Confiei no teu amor e voltei (Lc 15, 1-3. 11-32)
3 de março de 2018Preciso de milagres para crer em Jesus?
5 de março de 2018PREPARAÇÃO ESPIRITUAL
Vem, Espírito Santo, e abre-me o ouvido
para escutar a Palavra.
Vem, Espírito Santo, e impele-me a viver a Palavra.
Vem, Espírito Santo, neste caminho de preparação para a Páscoa,
para que junto a outros, possa crer e anunciar a Boa Nova.
Amém.
TEXTO BÍBLICO: João 2.13-25
Jesus vai ao Templo
Mateus 21.12-17; Marcos 11.15-19; Lucas 19.45-48
13Alguns dias antes da Páscoa dos judeus, Jesus foi até a cidade de Jerusalém. 14No pátio do Templo encontrou pessoas vendendo bois, ovelhas e pombas; e viu também os que, sentados às suas mesas, trocavam dinheiro para o povo. 15Então ele fez um chicote de cordas e expulsou toda aquela gente dali e também as ovelhas e os bois. Virou as mesas dos que trocavam dinheiro, e as moedas se espalharam pelo chão. 16E disse aos que vendiam pombas:
— Tirem tudo isto daqui! Parem de fazer da casa do meu Pai um mercado!
17Então os discípulos dele lembraram das palavras das Escrituras Sagradas que dizem: “O meu amor pela tua casa, ó Deus, queima dentro de mim como fogo.”
18Aí os líderes judeus perguntaram:
— Que milagre você pode fazer para nos provar que tem autoridade para fazer isso?
19Jesus respondeu:
— Derrubem este Templo, e eu o construirei de novo em três dias!
20Eles disseram:
— A construção deste Templo levou quarenta e seis anos, e você diz que vai construí-lo de novo em três dias?
21Porém o templo do qual Jesus estava falando era o seu próprio corpo. 22Quando Jesus foi ressuscitado, os seus discípulos lembraram que ele tinha dito isso e então creram nas Escrituras Sagradas e nas palavras dele.
Jesus sabe o que as pessoas pensam
23Quando Jesus estava em Jerusalém, durante a Festa da Páscoa, muitos creram nele porque viram os milagres que ele fazia. 24Mas Jesus não confiava neles, pois os conhecia muito bem. 25E ninguém precisava falar com ele sobre qualquer pessoa, pois ele sabia o que cada pessoa pensava.
1. LEITURA
Que diz o texto?
Algumas perguntas para ajudá-lo em uma leitura atenta…
· Qual festa judaica se está celebrando? Era importante para eles?
· Você está de acordo com o que eles faziam no pátio do templo? O que faz Jesus?
· Como Jesus julga o que os vendedores estavam fazendo?
· Por que pedem a Jesus um sinal? Que sinal Jesus lhes dá?
· A que templo Jesus se referia?
· Quando se cumpriu este sinal e quando os discípulos o entenderam?
Algumas pistas para compreender o texto:
Pe. Damian Nannini1
O incidente da expulsão dos mercadores do Templo, que nos sinóticos se encontra no início da última semana da vida de Jesus, foi colocado por João no princípio de seu evangelho, como ato inaugural da atividade de Jesus em Jerusalém. Isto nos mostra que ele lhe atribui especial importância.
O episódio é vivido nas proximidades da festa da Páscoa e na cidade de Jerusalém. Esta era a festa mais importante para os judeus, e todas as pessoas maiores de doze anos estavam obrigadas a peregrinar à cidade santa para ali celebrar a Páscoa, razão por que Jerusalém estaria plena de gente.
Os peregrinos, chegados de todas as regiões de Israel, precisavam mudar seu dinheiro impuro, por ter gravada a figura do imperador, por moedas aptas para fazer suas oferendas no Templo. Além disso, precisavam comprar os animais para oferecer em sacrifício, pois não podiam trazê-los de seus lugares de procedência. Estas necessidades levaram a que se montasse um verdadeiro mercado no pátio do templo, no átrio dos gentios, o que revela o caráter profano e comercial que havia adquirido a festa religiosa.
