A caridade em um copo d’água
24 de maio de 2018As crianças e o reino (Mc 10,13-16)
26 de maio de 2018Jesus saiu daquele lugar e foi para a região da Judeia que fica no lado leste do rio Jordão. Uma grande multidão se ajuntou outra vez em volta dele, e ele ensinava todos, como era o seu costume. Alguns fariseus, querendo conseguir uma prova contra ele, perguntaram:
— De acordo com a nossa Lei, um homem pode mandar a sua esposa embora?
Jesus respondeu com esta pergunta:
— O que foi que Moisés mandou?
Eles responderam:
— Moisés permitiu ao homem dar à sua esposa um documento de divórcio e mandá-la embora.
Então Jesus disse:
— Moisés escreveu esse mandamento para vocês por causa da dureza do coração de vocês. Mas no começo, quando foram criadas todas as coisas, foi dito: “Deus os fez homem e mulher. Por isso o homem deixa o seu pai e a sua mãe para se unir com a sua mulher, e os dois se tornam uma só pessoa.” Assim, já não são duas pessoas, mas uma só. Portanto, que ninguém separe o que Deus uniu.
Quando já estavam em casa, os discípulos tornaram a fazer perguntas sobre esse assunto. E Jesus respondeu:
— O homem que mandar a sua esposa embora e casar com outra mulher estará cometendo adultério contra a sua esposa. E, se a mulher mandar o seu marido embora e casar com outro homem, ela também estará cometendo adultério.
Hoje a leitura nos convida a verificar como está a dureza de nosso coração.
Da física aprendemos que a dureza é uma propriedade que determina quanto um material resiste a deformações permanentes quando uma força é aplicada nele. Ou seja, um material muito duro não está apto a ser moldado.
O vidro é um material extremamente duro e, portanto, se tentamos moldá-lo ele se quebra.
Às vezes nos confundimos e acreditamos que ser duro é ser forte. Nada disso. A água é muito fluida, nem um pouco dura, se molda com facilidade, porém nada resiste à sua força. Por isto nas construções se preocupa tanto com a água, pois sabe-se que ela sempre achará um caminho para seguir, então que se providencie o caminho mais seguro ou, senão, ela poderá derrubar a construção com sua força.
Jesus toca em um ponto muito delicado para a cultura daquela época e que permanece pouco alterada na cultura atual, tanto é que o feminicídio é um problema com o qual temos que lidar constantemente.
Nossas leis evoluíram em relação às daquela época, mas nosso coração ainda continua muito duro. Criamos vernizes de civilidade, porém, no fundo, ainda há um coração duro, que não se deixa moldar e não compreende que todos possuímos os mesmos direitos e deveres.
Aqueles fariseus, que tentavam desestabilizar o crédito que Jesus havia alcançado perante as multidões, fazem um jogo que ainda hoje percebemos sendo feito, se apoiam em leis muito consolidadas para desacreditar os ensinamentos de fraternidade apregoados pelo Mestre. Contudo a lucidez de Jesus não se deixa enganar. Ele coloca o dedo na ferida.
Moisés avançou o que poderia avançar e, por isto, lhes escreveu um mandamento que ainda não era um mandamento definitivo. Apenas escreveu o mandamento que era possível para o momento.
Com a leitura de hoje fica o convite para fazermos a seguinte pergunta: quão duro é meu coração?
Com muita confiança em Jesus, que deseja nos libertar da escravidão de um coração duro, responder com sinceridade, reconhecendo tudo aquilo que fazemos por causa de nosso coração de pedra ou, talvez, ainda não completamente transformado em carne (cf. Ez 36,26).
“e os dois se tornam uma só pessoa”
Para além da questão do divórcio, que era a questão central trazida pelos fariseus, Jesus nos deixa uma questão bem mais abrangente. Ao se tornar uma só pessoa, como poderá haver predominância de um em relação ao outro? Como poderá um ter mais direitos que o outro? Porque haveria tarefas a serem cumpridas por uma parte e não pela outra? Afinal, já não são uma só pessoa?
Tudo que adulterar a harmonia de se ser uma só pessoa, não é obra de Deus.
Além das relações conjugais, também experimentamos como um coração duro contribui para desfazer amizades e dificulta uma boa relação entre pais e filhos. Então podemos, e devemos, rezar com este texto para que ele ilumine todas nossas relações e nos ajude a sermos pessoas mais moldáveis às realidades que se apresentam em nossas vidas. Lembrando sempre que a água se deixa moldar mas continua sendo água, não perde suas características.
Maria, mãezinha querida, contamos com sua presença carinhosa para nos ajudar a discernir os momentos em que deixamos nosso coração de pedra agir no lugar de um coração de carne e, a partir desse discernimento, se abra o espaço necessário para a ação do Espírito Santo. Amém!
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João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte