(Lc 10, 17-24)
6 de outubro de 2018E quem é o meu próximo?
8 de outubro de 2018
PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Espírito Santo, vem e toca meus sentidos para receber a Boa-Nova.
Espírito Santo, vem e faze com que a força da Palavra renove minha vida.
Espírito Santo, vem e sopra para que
junto a Jesus Vivo, eu possa encarnar a Palavra
em meus gestos, juntamente com minha comunidade.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: Marcos 10.2-12
Jesus fala sobre o divórcio
Mateus 5.31-32; 19.1-12; Lucas 16.18
2Alguns fariseus, querendo conseguir uma prova contra ele, perguntaram:
— De acordo com a nossa Lei, um homem pode mandar a sua esposa embora?
3Jesus respondeu com esta pergunta:
— O que foi que Moisés mandou?
4Eles responderam:
— Moisés permitiu ao homem dar à sua esposa um documento de divórcio e mandá-la embora.
5Então Jesus disse:
— Moisés escreveu esse mandamento para vocês por causa da dureza do coração de vocês. 6Mas no começo, quando foram criadas todas as coisas, foi dito: “Deus os fez homem e mulher. 7Por isso o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir com a sua mulher, 8e os dois se tornam uma só pessoa.” Assim, já não são duas pessoas, mas uma só. 9Portanto, que ninguém separe o que Deus uniu.
10Quando já estavam em casa, os discípulos tornaram a fazer perguntas sobre esse assunto. 11E Jesus respondeu:
— O homem que mandar a sua esposa embora e casar com outra mulher estará cometendo adultério contra a sua esposa.12E, se a mulher mandar o seu marido embora e casar com outro homem, ela também estará cometendo adultério.
1. LEITURA
Que diz o texto?
* Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
1. O que alguns fariseus perguntam a Jesus e qual a intenção deles ao perguntar?
2. Por que Jesus lhes responde remetendo ao que foi dito por Moisés?
3. O que respondem os fariseus?
4. Jesus está de acordo com o que Moisés disse? Que pensa Jesus sobre o divórcio? Em que se fundamenta seu ensinamento?
5. Os discípulos entenderam este ensinamento? Como Jesus o esclarece a eles?
* Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini1
Jesus acha-se a ensinar às pessoas na região da Judeia, do outro lado do Jordão (Mc10.1), quando dele se aproximam alguns fariseus que lhe dirigem uma pergunta: “De acordo com a nossa Lei, um homem pode mandar a sua esposa embora?”. O texto deixa claro que a intenção dos fariseus é “conseguir uma prova contra ele”, ou seja, tentá-lo, utilizando o mesmo verbo que indica a ação do diabo no deserto (cf. Mt 4.1,3; Lc 4.2).
Por que a pergunta é capciosa? Porque nos tempos de Jesus, a questão debatida não era a licitude do divórcio – que era comumente aceito – mas, antes, as motivações ou causas para isto. Conhecemos as opiniões de dois notáveis rabinos daquela época: Hillel e Shammai. O primeiro era mais aberto, pois justificava qualquer motivo, por mais banal que fosse, para que o homem repudiasse sua mulher. Shammai, por sua vez, era mais rígido em sua interpretação da Torá, e só justificava o divórcio por uma causa grave. É possível que os fariseus estivessem divididos entre estas opiniões de duas escolas diferentes e perguntam a Jesus a fim de que ele tomasse o partido de uma delas.
Jesus, segundo o estilo argumentativo daquela época, responde com uma pergunta: “O que foi que Moisés mandou?” Observemos que, enquanto os fariseus perguntam a respeito da licitude ou permissão, Jesus indaga pelo que foi “mandado” por Moisés a respeito.
A resposta dos fariseus está correta, pois, de fato, Moisés permite ao marido preparar um documento de divórcio, entregá-lo à esposa e mandá-la embora (cf. Dt 24.1-4).
Em seguida, Jesus interpreta este “mandamento” de Moisés como algo dado de modo relativo e ocasional em vista da “dureza de coração” do povo. Imediatamente, contrapõe aquele mandado com uma lei
superior, que é a ideia primeira de Deus sobre o matrimônio, que não é esta. Jesus remonta “ao princípio”, ou seja, ao livro do Gênesis (1.27 e 2.24), a fim de fundamentar a indissolubilidade do matrimônio e para condenar como adultério o fato de um homem separar-se de sua mulher e casar-se com outra.
Na interpretação de Jesus, os textos citados do Gênesis expressam o projeto de Deus sobre o matrimônio, entendendo-o como a união de um homem com sua mulher, de caráter monogâmico e indissolúvel. Portanto, na própria “natureza” do homem criado como varão e mulher, e chamados ao matrimônio desde a origem, encontra-se inscrita esta “lei” estabelecida por Deus, e que é anterior e superior à concessão do divórcio feita por Moisés.
Ao que parece, estas afirmações de Jesus encerravam uma novidade em relação ao pensamento e à prática habituais no judaísmo, a ponto de os próprios discípulos tornarem a perguntar sobre o tema quando estão “em casa” com Jesus. Aqui, ele diz-lhes claramente que quem repudia sua mulher e se casa com outra comete adultério; e o mesmo acontece com a mulher que se separa e se casa com outro. A referência bíblica aqui é o sexto mandamento: “Não cometerás adultério” (Êx 20.13; Dt 5.17), com a novidade de que Jesus o aplica aos que rompem o primeiro matrimônio e contraem uma nova união. Este juízo valorativo de Jesus pressupõe o que ele afirmou antes sobre a indissolubilidade do matrimônio (que ninguém separe o que Deus uniu) e, somente a partir daqui, considera que a nova relação do homem ou da mulher já casados é adultério.
O que o Senhor me diz no texto?
Sem sombra de dúvidas, a questão do matrimônio indissolúvel e do divórcio é um dos temas em que mais se nota o contraste entre o evangelho e o pensamento da sociedade e da cultural atuais. Os próprios jovens fazem eco a isto no documento preparatório do Sínodo, no qual afirmam que “costuma haver bastante desacordo entre os jovens, tanto dentro quanto fora da Igreja, sobre alguns de seus ensinamentos que hoje em dia são especialmente polêmicos. Exemplos destes são a contracepção, o aborto, a homossexualidade, o concubinato, o matrimônio e a maneira como o sacerdócio é percebido em diferentes realidades da Igreja”. Diante desta confusão de opiniões, o melhor será deixar-nos iluminar pelo pensamento e pelas palavras de Jesus sobre este tema tão importante na vida das pessoas.
A primeira coisa é aceitar a pedagogia de Jesus, que não entra na discussão dos casos particulares, nos ropimentos de matrimônios por diversas causas, mas que se reporta ao princípio, ao matrimônio segundo Deus, ressaltando-lhe a beleza e a bondade quando se vive como entrega para toda a vida. Ou seja, Jesus apresenta-nos primeiro o ideal, a beleza do amor verdadeiro, tal como foi pensado por Deus ao criar o homem varão e a mulher, diferentes e complementares, para que se unam para sempre por amor.
Peçamos ao Senhor que no ajude a captar a beleza e o valor de um amor exclusivo, fecundo e por toda a vida. Que em tempos de “amor líquido”, em referência à fragilidade dos vínculos, o Senhor nos conceda a graça de apostar tudo por um amor sólido e verdadeiro. O Papa Francisco, ecoando as palavras de Jesus, dizia aos noivos que lhe perguntaram se é possível amar-se para sempre: “Hoje em dia, muitas pessoas têm medo de fazer escolhas definitivas. (…) Mas trata-se de um medo geral, próprio da nossa cultura. Parece impossível fazer escolhas para a vida inteira. Hoje tudo muda rapidamente, nada dura no tempo. E esta mentalidade leva muitas pessoas que se preparam para o matrimónio a afirmar: ‘permaneçamos juntos, enquanto o amor durar’; e depois? Muitas saudações e até à vista! E assim termina o matrimónio. Mas o que entendemos por ‘amor’? Apenas um sentimento, uma condição psicofísica? Sem dúvida, se for assim, não será possível construir sobre ele algo de sólido. Ao contrário, se o amor for uma relação, então será uma realidade que cresce, e como exemplo até podemos dizer que se constrói como uma casa. E a casa constrói-se juntos, não sozinhos! Aqui, construir significa favorecer e ajudar o crescimento. Estimados noivos, vocês estão se preparando para crescer
juntos, para construir esta casa, para viver juntos para sempre. E não desejam alicerçá-la sobre a areia dos sentimentos que vão e voltam, mas sobre a rocha do amor autêntico, do amor que provém de Deus. (…). Do mesmo modo como o amor de Deus é estável e para sempre, assim também no caso do amor que funda a família, desejamos que ele seja estável e para sempre. (…) Porque, queridos noivos, o ‘para sempre’ não é apenas um problema de duração! Um matrimónio não é bem-sucedido unicamente quando dura, mas é importante a sua qualidade. Estar juntos e saber amar-se para sempre, eis no que consiste o desafio dos esposos cristãos” (Discurso do Papa Francisco aos Noivos que se preparam para o Matrimônio, sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014).
No entanto, o que acontece nos casos concretos e particulares? Que se passa com as pessoas que se divorciaram e contraíram nova união, inclusive com filhos, fruto desta nova união? O Magistério da Igreja, com atitude de escuta e de fidelidade ao Espírito do Evangelho, deu indicações a este respeito. As mais recentes foram as do Papa Francisco em sua exortação apostólica “A Alegria do Amor”, que nos convida a “acompanhar, discernir e integrar a fragilidade” (Amoris Laetitia. cap. VIII).
À guisa de síntese, valham as palavras do Papa Francisco em sua catequese do dia 22 de abril de 2015: “A desvalorização social da aliança estável e generativa do homem e da mulher é sem dúvida uma perda para todos. Devemos restituir a honra ao matrimónio e à família! A Bíblia diz algo muito bonito: o homem encontra a mulher; eles encontram-se e o homem deve deixar algo para a encontrar plenamente. Por isso, o homem deixará o seu pai e a sua mãe para ir ao encontro da mulher. É bonito! Isto significa começar a percorrer um novo caminho. O homem é todo para a mulher, e a mulher é inteiramente para o homem” (Audiência Geral).
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
1. Penso que seja possível amar alguém para sempre? Por quê?
2. Já percebi em algum matrimônio o reflexo da beleza de um amor para sempre, como Jesus pede?
3. Compreendo por que Jesus nos propõe o ideal do matrimônio tal como Deus o estabeleceu desde o princípio da criação?
4. Vivo meus vínculos de modo líquido, consumista, ou aposto em vínculos sólidos e duradouros, mesmo que me custem sacrifícios e renúncias?
5. Que atitudes tenho diante dos casais divorciados e recasados?
O que respondo ao Senhor que me fala no texto?
Obrigado, Jesus, por nos animares a amar empenhadamente.
Apresento-te todos os que estão caminhando juntos no Amor.
Faze com que o amor seja sincero, puro, fecundo.
Que à tua imagem, possam amar-se para sempre,
do princípio ao fim, apostando na fidelidade e na entrega.
Livra-nos de ter um olhar condenatório
sobre aqueles que não puderam viver esta união para sempre.
Reveste-nos a todos da força para empenhar-nos por vínculos sólidos, duradouros.
Que tua presença nos impulsione a amar como amaste, doando-te inteiramente.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, ensina-nos a amar para sempre, buscando vínculos sólidos e duradouros”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Esta semana, escolherei um casal e lhe farei uma visita a fim de partilharmos juntos um momento”.
“No lar doméstico, respire-se aquela caridade que ardia na família de Nazaré; floresçam todas as virtudes cristãs; reine a união e resplandeçam os exemplos de uma vida honesta”.
São João XXIII