Um modo de viver (Jo 3,16-21)
15 de abril de 2015Um sinal maior que o esperado (Jo 6,1-15)
17 de abril de 2015Eles levaram os apóstolos e os apresentaram ao Sinédrio. O sumo sacerdote começou a interrogá-los, dizendo: “Nós tínhamos proibido expressamente que vós ensinásseis em nome de Jesus. Apesar disso, enchestes a cidade de Jerusalém com a vossa doutrina. E ainda nos quereis tornar responsáveis pela morte desse homem!”
Então Pedro e os outros apóstolos responderam: “É preciso obedecer a Deus, antes que aos homens. O Deus de nossos pais ressuscitou Jesus, a quem vós matastes, pregando-o numa cruz. Deus, por seu poder, o exaltou, tornando-o Guia Supremo e Salvador, para dar ao povo de Israel a conversão e o perdão dos seus pecados. E disso somos testemunhas, nós e o Espírito Santo, que Deus concedeu àqueles que a Ele obedecem”. Quando ouviram isto, ficaram furiosos e queriam matá-los.
Na oração de hoje, chamou minha atenção a afirmação dos apostólos: “É preciso obedecer a Deus, antes que aos homens.”
Esta afirmação me faz pensar sobre o que é necessário para obedecer a Deus.
Entre várias coisas, parece-me que três são essenciais: ciência, coragem e disponibilidade.
Como ter ciência, ou seja, saber o que Deus quer de nós?
Não há fórmulas mágicas para isto. É necessário uma longa caminhada e talvez, até o final de nossas vidas, não saberemos com clareza. Como diz São Paulo: “Agora vemos como em espelho e de maneira confusa; mas depois veremos face a face. Agora o meu conhecimento é limitado, mas depois conhecerei como sou conhecido”. (I Cor 13, 12)
Orando este trecho dos Atos dos Apóstolos, lanço meu olhar sobre Pedro, que esteve sempre muito próximo a Jesus, manteve com Ele muitos diálogos, vários descritos nas narrativas dos evangelistas. Portanto, entendo que saber o que Deus quer passa por conhecermos bem a Jesus que nos é revelado nos livros do novo testamento. Contudo, sabemos que logo após a morte do Senhor, Pedro não sabia bem o que fazer, foi necessário Cristo ressuscitar e enviar o Espírito Santo para que ele e os outros pudessem sair pregando.
Não devemos, pois, confiar somente em nós mesmos, em nossa interpretação das palavras que lemos. É necessário que estejamos abertos para que o Espírito Santo nos instrua e nos conduza em nosso entendimento.
Outra coisa de que a oração me alerta é do perigo de nos tornarmos fundamentalistas. É muito fácil sermos conduzidos pelo maligno, para julgarmos o que é certo e errado, montando uma infinidade de regras e normas, que nos afastam do verdadeiro espírito evangélico.
Mesmo Pedro e os outros apóstolos, com toda a certeza que tinham sobre a vontade de Deus, tiveram de rever suas convicções e compreender que os pagãos não circuncidados também eram dignos de receber o Espírito Santo (At 10,1 – 11,18).
Portanto, sejamos abertos ao Espírito Santo, para que Ele sempre nos possa esclarecer sobre a vontade de Deus, em cada tempo, em cada lugar, em cada situação de nossas vidas.
O outro ponto é a coragem. Ao observar Pedro, podemos perguntar o que modificou desde o momento em que ele negou Jesus por três vezes e ao momento narrado neste trecho do evangelho. Inegavelmente, um dos dons do Espírito, a fortaleza, tem como fruto a coragem, tanto para enfrentar as tentações como para se manter firme nas tribulações. Contudo, o que me veio à mente com mais força é a coragem de olharmos para nós mesmos e iluminarmos nossas sombras. Após negar Jesus, Pedro recebeu o olhar dele e, então, como que caindo em si, chorou amargamente (Lc 22, 61-62).
Que o Espírito nos ajude a olharmos para nós mesmos e nos conhecer, mesmo que doa, mesmo que tenhamos de chorar amargamente. O olhar de Jesus estará nos acompanhando.
Por fim, a disponibilidade. Lembrei-me da parábola do semeador. Jesus, explicando a parábola, compara as sementes sufocadas pelos espinhos àqueles que “ouviram a Palavra, mas os cuidados do mundo, a sedução das riquezas e as ambições de outras coisas os penetram, sufocam a Palavra e a tornam infrutífera” (Mc 4, 19). Os apóstolos foram soltos pelo anjo e obedeceram imediatamente a sua ordem de irem para o templo pregar. Estavam disponíveis para obedecer a Deus.
Que o Espírito Santo nos dê o conhecimento da vontade de Deus, a fortaleza que nos encoraja a obedecê-la e nos livre de cairmos na tentação de cuidarmos apenas de nós mesmos. Amém!
***
João Batista Pereira Ferreira – Família Missionária Verbum Dei – Belo Horizonte