Jesus, então, “fez um chicote de cordas e expulsou toda aquela gente dali e também as ovelhas e os bois. Virou as mesas dos que trocavam dinheiro, e as moedas se espalharam pelo chão. E disse aos que vendiam pombas: ‘Tirem tudo isto daqui! Parem de fazer da casa do meu Pai um mercado!’” (2.15-16).
Uma ideia presente no judaísmo de então, segundo a qual a purificação do Templo era uma das funções do Messias, ajuda-nos a descobrir o sentido deste gesto de Jesus. Portanto, trata-se de um gesto messiânico, um sinal da chegada do Messias.
Observemos que, ao definir o Templo, que era a “casa ou morada de Deus” como a “casa de seu Pai”, Jesus está a manifestar-se como Filho de Deus. Ademais, a expulsão das ovelhas e dos bois indica que se suprimem doravante os sacrifícios de animais, que serão substituídos pelo único sacrifício verdadeiramente eficaz, o do Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo.
O evangelista comenta que os discípulos se lembraram do Salmo 69.9: “O meu amor pela tua casa, ó Deus, queima dentro de mim como fogo”. Deste modo, busca legitimar, a partir das Escrituras, o gesto de Jesus.
Segue-se um diálogo com os judeus, que exigem de Jesus um sinal probatório de sua autoridade messiânica, e que justifique a ação de purificação do templo que ele realizou. Jesus não responde diretamente ao pedido do sinal, fazendo um milagre nesse momento; ao contrário, ele faz um anúncio que se mostrou misterioso para todos os presentes, incluindo-se os discípulos: “Derrubem este Templo, e eu o construirei de novo em três dias!”. O evangelista precisa intervir para esclarecer que Jesus se referia ao templo de seu corpo, e que logo depois da ressurreição de Jesus, os discípulos compreenderam o sentido desta expressão. Por conseguinte, o gesto é iluminado pelas palavras proféticas de Jesus que anunciam um novo Templo, o de seu Corpo, no qual se celebrará um novo culto, um culto autêntico, “em espírito e em verdade”. Tudo isto a partir da ressurreição de Jesus Cristo, de sua Páscoa.
Em conclusão, fica evidente que o grande sinal é a ressurreição de Cristo, expressa através do símbolo do templo destruído e reconstruído em três dias. Deste modo se anuncia o novo Templo, que será de outra natureza: trata-se do Templo definitivo, do corpo de Cristo Ressuscitado, lugar onde Deus habita e onde os homens poderão encontrar-se com ele.
O que o Senhor me diz no texto?
Este evangelho apresenta-nos o mistério pascal de Jesus, com a imagem do templo destruído e reconstruído. Detenhamo-nos nas duas passagens ou momentos relacionados ao templo: destruir e reconstruir. No evangelho, estas mesmas passagens estão relacionadas a Jesus, mediante as quais vamos sendo preparados para o mistério pascal com seus dois momentos: morte e ressurreição. Jesus entrega, coloca nas mãos do Pai toda a sua vida, para recuperá-la ressuscitada: “ O Pai me ama porque eu dou a minha vida para recebê-la outra vez. Ninguém tira a minha vida de mim, mas eu a dou por minha própria vontade. Tenho o direito de dá-la e de tornar a recebê-la, pois foi isso o que o meu Pai me mandou fazer” (Jo 10.17-18).
Do mistério pascal de Jesus, passamos à nossa própria vida com o mesmo paradoxo: é preciso morrer para viver, é preciso ser destruído para ser reconstruído. É um paradoxo que só se pode aceitar a partir da fé na ressurreição. Sem esta, não se pode compreender, como não o compreenderam tampouco os discípulos até que Jesus ressuscitasse.
Em nós, este processo de destruição e reconstrução tem diversas aplicações:
Em primeiro lugar, trata-se de destruir-morrer ao pecado, ao homem velho, para reconstruir-ressuscitar para a graça, para o homem novo em Cristo.
Em segundo lugar, dado que o templo simboliza o lugar de encontro com Deus e de nossa relação com ele, isto implica que há uma maneira de relacionar-nos com Deus que deve morrer, ser destruída, para que nasça uma nova relação com Deus, em Cristo e por Cristo, possível em todo momento e lugar. De agora em diante, o novo culto agradável ao Pai (cf. Rm 12.1-2) é celebrado no Novo Tempo do Corpo glorioso de Cristo, do qual fazemos parte pelo Batismo.
