Ligar e desligar…
12 de agosto de 2015Vocação: chamado ao amor (Mt 19,3-12)
14 de agosto de 2015Então Pedro chegou perto de Jesus e perguntou:
– Senhor, quantas vezes devo perdoar o meu irmão que peca contra mim? Sete vezes?
– Não! – respondeu Jesus. – Você não deve perdoar sete vezes, mas setenta e sete vezes. Porque o Reino do Céu é como um rei que resolveu fazer um acerto de contas com os seus empregados. Logo no começo trouxeram um que lhe devia milhões de moedas de prata. Mas o empregado não tinha dinheiro para pagar. Então, para pagar a dívida, o seu patrão, o rei, ordenou que fossem vendidos como escravos o empregado, a sua esposa e os seus filhos e que fosse vendido também tudo o que ele possuía. Mas o empregado se ajoelhou diante do patrão e pediu: “Tenha paciência comigo, e eu pagarei tudo ao senhor.”
– O patrão teve pena dele, perdoou a dívida e deixou que ele fosse embora. O empregado saiu e encontrou um dos seus companheiros de trabalho que lhe devia cem moedas de prata. Ele pegou esse companheiro pelo pescoço e começou a sacudi-lo, dizendo: “Pague o que me deve!”
– Então o seu companheiro se ajoelhou e pediu: “Tenha paciência comigo, e eu lhe pagarei tudo.”
– Mas ele não concordou. Pelo contrário, mandou pôr o outro na cadeia até que pagasse a dívida. Quando os outros empregados viram o que havia acontecido, ficaram revoltados e foram contar tudo ao patrão. Aí o patrão chamou aquele empregado e disse: “Empregado miserável! Você me pediu, e por isso eu perdoei tudo o que você me devia. Portanto, você deveria ter pena do seu companheiro, como eu tive pena de você.”
– O patrão ficou com muita raiva e mandou o empregado para a cadeia a fim de ser castigado até que pagasse toda a dívida.
E Jesus terminou dizendo:
– É isso o que o meu Pai, que está no céu, vai fazer com vocês se cada um não perdoar sinceramente o seu irmão.
Depois de dizer isso, Jesus saiu da Galileia e foi para a região da Judeia que fica no lado leste do rio Jordão.
Na época e sociedade em que Jesus viveu era muito comum que as pessoas se guiassem e aceitassem a regra da lei de talião, que propunha que se pagasse o mal recebido na mesma medida, o famoso olho por olho e dente por dente. Contudo, é importante reconhecer que esta regra foi uma evolução de costumes mais antigos em que não havia limites para a retribuição do mal recebido.
A proposta de vida feita por Jesus aos seus discípulos e a todos que o ouviam, propondo o amor desinteressado como a meta principal a ser alcançada, tinha consequências práticas difíceis de ser entendidas.
Aos poucos, Jesus vai exemplificando, com seu modo de agir e com as parábolas que conta, como o amor proposto por Ele deveria ser vivido na vida cotidiana. Algumas coisas são muito subversivas para serem facilmente compreendidas como quando ele fala em amar os inimigos.
Penso que, na cabeça dos discípulos, começa a se instalar uma questão difícil de resolver: qual é o limite desse amor que Jesus está pregando? Como poderiam viver da forma como Ele propunha viver?
Pedro precisa resolver esta dúvida e arrisca uma pergunta: “Quantas vezes devo perdoar o meu irmão que peca contra mim”? E, antes de ouvir a resposta, sugere um número bastante bondoso: “Sete vezes”?
Assim como Pedro, devemos também levar a Jesus a quantidade de vezes que estamos dispostos a perdoar os que nos ofendem.
O perdão é, via de regra, uma das maiores dificuldades que temos em nossa vida diária.
Ouço, quase que diariamente, pessoas exigindo punições cada vez mais exemplares para quem errou. A redução da maioridade penal é uma exigência de muitos que se dizem cristãos.
A frase “da justiça dos homens ele escapou, mas da justiça de Deus não escapa”, dita com um leve sorriso de satisfação, ouço com certa frequência.
Hoje, somos convidados a alargar nossa compreensão do perdão necessário para que se possa estabelecer o Reino de Deus.
A resposta de Jesus para Pedro é dita diretamente para nós. Você não deve perdoar sete vezes, afinal sete vezes é muito pouco. É necessário perdoar infinitamente mais.
A parábola proposta por Jesus, logo em seguida, pareceu-me estranha num primeiro momento, pois o rei perdoa somente uma vez. Depois, motivado pela revolta dos outros empregados, manda castigar, sem nenhuma piedade, aquele empregado que não usou do mesmo perdão para com seu colega.
Por que isso Jesus? Que mensagem o Senhor quer nos transmitir com esta parábola?
Percebo que há uma urgência para que possamos expandir o perdão recebido. A vivência do amor pregado por Jesus se faz, de maneira especial, na prática do perdão mútuo. Na relação de perdoar e ser perdoado vislumbramos o Reino de Deus em nossas vidas.
Continuamente somos perdoados por Deus, mesmo que nossa falta seja comparável à fortuna de milhões de moedas de prata. Contudo, se não percebemos este perdão, se não entramos na mesma lógica de perdoar sem limites, voltamos a viver uma vida pesada, de castigos, de olho por olho e dente por dente. Nossa vida se torna menor, pequena e escura.
Jesus, nós queremos aprender a perdoar sem limites, sem reservas. Nós precisamos de você para nos ensinar. Somente a sua presença em nossa vida poderá nos levar a amar sem distinção, sem esperar nada em troca. Somente sua palavra, do alto da cruz, perdoando a todos que te ofendiam, poderá nos libertar da nossa vontade de retribuir o mal a quem nos faz mal. Vinde Senhor. Nós te queremos. Amém!
***
João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte