“Quando o Senhor a viu, ficou com muita pena”
19 de setembro de 2017À mesa com os pecadores
21 de setembro de 2017“E Jesus terminou, dizendo:
— Mas com quem posso comparar as pessoas de hoje? Com quem elas são parecidas? Elas são como crianças sentadas na praça. Um grupo grita para o outro:
‘Nós tocamos músicas de casamento,
mas vocês não dançaram!
Cantamos músicas de sepultamento,
mas vocês não choraram!’
João Batista jejua e não bebe vinho, e vocês dizem: ‘Ele está dominado por um demônio.’ O Filho do Homem come e bebe, e vocês dizem: ‘Vejam! Esse homem é comilão e beberrão; é amigo dos cobradores de impostos e de outras pessoas de má fama.’ Mas aqueles que aceitam a sabedoria de Deus mostram que ela é verdadeira.”
Na oração de hoje, vamos pedir a graça de acolher a sabedoria de Deus, em suas múltiplas e desconcertantes manifestações diárias.
O questionamento que Jesus faz às pessoas do seu tempo vale muito bem para o nosso “hoje” atual. “Com quem posso comparar as pessoas de hoje? Com quem elas são parecidas?” E nós, o que vemos em nós mesmos e nas pessoas ao nosso redor? Trazer a atualidade para nossa oração.
Ver um Jesus contemplativo, que detidamente observava a realidade, as pessoas, as circunstâncias. Vê-lo sentado na praça, atento a tudo. E aí traz para a sua fala o exemplo das crianças. “Elas são como crianças sentadas na praça. Um grupo grita para o outro…”
Em várias partes do Evangelho aparece Jesus falando das crianças no sentido de valorizá-las e cobrar esse valor. No caso do trecho de hoje, Ele não está falando das crianças, mas da infantilidade das pessoas do seu tempo. “Nós tocamos músicas de casamento, mas vocês não dançaram! Cantamos músicas de sepultamento, mas vocês não choraram!” Pessoas que não se deixam tocar pela “música” tocada. Não ficam com o que realmente importa, nem com a verdadeira alegria, sequer com a verdadeira dor, mas, mantendo-se em aspectos superficiais, apenas criticam (agarrados ao que menos importa).
Na nossa realidade, vemos pessoas que choram e riem pelo que não é essencial. Outro dia um amigo meu precisou ajudar uma menina a atravessar a rua, porque ela estava chorando com tal desespero que ficava paralisada em meio à avenida Paulista. Após ajudá-la para que não fosse atropelada, ele perguntou o que havia acontecido, e ela disse que o gato da sua tia havia morrido. E nós, quais são nossos motivos de riso e choro, de tristeza e alegria?
A questão maior, no entanto, não é pelo que a gente se emociona, mas pelo que não se emociona. Por que passamos a cada dia por pessoas jogadas na rua que já nem vemos nem sentimos? Por que a situação do nosso país não nos move e, se em algum momento nos moveu, foi mais ideologicamente e parcialmente do que evangelicamente e imparcialmente, ou seja, com os mesmos critérios para um lado e para o outro? Por que o contato diário com A Fonte dO Amor não nos toca, a ponto de mendigarmos qualquer atenção de qualquer lugar e não nos darmos conta do que nos é oferecido em Cristo, motivo da verdadeira alegria que supera qualquer falta?
Santo Inácio de Loyola dizia que os Exercícios Espirituais eram para ordenar os afetos. Peçamos ao Senhor, então, que ordene os nossos afetos, que nos dê a graça da abertura e sensibilidade ao essencial, que coloca tudo em seu devido lugar. Que nos ensine a encontrar com sua sabedoria que se manifesta de várias maneiras no nosso dia a dia, sobretudo no rosto do irmão, a aceitá-la e acolhê-la, por mais controversa ou incômoda que possa parecer. Que o Senhor encontre em nós instrumentos dóceis, nos quais possa tocar a Sua música de alegria ou de dor.
Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei