Entregar a vida na construção da fraternidade (Lc 9,22-25)
19 de fevereiro de 2015A decisão é tua (Lc 5,27-32)
21 de fevereiro de 2015Assim fala o Senhor Deus: “Grita forte, sem cessar, levanta a voz como trombeta e denuncia os crimes do meu povo e os pecados da casa de Jacó. Buscam-me cada dia e desejam conhecer meus propósitos, como gente que pratica a justiça e não abandonou a lei de Deus. Exigem de mim julgamentos justos e querem estar na proximidade de Deus: “Por que não te regozijaste, quando jejuávamos, e o ignorastes, quando nos humilhávamos?” — É porque no dia do vosso jejum tratais de negócios e oprimis os vossos empregados. É porque, ao mesmo tempo que jejuais, fazeis litígios e brigas e agressões impiedosas.
Não façais jejum com esse espírito, se quereis que vosso pedido seja ouvido no céu. Acaso é esse jejum que aprecio, o dia em que uma pessoa se mortifica? Trata-se talvez de curvar a cabeça como junco, e de deitar-se em saco e sobre cinza? Acaso chamas a isso jejum, dia grato ao Senhor?
Acaso o jejum que prefiro não é outro: quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo, tornar livres os que estão detidos, enfim, romper todo tipo de sujeição? Não é repartir o pão com o faminto, acolher em casa os pobres e peregrinos? Quando encontrares um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne.
Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá. Então invocarás o Senhor e ele te atenderá, pedirás socorro, e ele dirá: “Eis-me aqui”.
Neste período da Quaresma, que nos remete ao tempo em que Jesus permaneceu por 40 dias no deserto, orando e jejuando, sendo tentado e fortalecendo-se para enfrentar as dificuldades que viriam, a Igreja nos propõe o jejum, uma das formas de vivenciarmos este tempo que culmina com a Semana Santa.
Mas o jejum – assim como as outras práticas penitenciais, oração e esmola -, pode se tornar apenas um ritual vazio de sentido, se não houver sinceridade, piedade, compaixão.
Essa passagem de Isaías nos sintoniza com o profundo sentido do jejum que nos é proposto pela Igreja.
Acho de grande força e beleza as palavras do profeta, quando diz: “por acaso é este o jejum que aprecio?” e desmascara a falsidade daqueles que praticam o jejum, mas fazem litígios e agressões impiedosas, voltam suas intenções para assuntos comerciais e oprimem seus empregados.
Podemos até pensar que não nos enquadramos nas categorias mencionadas acima, mas é preciso examinar nossa conduta cotidiana, de atitudes tão corriqueiras e impensadas, que não nos atentamos para a gravidade de estar anulando todo nosso empenho.
De que adianta se, enquanto nos privamos do alimento, fazemos fofoca, julgamentos condenatórios, semeamos discórdia, enchemos-nos de rancor e mágoa, planejamos vingança? Ou mesmo se vamos à missa, simplesmente para cumprir uma obrigação, e não buscamos compreender seu significado e participar em comunidade da mesa do pão e da palavra?
Depois de apontar o jejum cheio de malícia, Isaías nos apresenta o jejum que agrada a Deus: “quebrar as cadeias injustas, desligar as amarras do jugo, tornar livres os que estão detidos, romper todo tipo de sujeição, repartir o pão com o faminto, acolher em casa os pobres e peregrinos, cobrir o nu”.
E esse mesmo sentido podemos colher em Os 6,6: “Quero misericórdia, e não sacrifício”. Frase que depois é repetida por Jesus, em Mt 9, 13. Aqui, cabe transcrever a interessante observação do Padre Raniero Cantalamessa, OFM: “Em Oseias, a expressão se refere ao homem, ao que Deus quer dele. Deus quer do homem amor e conhecimento, não sacrifícios exteriores e holocautos de animais. Nos lábios de Jesus, a expressão se refere a Deus. O amor de que fala não é o que Deus exige do homem, mas o que dá ao homem. ‘Quero misericórdia e não sacrifício’ significa: quero usar misericórdia, não condenar.”
Em minha oração desta passagem tão bela de Isaías, e meditando sobre a observação do Padre Cantalamessa, percebo que o que Deus nos pede é algo que Ele praticou desde sempre e, em Jesus, alcançou seu ápice. Quando nos ensina a não jejuar com o coração cheio de malícia, fechado para o outro, quer que aprendamos e pratiquemos a misericórdia, assim como Ele fez. É com esse espírito que as práticas penitenciais se revestem de sentido renovado.
Que Jesus misericordioso nos acompanhe neste caminho quaresmal e que o Espírito Santo acenda em nós o fogo de seu amor! Amém
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Regina Maria – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte – MG