Eu afirmo a vocês que isto é verdade: enquanto o céu e a terra durarem, nada será tirado da Lei (Mt 5, 17-19)
22 de março de 2017Você não está longe do Reino de Deus (Mc 12,28b-34)
24 de março de 2017“Jesus estava expulsando de certo homem um demônio que não o deixava falar. Quando o demônio saiu, o homem começou a falar. A multidão ficou admirada, mas alguns disseram:
— É Belzebu, o chefe dos demônios, que dá poder a este homem para expulsar demônios.
Outros, querendo conseguir alguma prova contra Jesus, pediam que ele fizesse um milagre para mostrar que o seu poder vinha de Deus. Mas Jesus, conhecendo os pensamentos deles, disse:
— O país que se divide em grupos que lutam entre si certamente será destruído; a família que se divide em grupos que lutam entre si também será destruída. Se o reino de Satanás tem grupos que lutam entre si, como continuará a existir? Vocês dizem que é Belzebu que me dá poder para expulsar demônios. Mas, se é assim, quem dá aos seguidores de vocês o poder para expulsar demônios? Assim, os seus próprios seguidores provam que vocês estão completamente enganados. Na verdade é pelo poder de Deus que eu expulso demônios, e isso prova que o Reino de Deus já chegou até vocês.
— Quando um homem forte e bem-armado guarda a sua própria casa, tudo o que ele tem está seguro. Mas, quando um homem mais forte o ataca e vence, leva todas as armas em que o outro confiava e reparte tudo o que tomou dele.
— Quem não é a meu favor é contra mim; e quem não me ajuda a ajuntar está espalhando.”
Hoje vamos pedir ao Pai, por Jesus, a graça de reconhecer os sinais do Reino no meio de nós e aderir a ele.
O início deste trecho do Evangelho de Lucas nos dá a sua chave de compreensão. “Jesus estava expulsando de certo homem um demônio que não o deixava falar. Quando o demônio saiu, o homem começou a falar.” A ação de Jesus promove a vida e a dignidade humanas. Liberta e potencializa as capacidades das pessoas. O que não é de Deus as limita e atrofia.
Jesus, mais ao final, afirma claramente: “Na verdade é pelo poder de Deus que eu expulso demônios, e isso prova que o Reino de Deus já chegou até vocês.” Não há dúvidas então: o que promove a plenitude da vida vem de Deus e é sinal do Reino. O que cabe a nós? Estar abertos e discernir isso no nosso dia a dia. Pois, da mesma forma que naquela época e para aquele povo, não era óbvio que o que Jesus – uma pessoa comum entre eles – fazia vinha de Deus, hoje também não. As dúvidas surgem no cotidiano, por exemplo:
– Dar dinheiro ou não a esta pessoa que me pede agora na rua?
– Usar ou não as redes sociais neste momento? E, se as usar, como fazer?
– Concordar ou discordar do que está escrito neste panfleto? (político; religioso; social)
– Posicionar-me de que maneira no debate das principais questões da minha cidade?
– Aliás, quais são de fato as principais?
Os contemporâneos de Jesus se equivocaram no julgamento: “É Belzebu, o chefe dos demônios, que dá poder a este homem para expulsar demônios.” Hoje – talvez até pela lentidão da justiça – os julgamentos sociais estão rápidos ao extremo. Proferem-se sentenças a torto e a direito, na maioria das vezes sem sequer ouvir e refletir. Em alguns setores e grupos da Igreja, ocorre também esta banalização do julgamento, com critérios do tipo: “O que vem de outra religião é coisa do demônio.” Será mesmo? “A liderança (o padre, a freira, o coordenador) falou tá falado.” Simples assim?
Jesus nos ensina no Evangelho de hoje que é preciso olhar um pouco mais fundo, parar diante dos fatos e buscar os sinais do Reino ou os contrários ao Reino; ver se promove ou diminui a vida humana, se inclui ou exclui, se desenvolve a humanidade em todas as suas potencialidades ou se a cala e limita.
Madre Tereza chegou a dar um cigarro a um velhinho, mas vejam em seu relato como na circunstância era o que devia ser feito: “Há três dias recolhemos da rua duas pessoas sendo comidas vivas por vermes. Tinham a agonia da Cruz no rosto. Que terrível a pobreza é, quando não se é amado. Depois de os termos acomodado confortavelmente, precisava ver a mudança. O velhinho me pediu um cigarro e que consideração da parte de Deus – eu tinha na bolsa dois maços dos melhores cigarros. Um homem rico me deu naquela manhã na rua. Deus pensou nos desejos desse velhinho.”
Jesus quer ser o mais forte na nossa casa, nas nossas vidas, como foi na vida de Madre Tereza, a ponto de nos dar luz, amor e ousadia pelo Reino. Permitimos-lhe? Quer nos dar o Seu Espírito para discernir. Acolhemos? Perguntar-lhe na oração: Senhor, qual a conversão necessária para mim hoje? Para qual direção devo me voltar? Como ajudar você a ajuntar?
Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei