Perdoar: ato insistente, ato infinito
17 de agosto de 2017Deixai vir a mim as crianças! (Mt 19, 13-15)
19 de agosto de 2017Alguns fariseus chegaram perto dele e, querendo conseguir alguma prova contra ele, perguntaram:
— Será que pela nossa Lei um homem pode, por qualquer motivo, mandar a sua esposa embora?
Jesus respondeu:
— Por acaso vocês não leram o trecho das Escrituras que diz: “No começo o Criador os fez homem e mulher”? E Deus disse: “Por isso o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir com a sua mulher, e os dois se tornam uma só pessoa.” Assim já não são duas pessoas, mas uma só. Portanto, que ninguém separe o que Deus uniu.
Os fariseus perguntaram:
— Nesse caso, por que é que Moisés permitiu ao homem mandar a sua esposa embora se der a ela um documento de divórcio?
Jesus respondeu:
— Moisés deu essa permissão por causa da dureza do coração de vocês; mas no princípio da criação não era assim. Portanto, eu afirmo a vocês o seguinte: o homem que mandar a sua esposa embora, a não ser em caso de adultério, se tornará adúltero se casar com outra mulher.
Os discípulos de Jesus disseram:
— Se é esta a situação entre o homem e a sua esposa, então é melhor não casar.
Jesus respondeu:
— Este ensinamento não é para todos, mas somente para aqueles a quem Deus o tem dado. Pois há razões diferentes que tornam alguns homens incapazes para o casamento: uns, porque nasceram assim; outros, porque foram castrados; e outros ainda não casam por causa do Reino do Céu. Quem puder, que aceite este ensinamento.
Espírito Santo, que nos move para o amor, ajude-nos a compreender melhor a mensagem do texto proposto para hoje.
Em 2015 também orei com este texto e, naquela ocasião, chamou minha atenção refletir sobre a sinceridade que devemos ter no discernimento de nossa vocação. Reflexão que pode ser revisitada aqui.
A oração com a palavra possui um dinamismo muito interessante, uma vez que o texto traz uma Palavra viva, e ela nos questiona de acordo com o que estamos vivendo.
O Espírito possui a liberdade de nos propor a cada momento um novo foco. Hoje, minha atenção se voltou para a afirmação de Jesus de que Moisés deu uma permissão aos seus contemporâneos porque o coração deles era duro.
Lembrei-me da parábola do semeador e de um trecho do discurso de despedida de Jesus, que diz assim: “Ainda tenho muitas coisas para lhes dizer, mas vocês não poderiam suportar isso agora. Porém, quando o Espírito da verdade vier, ele ensinará toda a verdade a vocês. O Espírito não falará por si mesmo, mas dirá tudo o que ouviu e anunciará a vocês as coisas que estão para acontecer. Ele vai ficar sabendo o que tenho para dizer, e dirá a vocês, e assim ele trará glória para mim. Tudo o que o Pai tem é meu. Por isso eu disse que o Espírito vai ficar sabendo o que eu lhe disser e vai anunciar a vocês” (Jo 16, 12-15).
Da parábola do semeador, podemos entender que é necessário um preparo do terreno para receber a palavra-semente. Ela não poderá produzir frutos se o terreno não estiver adequadamente preparado. Um coração duro não deixa a palavra fecundá-lo. Ora, o que vem a ser um coração duro?
A dureza é uma característica daquilo que não se deixa penetrar facilmente. Quando penso em um coração duro o que me vem à cabeça são pessoas que já possuem todas as coisas muito bem determinadas. Qualquer coisa que acontece, elas já possuem uma lista de considerações pré-estipuladas que lhes permitem classificar, punindo ou absolvendo, sem levar qualquer outra situação em consideração. Normalmente, escutamos em seguida algo do tipo: “se damos mole vão querer mudar tudo”.
Nós somos, comumente, muito propensos à criação de regras para tudo. É uma maneira de nos protegermos de adversidades que possam nos colocar em situações difíceis ou perigosas. Não vejo nenhum problema nisso, pelo contrário, acredito ser muito adequado termos parâmetros que nos orientem em nossa caminhada. Contudo, o texto de hoje nos ensina que necessitamos, também, estar abertos para revisitar todas regras e normas constantemente, para ajustá-las às condições que novos conhecimentos nos trazem.
Algumas regras eu mudo ou deixo que mudem com muita facilidade, porém existem algumas que me causam muito sofrimento.
Muitas vezes, percebo que a mudança é adequada, que, no final, poderá trazer benefícios, mas dói muito mudar. Normalmente, isso ocorre quando há mudança em conceitos que estavam muito arraigados em mim. Aqueles que eu considerava, praticamente,uma verdade imutável. Aparentemente, a dor se faz maior quando há em mim uma dicotomia: acredito, por um lado, que a mudança é positiva, mas, por outro, morro de medo de estar enganado.
Neste ponto da oração, compreendo melhor as palavras de Jesus em seu discurso de despedida e como elas podem se relacionar com a dureza do coração mencionada no texto. O terreno de nosso coração precisa de um tratamento contínuo. Parece que nunca estamos completamente prontos para ouvir e entender tudo de que precisamos, contudo, faz-se necessário que possamos avançar, pouco a pouco, numa compreensão maior, para um entendimento mais completo. Não apenas um entendimento do intelecto, porém e principalmente, aquele que vai-se estabelecendo no fundo do coração. Um entendimento que, muitas vezes, não temos palavras para explicar, apenas nos restando dizer “sei porque sei”.
Compreendo que este entendimento mais profundo nos é revelado, continuamente, pelo Espírito Santo, que nos vai instruindo de acordo com tudo que Jesus, o Cristo, precisa nos dizer. E estes momentos de oração diária são como água e fertilizantes que vamos introduzindo no terreno de nosso coração, preparando-o para acolher a palavra-semente que o transforma em um coração de carne e o prepara para a produção de bons frutos.
Querida mãezinha Maria, você que soube acolher tão bem a Palavra em um coração terno e meigo, indique-nos seu Filho com sua presença em nossa vida. Senhor, faça nosso coração semelhante ao seu. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte