Um grande abismo entre nós (Lc 16,19-31)
5 de março de 2015Amor de misericórdia (Lucas 15, 1-3. 11-13)
7 de março de 2015“Jesus disse:
_ Escutem outra parábola: certo agricultor fez uma plantação de uvas e pôs uma cerca em volta dela. Construiu um tanque para pisar as uvas e fazer vinho e construiu uma torre para o vigia. Em seguida, arrendou a plantação para alguns lavradores e foi viajar.
Quando chegou o tempo da colheita, o dono mandou alguns empregados a fim de receber a parte dele. Mas os lavradores agarraram os empregados, bateram num, assassinaram outros e mataram ainda outro a pedradas.
Aí o dono mandou mais empregados do que da primeira vez. E os lavradores fizeram a mesma coisa.
Depois de tudo isso ele mandou o seu próprio filho, pensando: ‘O meu filho eles vão respeitar.’ Mas, quando os lavradores viram o filho, disseram uns aos outros: ‘Este é o filho do dono; ele vai herdar a plantação. Vamos matá-lo, e a plantação será nossa.’
Então agarraram o filho, e o jogaram para fora da plantação, e o mataram.
Aí Jesus perguntou:
_ E agora, quando o dono da plantação voltar, o que é que ele vai fazer com aqueles lavradores?
Eles responderam:
_ Com certeza ele vai matar aqueles lavradores maus e vai arrendar a plantação a outros. E estes lhe darão a parte da colheita no tempo certo.
Jesus então perguntou:
_Vocês não leram o que as Escrituras Sagradas dizem?
“A pedra que os construtores rejeitaram veio a ser a mais importante de todas.
Isso foi feito pelo Senhor e é uma coisa maravilhosa!”
E Jesus terminou:
_ Eu afirmo a vocês que o Reino de Deus será tirado de vocês e será dado para as pessoas que produzem os frutos do Reino.
Os chefes dos sacerdotes e os fariseus ouviram as parábolas que Jesus contou e sabiam que ele estava falando a respeito deles. Por isso queriam prendê-lo, mas tinham medo da multidão porque o povo achava que Jesus era profeta.”
Quais frutos a nossa vinha tem dado? Temos produzido os frutos do Reino? Temos entregado a Deus a nossa colheita?
Na oração de hoje, peçamos a graça da humildade, de visitar a nossa vinha com Ele, deixar que veja como está, oferecer-lhe os frutos e permitir que nos ensine como produzir melhores.
A vinha é símbolo do Povo de Israel. Povo escolhido, que Deus amou com amor de predileção. Povo no qual Ele semeou Sua Palavra, com o qual fez aliança para que pudesse ser luz para todas as nações. De várias formas Deus falou a Seu povo. E quantos profetas foram mortos por anunciar a mensagem do Senhor e denunciar o que não estava condizente com a Aliança!
No fim dos tempos e por amor, o Pai envia seu próprio Filho como dádiva, para nos ensinar a viver e nos introduzir na Vida plena. Mas o que ocorre com Jesus? Ele incomoda e é perseguido. E nesta relação já vislumbra seu fim e denuncia este fechamento do povo.
Será que também nós, diante da mensagem difícil, a que incomoda, a que denuncia nossas incoerências, o chamado que quer nos desinstalar do comodismo e nos chamar à entrega, preferimos matar o mensageiro? Podemos matar de várias formas: calar esta voz dentro de nós, abafá-la com as dispersões, optar pelo não amor, por viver “igual a todo mundo”, “fazer o que todo mundo faz” ou nos omitir quando o Amor nos pediria ir além, mesmo que custe perseguição. Podemos esquecer completamente que a vida não nos pertence e viver como se fosse nossa, e não “arrendada”: “A vida é minha e faço dela o que eu quiser!”
Como viver como quem ganhou o maior dos presentes e tem um tempo limitado para fazer render os dons e talentos, no amor e por amor, na certeza de que o segredo da vida plena e da felicidade que tanto se busca está aí? Como optar por este caminho de autorrealização, aquele que se encontra paradoxalmente quando se esquece de si e se doa, e se entrega a Deus e por Ele aos irmãos?
A Quaresma é um tempo propício de conversão. Seus exercícios – jejum, esmola e oração – querem exatamente ordenar nossos afetos e colocar-nos no amor de Deus, no correto amor de nós mesmos e no amor ao próximo. Peçamos ao Espírito que nos ilumine em que pontos necessitamos desta conversão, para não mais matar o amor, mas promovê-lo, a partir da experiência de ser muito amados, a quem tudo foi confiado.
Tania Pulier