“E o seu Pai, que vê o que você faz em segredo, lhe dará a recompensa”
1 de março de 2017“Estou aqui” (Mt 9,14-15)
3 de março de 2017“Jesus continuou:
— O Filho do Homem terá de sofrer muito. Ele será rejeitado pelos líderes judeus, pelos chefes dos sacerdotes e pelos mestres da Lei. Será morto e, no terceiro dia, será ressuscitado.
Depois disse a todos:
— Se alguém quer ser meu seguidor, que esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto cada dia para morrer como eu vou morrer e me acompanhe. Pois quem põe os seus próprios interesses em primeiro lugar nunca terá a vida verdadeira; mas quem esquece a si mesmo por minha causa terá a vida verdadeira. O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida verdadeira e ser destruído?”
Estamos no início da Quaresma, dos 40 dias de preparação para a Páscoa, a maior festa da nossa fé, onde celebramos o Mistério Pascal de Cristo, sua morte e ressurreição, que nos dá a vida plena. E o convite da liturgia de hoie é, justamente: escolhe a vida verdadeira.
Na primeira leitura (Dt 30, 15-20), Deus fala ao povo através de Moisés: “Eu te proponho a vida e a felicidade, a morte e a desgraça. Escolhe, pois, a vida.” Jesus, no Evangelho, apresenta o caminho da vida verdadeira: “quem esquece a si mesmo por minha causa terá a vida verdadeira.”
O que a sociedade mais nos apresenta hoje são fórmulas para a felicidade e receitas para “viver bem”. De remédios a terapias, de compras a viagens, de cuidados com a saúde a vícios, de spas a hospitais luxuosos e até cemitérios como belos parques. Mas, com tudo isso, um dos maiores problemas da atualidade é a depressão. Nos perguntamos, então: qual o caminho da vida?
Jesus não engana. Ele apresenta o sofrimento como parte do caminho. Ele, que veio ensinar a viver e deu todos os passos de uma vida humana, precisou passar pela dor, pela rejeição dos que não acolheram seus ensinamentos e seu caminho. O amor traz dor. Os aprendizados trazem dor. Caminhar pra frente com a própria vida dando os passos que o Pai mostra traz muita dor, por parte daqueles que querem manter tudo como está e resistem à transformação. Jesus acolhe a dor que faz parte do caminho e aquela que é causada pela injustiça. Vai pra frente e nos convida a ir atrás dele.
“Se alguém quer ser meu seguidor, que esqueça os seus próprios interesses, esteja pronto cada dia para morrer como eu vou morrer e me acompanhe.” Quando a gente coloca os próprios interesses na frente de qualquer coisa a nossa vida se reduz. Outro dia eu estava escutando uma diretora de escola infantil que já não aguenta mais a pressão dos pais, pois recebe ofensas e reclamações por qualquer coisa que acontece com as crianças na escola, como pequenos tombos. Buscamos uma vida com redomas para nós e nossos filhos. Será que esta é a vida verdadeira ou é um falso mundo que criamos e nos aprisiona? Jesus diz: “quem põe os seus próprios interesses em primeiro lugar nunca terá a vida verdadeira.” Na vida verdadeira, todas as nossas capacidades são realizadas plenamente. Quando colocamos limites por querer apenas o que nos é agradável, limitamos demais a vida.
A principal capacidade que nos é dada por Deus – e constitui dom e chamado – é a capacidade de amar. Amar é colocar tudo de si pelo bem do outro, pela vida do outro. É deixar de lado os próprios interesses, ser capaz de renunciar a si e se sacrificar para colocar todos os dons em função da realização plena do outro. O amor de mãe é o principal modelo humano de amor. Você quer ser feliz? Quer se realizar plenamente? Quer ser você mesmo em plenitude? Ame! Mas para isso precisa aceitar passar pela cruz.
Quem nos ensina a viver plenamente o amor – que é nossa identidade mais profunda – é Aquele que nos convida a segui-Lo. “Quem esquece a si mesmo por minha causa terá a vida verdadeira.” E nos questiona: “O que adianta alguém ganhar o mundo inteiro, mas perder a vida verdadeira e ser destruído?” Os exercícios quaresmais – jejum, esmola e oração – são para reorientar a nossa vida no sentido da vida verdadeira, do que realmente importa, da essência. Peçamos ao Senhor a sua luz para escolher o exercício de que mais necessitamos neste momento, aquele que mais nos ajude a recentrar nele, no Amor, a deixar de lado as distrações e o supérfluo que nos afastam de nossa essência e colocar-nos no caminho do seguimento do Cristo pelas trilhas do amor e da entrega.
Tania Pulier, jornalista e teóloga, membro da CVX Cardoner e da Família Missionária Verbum Dei