Abismos
1 de março de 2018Confiei no teu amor e voltei (Lc 15, 1-3. 11-32)
3 de março de 2018Jesus disse:
— Escutem outra parábola: certo agricultor fez uma plantação de uvas e pôs uma cerca em volta dela. Construiu um tanque para pisar as uvas e fazer vinho e construiu uma torre para o vigia. Em seguida, arrendou a plantação para alguns lavradores e foi viajar. Quando chegou o tempo da colheita, o dono mandou alguns empregados a fim de receber a parte dele. Mas os lavradores agarraram os empregados, bateram num, assassinaram outro e mataram ainda outro a pedradas. Aí o dono mandou mais empregados do que da primeira vez. E os lavradores fizeram a mesma coisa. Depois de tudo isso, ele mandou o seu próprio filho, pensando: “O meu filho eles vão respeitar.” Mas, quando os lavradores viram o filho, disseram uns aos outros: “Este é o filho do dono; ele vai herdar a plantação. Vamos matá-lo, e a plantação será nossa.”
— Então agarraram o filho, e o jogaram para fora da plantação, e o mataram.
Aí Jesus perguntou:
— E agora, quando o dono da plantação voltar, o que é que ele vai fazer com aqueles lavradores?
Eles responderam:
— Com certeza ele vai matar aqueles lavradores maus e vai arrendar a plantação a outros. E estes lhe darão a parte da colheita no tempo certo.
Jesus então perguntou:
— Vocês não leram o que as Escrituras Sagradas dizem?
“A pedra que os construtores rejeitaram
veio a ser a mais importante de todas.
Isso foi feito pelo Senhor
e é uma coisa maravilhosa!”
E Jesus terminou:
— Eu afirmo a vocês que o Reino de Deus será tirado de vocês e será dado para as pessoas que produzem os frutos do Reino.
Os chefes dos sacerdotes e os fariseus ouviram as parábolas que Jesus contou e sabiam que ele estava falando a respeito deles. Por isso queriam prendê-lo, mas tinham medo da multidão porque o povo achava que Jesus era profeta.
Peçamos ao Espírito Santo a sabedoria de bem entender a mensagem que o texto de hoje nos traz.
Ao ler a primeira leitura, Gn 37,3-4.12-13a.17b-28, fiquei muito pensativo sobre os pecados cuja raiz é a inveja
Na primeira leitura, que aconselho todos a lerem, os irmãos de José traçam planos para eliminá-lo porque sua presença não é suportada por eles. E por que eles não a suportam? Porque as qualidades de José, tão admiradas por muitos, principalmente por seu pai, os fazem se sentirem menosprezados.
Ao ler um pouco sobre a inveja, percebo que é senso comum considerá-la um pecado que vive escondido. O invejoso não consegue admitir-se invejoso. Ele olha para os outros, cujas qualidades inveja e procura, de alguma forma, desfazer desta pessoa. Pode ser difamando-a ou até mesmo, em casos extremos, semelhante aos irmãos de José, matando-a. A Bíblia nos traz outros casos muito típicos da inveja, por exemplo o primeiro assassinato, cometido por Caim, que vivia cheio de inveja de Abel (Gn 4,1-8).
Na sua essência a inveja é um pecado difícil de ser tratado porque o olhar não se volta para nosso interior, ele está voltado para o outro. Esta postura impede que as sombras sejam iluminadas, todo o foco está na qualidade dos outros, levando o invejoso à uma baixa auto-estima. Ele não consegue perceber os dons que tem, uma vez que somente se preocupa com os dons dos outros.
Na parábola do evangelho fiquei imaginando o que motivava a ação dos lavradores.
Podiam estar tomados de avareza, dando valor somente ao dinheiro e, assim, não querendo dividi-lo com o dono da vinha.Talvez, também, motivados por orgulho, vaidade ou egoísmo. Sim, seria possível. Mas, sabendo que Jesus contou a parábola para falar a respeito dos chefes dos sacerdotes e dos fariseus, percebo também os traços da inveja. Os líderes instituídos pelas normas e leis costumam não suportar os líderes populares, que ajuntam multidões para ouvi-los e, também, para segui-los. Isto acontece até hoje, quando muitos líderes populares são atacados pelas mais diversas campanhas de difamação.
Senhor, entendo que é necessário desenvolver todos os esforços que dependem de mim, para iluminar sempre meu interior e não permitir que estas pesadas sombras da inveja cresçam. Lembrei-me de quando o Senhor disse: “se a luz que está em você virar escuridão, como será terrível essa escuridão!” (Mt 6, 23b). Realmente, se eu não olhar com carinho, cuidado e atenção para o meu interior, se eu não olhar e não encontrar os dons que me foram dados, mas pelo contrário, ficar olhando e invejando os dons dos outros, logo logo haverá uma escuridão insondável em mim.
Há uma linha muito tênue separando as forças boas das forças más. Talvez seja uma boa reflexão da parábola do joio e do trigo (Mt 13, 24-30). Uma certa dose de orgulho unida a uma grande admiração, podem ser sementes de uma obra maravilhosa, mas também podem se transformar em uma penca de pecados, como o ocorrido no texto de hoje.
A vida de Santo Inácio de Loyola é um bom exemplo disto. Ele, um militar orgulhoso e vaidoso, quando fraturou uma perna e teve que passar um período em um hospital, se recuperando, ocupou-se de ler os dois únicos livros lá existentes: “A vida de Cristo” e “A vida dos santos”. Então perguntou-se: “Por que não faço eu o que fizeram São Franciso e São Domingos? Se eles realizaram tão grandes feitos, por que não posso realizá-los também?”.
Jesus está nos chamando para ter esta atitude de Santo Inácio de Loyola. Não deixar que a vaidade e a inveja se transformem em motivo de pecado, antes, contando com a graça de Deus, trabalhar para que sejam adubo na produção dos frutos do Reino.
Pedir, na oração pessoal, a graça de utilizar a admiração pelos dons dos outros, como combustível e força de vontade, que nos façam alcançar o pleno desenvolvimento de nossos próprios dons.
Maria, mãezinha querida, contamos com você nos acompanhando, para que possamos alcançar bom êxito nesta caminhada ao encontro de seu filho. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte