a região de Tiro e Sidom. O texto narra-nos o encontro e o pedido de uma mulher cananeia, ou seja, não judia.

A narrativa estrutura-se com as três intervenções da mulher a interceder por sua filha (vv. 22,25,27) e as reações de Jesus, primeiro em forma negativa (vv. 23,24,26) e, no final, louvando a fé da mulher (v. 28) e satisfazendo-lhe o pedido.

O texto começa situando Jesus em uma região estrangeira, como uma mulher também estrangeira, uma cananeia, que lhe faz um pedido em favor de sua filha que sofre muito. A mulher, embora estrangeira, chama Jesus com um título de salvador: “Filho de Davi” (cf. Mt 1.1), que será o mesmo título com que o invocarão os cegos em 9.27 e os de Jericó em 20.30, pedindo-lhe que tenha compaixão deles.

O texto chama a atenção pela repetida negação de Jesus em atender o pedido desta mulher. Parece que estaríamos diante de um Jesus duro, que não se compadece com a dor dos outros, e tal atitude nos surpreende. Num primeiro momento, não lhe responde nada (v. 23); em seguida, perante a intercessão dos discípulos, explica que foi enviado somente para as ovelhas perdidas de Israel (v.24) e, finalmente, quando a mulher o alcança e se prostra diante dele, novamente lhe dá uma negativa, não a considerando “filha”, ou seja, pertencente a Israel. A comparação com os “cachorrinhos” não é necessariamente depreciativa; Jesus, no entanto, marca bem a distinção entre judeus e não-judeus.

Perante cada uma destas sucessivas negativas e adversidades com que se depara, a mulher não se acovarda e continua a insistir. E na última intervenção, surpreende gratamente a Jesus com uma saída inesperada e cheia de inventiva confiança: “Sim, senhor, mas até mesmo os cachorrinhos comem as migalhas que caem debaixo da mesa dos seus donos” (v. 27). Ela aceita a comparação com os cachorrinhos, mas com a imagem dos cachorrinhos comendo o que cai das mesas, deixa Jesus desconcertado, levando-o a elogiar fortemente sua fé: “Mulher, você tem muita fé!” – e lhe concede o que pede: “Que seja feito o que você quer!”

O caminho das sucessivas negativas de Jesus e a insistente confiança da mulher são um ensinamento importante para os leitores. Jesus queria negar-lhe o que pedia? Ou, antes, queria ensinar a necessidade de confiar até o fim, apesar de toda adversidade? Frente às muitas situações de dor por que devem passar os discípulos e os que creem, o relato ensina que, apesar das aparentes “negativas”, são convidados a perseverar na confiança, a não desanimar diante das provações, como diz Jesus: “Fiquem firmes, pois assim vocês serão salvos” (Lc 21.19).

Em sua homilia do dia 14 de agosto, no Palácio Pontifício de Castelgandolfo, o Papa Bento XVI convida-nos a fazer crescer nossa fé tanto quanto a da mulher cananeia…

“Qual é a atitude do Senhor diante daquele grito de dor de uma mulher pagã? Poderia parecer desconcertante o silêncio de Jesus, a ponto de suscitar a intervenção dos discípulos, mas não se trata de insensibilidade ao sofrimento daquela mulher… A indiferença aparente de Jesus, que diz: ‘Eu fui mandado somente para as ovelhas perdidas do povo de Israel’ (v. 24), não desencoraja a cananeia, que insiste: ‘Senhor, me ajude!’ (v. 25). E mesmo quando recebe uma resposta que parece impedir toda a esperança — ‘Não está certo tirar o pão dos filhos e jogá-lo para os cachorros’(v. 26) — não desiste. Nada quer tirar aos outros: na sua simplicidade e humildade basta-lhe pouco, são suficientes as migalhas, bastam-lhe somente um olhar, uma boa palavra do Filho de Deus. E Jesus admira-se por esta resposta de fé tão grande e diz-lhe: ‘Que seja feito o que você quer’ (v. 28)

“Queridos amigos, também nós somos chamados a crescer na fé, a abrir-nos e receber com liberdade o dom de Deus, a ter confiança e bradar a Jesus: ‘dá-nos fé, ajuda-nos a encontrar o caminho!’. O caminho que Jesus fez realizar aos seus discípulos, à cananeia, aos homens de todos os tempos e povos e a cada um de nós. A fé abre-nos para conhecer e receber a identidade real de Jesus, a sua novidade e unicidade, a sua Palavra, como fonte de vida, a fim de viver uma relação pessoal com Ele. O conhecimento da fé cresce com o desejo de encontrar a estrada e, enfim, é um dom de Deus que se nos revela não como algo abstrato sem rosto nem nome, mas a fé corresponde a uma Pessoa, que quer entrar numa relação de amor profundo conosco e envolver toda a nossa vida. Por isso, todos os dias o nosso coração deve viver a experiência da conversão, realizar a nossa passagem de homens fechados em nós mesmos para homens abertos à ação de Deus, homens espirituais (cf. 1Cor 2. 13-14), que se deixam interpelar pela Palavra do Senhor e abrem a própria vida ao seu Amor”.[2]

Agora perguntemo-nos:

Quero encontrar o caminho de Jesus e caminhar com ele? Gostaria que minha fé fosse como a da mulher cananeia? Falo a Jesus a respeito de minha fé para que seja ele a guiar-me em meu crescimento espiritual?

Creio, Senhor! Faze com que eu creia com mais firmeza.

Espero! Faze com que eu espere com mais confiança.

Amo! Faze com que ama com mais ardor.

Arrependo-me! Faze com que seja maior a minha dor…

Dirige-me com tua sabedoria,

amarra-me com tua justiça,

consola-me com tua clemência,

protege-me com teu poder.

Oração do Papa Clemente XI

Senhor Jesus, que minha confiança em ti não diminua,

apesar de sentir que a dificuldade é mais forte do que eu.

Durante esta semana, prestarei atenção especial (se for possível, juntamente com pessoas de minha comunidade) às necessidades dos que me rodeiam (fome, abandono, depressão) e buscarei aproximar-me com um gesto que os conforte.

“Confia em Jesus, põe nele todas as tuas preocupações e deixa-o agir:

ele colocará tudo em ordem.”

São João Bosco