Também dentro deste processo pascal, somos convidados a deixar que nossa falsa imagem de Deus seja destruída para que Deus possa reconstruir em nós sua verdadeira imagem. E, deste modo, constrói-se uma verdadeira relação com Deus: filial, amorosa, livre, comprometida. Neste sentido, devemos reconhecer que sempre será uma tentação do homem religioso construir-se um deus sob medida, objeto de manipulação inconsciente: este é um ídolo e não o Deus verdadeiro. Com esse “deus” se comercializa, tal como denuncia Jesus no evangelho de hoje. “Para a maioria das pessoas, esta ilusão constitui uma etapa normal”, permitida por Deus no caminho de sua busca, “até que ele intervém em nossa vida, irrompendo nela para destronar, de um só golpe, todos os ídolos e fazê-los em pedaços. É o melhor que nos pode acontecer” (A. Louf). É o começo de um árduo caminho que leva a um conhecimento novo de Deus, fruto desta conversão. Aceitar a destruição não é nada fácil. Exige uma fé muito confiante em Deus e em seu poder para reconstruir algo novo a partir do que foi destruído. Trata-se, concretamente, de aceitar a intervenção do Senhor em nossa vida, de deixá-lo agir. É um momento muito crítico na vida do crente, mas, ao mesmo tempo, é uma passagem necessária em uma verdadeira e profunda conversão quaresmal.
Somos convidados a aceitar, tendo começado a quaresma, a pedagogia do Pai em relação a nós, manifestada no mistério pascal, com seu caráter essencialmente paradoxal. Temos a certeza, cada vez maior, à medida que nos aproximamos da Páscoa, de que venceremos a luta, receberemos mais do que o que damos, ressuscitaremos. Com Cristo, por Cristo e em Cristo. No entanto, para chegarmos a isto, precisamos aceitar que seja destruído nosso modo imperfeito de relacionar-nos com Deus no templo antigo, a fim de entrarmos no novo templo de Deus, o corpo de Cristo, e aí encontrar-nos com o infinito amor do Pai, que nos faz filhos, livres e obedientes.
Do ponto de vista pastoral, o Papa Francisco adverte: “Quando os que estão no Templo – sejam sacerdotes, leigos, secretários, mas que devem gerir, no Templo, a pastoral do Templo – se convertem em comerciantes, o povo escandaliza-se. E nós somos responsáveis por isso. Também os leigos. Todos”. 2
Continuemos nossa meditação com estas perguntas:
· Do que está feito o homem velho?
· Permito que Deus intervenha em minha vida? Ou construo um deus à minha medida?
· Em que aspecto de minha vida preciso ser “tocado” por Deus?
· Tenho minha fé depositada na ressurreição ou está limitada apenas a um Deus morto? Como dou testemunho de minha fé?
3. ORAÇÃO
O que respondo ao Senhor me fala no texto?
Obrigado, Jesus, por acompanhar-me neste caminho para a Páscoa.
Estás à espera de que te entregue meu homem velho.
Recebe-o, é teu.
Aí estão minhas dúvidas, meu querer encaixar-te em minhas necessidades.
Destrói meu desejo de fazer-te à minha medida.
Não quero ser um cristão de fachada e de aparência.
Converte-me, Senhor.
Constrói-me para que seja um discípulo alegre, comprometido,
atento a meus irmãos.
Quero viver ressuscitando.
Amém.
4. CONTEMPLAÇÃO
Como ponho em prática, em minha vida, os ensinamentos do texto?
“Jesus, destrói minhas aparências, constrói em mim um homem novo”.
5. AÇÃO
Com que me comprometo para demonstrar mudança?
Durante esta semana, vou esforçar-me e rezar para que meu homem novo não veja minhas ações cotidianas.
“A humanidade de Cristo apresenta-se como o verdadeiro ‘templo’, a casa viva de Deus. Será ‘destruída’ no Gólgota, mas voltará imediatamente a ser ‘reconstruída’ na glória, para transformar-se em morada espiritual de todos os que acolhem a mensagem evangélica e se deixam plasmar pelo Espírito de Deus.”
São João Paulo II