“…não terei medo de nada. Pois tu, ó Senhor Deus, estás comigo; tu me proteges e me diriges!”
30 de março de 2014A graça da liberdade (Jo 5,1-16)
1 de abril de 2014LEITURA
“Depois daqueles dois dias, ele partiu de lá para a Galiléia. O próprio Jesus havia testemunhado que o profeta não é honrado em sua própria pátria. Quando, pois, ele chegou à Galiléia, os galileus o receberam, tendo visto tudo o que ele fizera em Jerusalém, por ocasião da festa: pois também eles tinham ido à festa. Ele voltou novamente a Caná da Galiléia, onde transformara água em vinho. Havia um funcionário real, cujo filho se achava doente em Cafarnaum. Ouvindo dizer que Jesus viera da Judéia para a Galiléia, foi procurá-lo, e pedia-lhe que descesse e curasse seu filho, que estava à morte. Disse-lhe Jesus: ‘Se não virdes sinais e prodígios, não crereis’. O funcionário real lhe disse: ‘Senhor, desce, antes que meu filho morra!’ Disse-lhe Jesus: ‘Vai, teu filho vive’. O homem creu na palavra que Jesus lhe havia dito e partiu. Ele já descia, quando os servos vieram-lhe ao encontro, dizendo que seu filho vivia. Perguntou, então, a que horas ele se sentira melhor. Eles lhe disseram: ‘Ontem, à hora sétima, a febre o deixou’. Então o pai reconheceu ser precisamente aquela hora em que Jesus lhe dissera: ‘Teu filho vive’; e creu, ele e todos os da sua casa. Foi esse o segundo sinal que Jesus fez, ao voltar da Judéia para a Galiléia.”
Provocações de fé
Jesus retorna a Caná da Galiléia, local onde havia realizado seu primeiro milagre, quando da transformação da água em vinho. Chegando em Caná, foi ao seu encontro um funcionário do rei, suplicante por fazer de Jesus o salvador de seu filho, que se encontrava em leito de morte. Nesse segundo cenário de Jesus em Caná, há a presença de uma sutileza comum com a situação do primeiro milagre, na festa de casamento. É possível perceber uma semelhança entre o comportamento de Maria, diante da falta de vinho, e a postura do funcionário do rei, atingido pela enfermidade de seu filho.
Na festa de casamento, Jesus hesitou em resolver o problema do esgotamento do vinho, reclamando que ainda não tinha chegado sua hora. Maria, como se fingisse não ouvir as queixas do filho, simplesmente ordenou que preparassem as condições básicas para a realização do milagre. Pode-se até pensar que Jesus, diante de sua fala hesitante, quisesse provocar um debate se ali seria ou não o momento propício para o início de sua manifestação divina. Fato é que Maria, em momento de firme esperança e plena convicção, respondeu de modo indireto à provocação do filho, dando sinais de que se preenchia de fé suficiente para depositar toda a confiança no trabalho de Jesus.
Em momento mais tarde, no retorno de Jesus a Caná, mais uma vez, a princípio, hesitou em responder de prontidão à queixa do homem que fora a seu encontro. Jesus levantou o debate da incredulidade humana diante da ausência de milagres. Como Maria, o funcionário do rei, repleto de uma fé viva e ardente, fechou a provocação de Jesus, insistindo que salvasse seu filho da morte. A postura confiante do funcionário do rei mostra-se tão forte que a leitura passa como se o homem não tivesse dado ouvidos à reclamação de Jesus.
Todos os dias, como Maria e o funcionário do rei, somos verdadeiramente provocados por Jesus. Aparecem, a todo momento, situações em que somos levados a enxergar hesitações, por parte de Deus, em nos ajudar na solução de nossos problemas. Na verdade, essas situações devem ser vistas como reais oportunidades de reafirmarmos nossa fé, de mostrarmo-nos repletos de confiança no pastoreio de Jesus na nossa história. Ele mesmo nos instiga, por meio de nossa consciência, a questionarmos de que forma se dá a presença de Deus no nosso cotidiano, de modo que nos provoca a reafirmarmos a renúncia e o seguimento que nos são requisitados para seu serviço e a vivência da verdadeira felicidade. Jesus não provoca esses momentos de hesitação para sermos reféns de uma fé constantemente abalada, por vezes decadente. Ele quer é que vivamos a fé na sua autenticidade, fazendo com que ganhemos confiança na reafirmação diária de que realmente queremos segui-lo, incondicionalmente.
– Nesta semana, tente perceber o surgimento dessas situações provocadoras. Observe se o seu comportamento e resposta são representativos de uma fé autêntica e incondicional.
Marcelo H. Camargos, acadêmico de medicina na UFMG e membro da Família Verbum Dei.