O único mandamento é o amor (Marcos 12,28b-34)
28 de março de 2014“…não terei medo de nada. Pois tu, ó Senhor Deus, estás comigo; tu me proteges e me diriges!”
30 de março de 2014
“Para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros, Jesus contou esta parábola: “Dois homens subiram ao Templo para rezar; um era fariseu, o outro era cobrador de impostos.
O fariseu, de pé, rezava assim no seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço, porque não sou como os outros homens, que são ladrões, desonestos, adúlteros, nem como esse cobrador de impostos. Eu faço jejum duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’.
O cobrador de impostos ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu, mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!’
Eu declaro a vocês: este último voltou para casa justificado, o outro não. Pois quem se eleva, será humilhado, e quem se humilha, será elevado.””
Há pouco tempo, participei de um encontro com empresários de vários setores. Eu já fui estagiária, freelancer, trabalhei com pesquisa, com missões, voluntariados e numa ONG que faz parte de uma articulação de movimentos sociais. Há pouco mais de dois anos trabalho em empresa, mas de pequeno porte e com outra estrutura de relações. Enfim, tive outras experiências de vida. Todos foram muito sinceros ao expressar formas de pensar, sentimentos e vivências. Uma riqueza de trocas. Mas também ouvi coisas que retorceram-me as entranhas, tais como: “As pessoas que recebem bolsas do governo são preguiçosas e não gostam de trabalhar”; “o povo não tem cultura”; “as pessoas mais da base só querem saber de receber e tudo o que puder enrolar no trabalho, enrolam, não estão nem aí”.
Claquete! Não contei isto para gerar discussões políticas e sociais neste momento, mas para partilhar uma situação que vivi onde visões de mundo completamente diferentes, advindas de experiências originadas de “lugares” diferentes eram colocadas uma diante da outra. Convido você nesta oração a fazer memória de situações parecidas que vivenciou, em que se viu diante do diferente. Procure lembrar o que foi dito, o que você sentiu, o que pensou, como se posicionou…
Isto pode ajudar a entrar completamente no cenário desta passagem, diante das duas personagens e de Jesus. Ele nunca defendeu o erro, a injustiça ou o pecado e não nos chama a ser cegos, relativistas ou pouco críticos em relação a isto. Mas: posicionamo-nos diante das ações ou das pessoas? E como vemos a nós mesmos?
A questão do Evangelho é dada desde o início: “Para alguns que confiavam na sua própria justiça e desprezavam os outros, Jesus contou esta parábola”.
– Qual é o nosso olhar diante do nosso próximo? Nestas situações de contraste que vivenciamos, qual foi?
– Fechamos ou abrimos nosso coração para ele? Com que olhar o vemos? Vemos a casca ou o profundo? Vemos suas buscas, sua sede, sua carência, e o que aprendeu sobre onde encontrá-las? Vemos seus sentimentos atrás de sua aparência? Como o ouvimos? Ouvimos o que diz ou o que não diz também? Captamos o que está no fundo de suas palavras?
“Todo ponto de vista é a vista de um ponto”. Como nos posicionamos diante do nosso ponto de vista? Achamos que é a única maneira correta de se ver a realidade? Como nos situamos diante de Deus e do irmão?
“O fariseu, de pé, rezava assim no seu íntimo: ‘Ó Deus, eu te agradeço, porque não sou como os outros homens, que são ladrões, desonestos, adúlteros, nem como esse cobrador de impostos. Eu faço jejum duas vezes por semana, e dou o dízimo de toda a minha renda’.”
“Não faço isso, nem aquilo, nem o outro. E cumpro tudo direitinho”. No fundo, no fundo, será que nos nossos julgamentos ultra velozes não nos colocamos assim, consciente ou inconscientemente? Sim, porque é tão rápido surgirem sentenças em nossa mente e às vezes até saírem de nossa boca! Baseadas em que? E com que direito?
Se nós, cristãos (e cristãos católicos), fôssemos tão bons assim, por que a realidade de nosso país estaria como está? Por que tanto preconceito? Por que tanta desigualdade social? Por que tantas humilhações? Por que tanta alienação? Onde estão os cristãos deste país? Onde estou eu? Onde está você?
Gandhi, o grande libertador da Índia, dizia assim: “O Cristianismo me convence, mas ainda não vi cristãos”. Não teria ele razão?
Como seria nossa oração, se nos colocássemos com autoconsciência diante de Deus e de cada irmão na nossa realidade? “O cobrador de impostos ficou à distância, e nem se atrevia a levantar os olhos para o céu, mas batia no peito, dizendo: ‘Meu Deus, tem piedade de mim, que sou pecador!’”
Vamos pedir ao cobrador de impostos, tão mal visto, e também a muitos ateus ativistas da vida ao nosso redor que nos ensinem a orar. Que nos ensinem a verdadeira postura, de profundidade de coração.
O coração contrito e humilde Deus não rejeita, Ele acolhe e dá força – dá seu mesmo Espírito – para que saia transformado desta oração, e capaz de transformar, a partir dos pequenos passos – “pequenos grandes gestos”. Aquele que acha – ou tem certeza de – que não precisa, sai como entrou.
Que Maria, em cuja pequenez Deus descansou seu olhar, nos empreste sua humildade e nos ensine a orar e a viver como discípulos de Seu Filho.
Tania Pulier, comunicadora social – Palavra Acesa Editora – Família Missionária Verbum Dei e pré-CVX Cardoner