Misericórdia antes da justiça
18 de junho de 2018Mateus 6,7-15
21 de junho de 2018Evangelho: Mateus 6, 1-6. 16-18
“— Tenham o cuidado de não praticarem os seus deveres religiosos em público a fim de serem vistos pelos outros. Se vocês agirem assim, não receberão nenhuma recompensa do Pai de vocês, que está no céu.
— Quando você der alguma coisa a uma pessoa necessitada, não fique contando o que fez, como os hipócritas fazem nas sinagogas e nas ruas. Eles fazem isso para serem elogiados pelos outros. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: eles já receberam a sua recompensa. Mas você, quando ajudar alguma pessoa necessitada, faça isso de tal modo que nem mesmo o seu amigo mais íntimo fique sabendo do que você fez. Isso deve ficar em segredo; e o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa.
— Quando vocês orarem, não sejam como os hipócritas. Eles gostam de orar de pé nas sinagogas e nas esquinas das ruas para serem vistos pelos outros. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: eles já receberam a sua recompensa. Mas você, quando orar, vá para o seu quarto, feche a porta e ore ao seu Pai, que não pode ser visto. E o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa.
— Quando vocês jejuarem, não façam uma cara triste como fazem os hipócritas, pois eles fazem isso para todos saberem que eles estão jejuando. Eu afirmo a vocês que isto é verdade: eles já receberam a sua recompensa. Mas você, quando jejuar, lave o rosto e penteie o cabelo para os outros não saberem que você está jejuando. E somente o seu Pai, que não pode ser visto, saberá que você está jejuando. E o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa.”
Reflexão:
Na oração de hoje, peçamos ao Pai a graça de viver na verdade profunda diante dele, como Jesus.
Logo no início da instrução, Jesus utiliza a palavra “cuidado”: “Tenham o cuidado de não praticarem os seus deveres religiosos em público a fim de serem vistos pelos outros.” Não é uma palavra do grupo do pragmatismo, da imagem, da exposição, mas de outra ordem: da delicadeza. Se deixamos que ela nos introduza no diálogo com Deus, já percebemos que o que virá em seguida precisa ser escutado na interioridade, com o coração aberto, aquele que representa o campo fértil onde a semente lançada produz frutos.
O que está em jogo nas três práticas religiosas típicas exemplificadas por Jesus é a intenção. “A fim de serem vistos pelos outros” ou “em segredo”. Qual a diferença? Muitas vezes não é visível também, pois se trata da mesma ação, o que aparece por fora, a não ser que seja muito grotesco – mas o discernimento difícil se dá na sutileza –, mostra-se semelhante. O Senhor diferencia a recompensa: “eles já receberam a sua recompensa.” A primeira atitude tem o fim em si mesma: para serem vistos; serem elogiados; as pessoas saberem. Recebe-se algo por isso? Claro que sim! Do contrário, não faríamos. É algo, porém, que não sacia plenamente o coração. Ele fica cheio de si, todo, todo; no dia seguinte, porém, já está faminto e sedento novamente. E são esses exatamente os sinais que podem nos alertar de caminharmos por aí. Pois, dentro de nós, as intenções se misturam, e nem sempre é fácil assumi-las, admitir para nós mesmos o que estamos buscando. Porém, quando nos percebermos vazios e carentes, ou chateados por uma falta de reconhecimento, podemos “puxar o fio” de onde isso nasceu e encontraremos. Quem sabe foi uma prática até exemplar, mas que não nasceu do fundo do coração, de uma relação íntima com Deus.
É a ela que somos chamados. Interessante que por duas vezes, na oração e no jejum, esta tradução coloca: “seu Pai, que não pode ser visto. E o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa.” O Pai escapa aos nossos olhos e a qualquer das nossas categorias. Ele é muito mais! Sendo assim, também vê muito além em nós, vê “em segredo”. É neste abismo do abismo, profundo do profundo que a verdadeira recompensa se dá. Esta não passa, nem pode ser tirada ou é ameaçada pelo que quer que seja. Aliás, mesmo que os outros interpretarem mal porque nossas práticas não corresponderem ao esperado, às caixinhas, se estivermos respondendo à voz do profundo, outra coisa acontece neste nível, independente de olhares e julgamentos.
E na relação com o outro? (na esmola) Ele é a visibilidade do Deus invisível. Neste caso, por isso, não é dita a expressão “que não pode ser visto”. No entanto, a recompensa profunda se dá na própria relação, na qual o Pai se faz presente.
Peçamos, então, ao Espírito que purifique nossas intenções e nos leve a viver respondendo mais à voz interior que aos apelos exteriores, expressando a nossa resposta no amor simples, concreto e gratuito do dia a dia.
Tania Pulier, esteticista da alma, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei